segunda-feira, 17 de março de 2008

OS HUMANOS, O “FRITZ” E AS CÉLULAS EMBRIONÁRIAS

COAST TO COAST


OS HUMANOS, O “FRITZ” E AS CÉLULAS EMBRIONÁRIAS

“A divulgação hoje deste, no meu entendimento; magnífico artigo, de Walter Galvão, prende-se com um assunto que por certo vai ser discutido muito brevemente em Portugal, e espero que com igual calor e aprofundado debate, ao que está neste momento, já a acontecer no Brasil.
Daí a importância de uma pré-abordagem do referido assunto, para que se comece desde já a formar opinião sobre o mesmo.
Eu pessoalmente, desde há muito tempo que tenho uma idéia clara, uma opinião já formada sobre o assunto:
Sou frontal e militantemente favorável á pesquisa e utilização de células de embriões humanos, tanto no tratamento clinico e cirúrgico, como na pesquisa cientifica de novas saídas para a ciência. Manifesto, no entanto, muitas e sérias reservas em relação á clonagem humana.
Mas sei que o assunto na sua globalidade, é sem duvida polemico, sobretudo para algumas almas mais conservadoras, sobretudo, almas oriundas da Igreja Católica, sempre tão avançada em combater a evolução da ciência, mesmo desde os tempos da Terra Redonda e dos seus Movimentos de rotação do Galileu.
Por outro lado, precisamente, a Igreja Católica, e outros movimentos profundamente conservadores, vivem hoje, um movimento de rotação no eixo das suas ideologias, com um claro retrocesso nas suas idéias, graças ao pensamento ‘tacanho’ no meu entendimento, do Papa “Fritz” que; pretende transformar a Igreja Católica, á imagem do Século XVII, ou mesmo a tristes imagens anteriores.
Uma pergunta que desde já lanço, e deixo no ar, é:
Como se pode falar de vida, como se pode apelas á vida, e ao sentido pleno da vida, e ao mesmo tempo ser ser tão cínico que se combata precisamente algo que é uma arma da, e para a, vida, como o são as pesquisas sobre a correta utilização das: Células Tronco Embrionárias?
Daí que, mesmo assim, e sobretudo; por isso mesmo, por não ter medo de ser excomungado..., eu não tenha qualquer receio de lançar o debate, sobre este e outros importantes assuntos, como alias já o havia feito neste caso particular, á algum tempo atrás, e vou continuar a defender sem limites o seu continuado debate.
É um assunto da máxima importância para as gerações atuais e mais ainda para as futuras gerações, e que tal como outros importantes assuntos da sociedade atual, sem duvida merece desta forma a nossa maior atenção. E não simplesmente o abanar a cabeça, e enterrar a mesma no areal de uma qual quer praia da ‘Costa Atlântica’.
Este assunto; utilização de Células Tronco Embrionárias, encontra-se situado no mesmo patamar de temas tão atuais como; o Aborto ou a Eutanásia, e que vão por certo merecer brevemente; tratamentos muito personalizados, com amplos debates na sociedade nacional e internacional. Sim porque o debate em relação; ao Aborto não está de forma alguma encerrado.
E os debates públicos internacionais, sobre: Eutanásia, e as condições em que deve, e pode ser praticada, ainda agora estão no seu inicio.
Da mesma forma o debate internacional sobre a devida utilização das; Células Tronco Embrionárias, é hoje algo quase tão importante como o foram os debates sobre a teoria da Relatividade, ou o real mapeamento do Mundo”.
Agora, no século XXI, estamos a discutir o real mapeamento da vida humana, e das suas potencialidades e limites.
‘João Massapina’

CÉLULAS EMBRIONÁRIAS

Cresce a expectativa no Brasil relativa ao julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de suposta inconstitucionalidade do artigo 5º da lei de Biossegurança que permite a pesquisa médica com células de embriões humanos.
O uso das Células Tronco Embrionárias pelos pesquisadores é positivo porque consolidará avanços científicos que visam â preservação da vida. Eis os sentimentos da pesquisa: conservação, preservação, fortalecimento, expansão da vida a partir do encontro de dois gametas, masculino e feminino. O óvulo fecundado não é uma pessoa. A consciência requer cérebro e os cinco sentidos, pelo menos um. A cultura carece do contexto da linguagem, do sonho, do desejo. O espírito necessita do sopro contextual dos afetos relacionados às paixões e aos saberes. A alma transcende o humano. O óvulo fecundado é matéria. É estrela. É necessário, portanto, o uso das células porque eliminará gastos de milhões de toda a sociedade com doenças que poderão ser superadas a partir dessa utilização. É imperativo este avanço cientifico - tecnológico respaldado legalmente devido à necessidade que tem o Brasil de integrar a comunidade internacional que já progrediu nessa área dos estudos biológicos e genéticos. É moralmente justa a utilização porque poupará pessoas de sofrimentos que persistem ante a atual impossibilidade de cura de muitas doenças. É ético o uso dessas células embrionárias porque a lei que o aprova no Brasil determina que elas só poderão ser manipuladas mediante autorização dos doadores. É também espiritual e religiosamente compatível com necessidades culturais da sociedade como a nossa que se estruturaram à luz... ou á sombra do cristianismo, principalmente por contemplar o principio do livre arbítrio. Superficialmente, livre arbítrio para o cristianismo: o direito a uma escolha. Tem mais: escolha com o sentido da graça.
Pensamos ainda na religião quando consideramos positivo o artigo 5º da lei da Biossegurança, ou mais precisamente na religiosidade cósmica tantas vezes referida por Einstein, cientista que teve a teoria da relatividade por ele formalizada, acusada de ser contra Deus.
Eis o que disse, no inicio dos anos 1920 do século passado o cardeal O’Conell, de Boston (EUA, o ser-lhe perguntado sobre a relatividade:
“Esta teoria encobre com um manto o horrível fantasma do ateísmo, e obscurece especulações, produzindo uma duvida universal sobre Deus e sua criação”.
Resposta de Einstein:
“Minha religiosidade consiste em uma humilde admiração pelo espírito infinitamente superior que se revela no pouco que nós, com nossa fraca e transitória compreensão, podemos entender da realidade”.
É justo que se queira julgar inconstitucional a lei da Biossegurança em nome de princípios religiosos contra interesses legítimos da cidadania no âmbito do Estado contemporâneo que há muito se libertou da tutela das igrejas? E as esperanças dos que estão condenados e que poderão ser salvos pelo uso das células embrionárias? No merecem a condescendência dos radicais religiosos? Os católicos só consideram cristão aquele que é batizado. Os protestantes guiam-se pelo determinismo negando Deus aos que escolhem o ateísmo. Mas seria a benevolência de Deus cega ante esta opção?
Qual é a religião de homens contraditórios e egoístas capaz de falar em nome de Deus?
O embate relativo ao uso legal de células tronco embrionárias com fins terapêuticos instala a sociedade brasileira mais uma vez na fronteira entre o arcaico e o moderno. E é desolador eu tenhamos que vivenciar a violência das paixões desencadeada por convicções cristalizadas. À esquerda e à direita, entre ateus e crentes, entre cronópios e famas. Paixões que discriminam e enquadram, que rejeitam e julgam, que condenam e tipificam: pessoas, atitudes, tradições, leis, sentimentos e conquistas históricas dos grupos sociais em atrito para o salto qualitativo sobre obscurantismos que produzem ignorância, xenofobia, violência, pobreza, cadáveres.
Ao mesmo tempo devemos reconhecer que é estimulante discutir limites, possibilidades e mutações dos usos da razão, da sensibilidade, da intuição e da inteligência, da lógica, da ciência, da religião. Usos para preservação da vida, fortalecimento da linguagem, para a manutenção da espécie, para a definição do que queremos para o nosso passado e; também para o nosso futuro e o presente do que somos. Sim, não podemos esquecer que o nosso passado também esta presente ao nosso agora e será transformado em nosso futuro. Nossas ações de hoje e de amanhã qualificarão a representatividade do que fizemos e do que somos em diversos tempos e sentidos. A rede lógica das hereditariedades que a busca por uso de células-troco embrionárias tenta preservar é tecida na convergência do que somos enquanto memória, cultura, individuo e grupo. A decifração do genoma humano mudou o curso da civilização.
Dissemos fronteira do arcaico no sentido de um tempo em que muitas das possibilidades de ampliação dos níveis de qualidade de vida das populações eram ou são ignoradas ou combatidas. É obvio, sem sombra de duvida, inquestionavelmente, que estamos falando sob a perspectiva da sociedade ocidental. Do nosso modo de produção de riquezas, conhecimentos, ciência, tecnologia, arte... Da nossa forma de perceber, conceber e construir a realidade “concreta” aquela fruto das ações em todos os campos: do trabalho, da ciência, da política, da nossa subjetividade e dos pactos coletivos que impulsionam a espiral da historia da qual somos frutos, sujeitos e objetos. Assim, para nós seriam arcaicos os sacrifícios humanos às divindades entre gregos, indianos, nórdicos, maias, astecas... Também para nós, arcaicas eram as cartas celestes que indicavam ser a Terra o centro do universo.
Neste sentido, não se trata de qualificar simplesmente de melhor ou pior outras formas de pensar, mas de estabelecer um campo de argumentação critica a partir de um determinado conjunto de valores. E de estabelecer também um sentido de desenvolvimento social. Sob nossos valores, moderno, portanto, em oposição ao arcaico, foi considerar o heliocentrismo uma verdade cientifica. Foi essa consciência um desenvolvimento social. Temos aqui uma dificuldade conceitual: o pensamento critico no âmbito das antropologias identifica no termo “desenvolvimento” também uma característica especifica do modo histórico ocidental. Neste modo histórico, o capitalismo tem sido o motor desse desenvolvimento que impôs aos povos colonizados não capitalistas uma barbárie que é puro crime. Uma barbárie simbólica que se repete entre os próprios grupos capitalistas no âmago do apogeu do capitalismo. Ou seja: nós, hoje, discutindo sim ou não ao uso das células- tronco. Ambas as posições são historicamente importantes e necessárias. Simbolizam o relógio da historia. Quando o desenvolvimento decide por mais uma descontinuidade cultural que é esse avançar rumo à fabricação da vida está pensando na sua própria sobrevivência. Ou no desenvolvimento da civilização. Aos socialistas cumpre aceitar esse movimento que dialeticamente poderá resultar em avanço contra o capitalismo. Aos religiosos que vêem a pessoa no óvulo fecundado resta a saída da resistência imobilista. Ao Estado brasileiro cumpre avançar desbravando o território da cidadania. Doação de células embrionárias: É um direito de todos.

‘Walter Galvão’

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