quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Escassez e excesso

Agência FAPESP – As áreas utilizadas para cultivo agrícola em todo o mundo contêm fertilizantes demais – ou de menos. E os dois extremos implicam elevados custos tanto para o ambiente como para o próprio homem.
Os fertilizantes sintéticos aumentaram enormemente a produção de alimentos, mas o custo da poluição gerada pelo uso desenfreado tem sido cada vez maior – como a criação de zonas mortas, impraticáveis para o cultivo, em áreas costeiras no Golfo do México e em outros locais. De outro lado, muitas áreas precisam de um uso mais intensivo desses reforços químicos, para repor os nutrientes perdidos por conta da agricultura.
A situação paradoxal é destaque em um artigo publicado na edição da revista Science, escrito por um grupo internacional de pesquisadores, entre eles o professor Luiz Antonio Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo, um dos coordenadores da área de biologia da FAPESP.
Os pesquisadores analisaram o cultivo de milho em três diferentes países e contextos: Quênia, China e Estados Unidos. Nas pequenas plantações no país africano, solos antes férteis estão se empobrecendo à medida que os cultivos removem mais nutrientes do que os adicionados pelos esforços de fertilização.
No país mais populoso do planeta, campos são fertilizados de modo mais intenso do que em qualquer outro cenário, atual ou anterior, que tem levado o excesso de fertilizantes para o ambiente, degradando a qualidade da água e do ar, em grande problema ambiental.
O terceiro contexto analisado está no meio-oeste dos Estados Unidos, no qual a quantia de fertilizante empregada na agricultura de milho (em rodízio com a soja) era elevada, mas tem sido reduzida desde a década de 1990.
Os impactos negativos ao ambiente da utilização desenfreada de fertilizantes químicos têm levado muitos especialistas a defender uma drástica redução nesse uso, mas os autores do novo estudo apontam o problema de se adotar uma medida como essa, única, para todos os contextos agrícolas.
Enquanto algumas regiões usam fertilizantes demais, com sérios impactos ambientais, em outras, como na África subsaariana, onde mais de 250 milhões de pessoas estão insuficientemente nutridas, as quantidades adicionadas de nitrogênio, fósforo e de outros produtos são insuficientes para manter a fertilidade mínima do solo.
Na China, onde a fabricação de fertilizantes é subsidiada pelo governo, a produtividade média por hectare aumentou 98% entre 1977 e 2005. O motivo é o uso de reforços como o nitrogênio, cujo uso cresceu 271% no período. “As adições de nutrientes superou em muito as verificadas nos Estados Unidos e no oeste da Europa e grande parte da fertilização excessiva se perde no ambiente, degradando tanto a qualidade do ar como da água”, destacam os autores.
O artigo aponta que agricultores no norte da China usam em média 588 quilos de fertilizantes à base de nitrogênio por hectare cultivado, resultando em uma liberação de 227 gramas de excesso do elemento químico no ambiente. Segundo os pesquisadores, o uso poderia ser cortado pela metade sem perda na produtividade.
No outro extremo estão os países mais pobres do mundo. No Quênia, por exemplo, os agricultores usam em média 7 quilos de fertilizantes à base de nitrogênio por hectare. Muito pouco para repor os cerca de 52 quilos de nitrogênio por hectare que são perdidos anualmente pelas culturas agrícolas.
A diminuição é possível, como verificada nos Estados Unidos, onde o superuso de fertilizantes era a norma entre as décadas de 1970 e 1990. No período, toneladas de nitrogênio em excesso foram parar no Golfo do México, levadas pelo rio Mississipi, formando zonas mortas com quantidades ínfimas de oxigênio.
Desde a década de 1990, entretanto, o uso tem sido reduzido, mas sem impactar a produtividade, devido ao uso de melhores técnicas agrícolas. Mesmo usando seis vezes menos fertilizantes do que os chineses, os agricultores no meio-oeste norte-americano conseguem produtividade semelhante.

Desafio e oportunidade

O Brasil está no meio dos extremos. As áreas cultiváveis não estão sendo nutridas de modo insuficiente e o uso de fertilizantes, em geral, está longe do cenário dramático encontrado na China. Para Martinelli, que também é professor visitante da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, o Brasil está em um momento crucial em relação ao problema, e precisa saber equilibrar corretamente o desenvolvimento agrícola com a proteção ambiental.
Martinelli acaba de produzir um artigo junto com Solange Filoso, do Centro de Ciência Ambiental da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, ainda não publicado, no qual descreve a transformação da agricultura brasileira nas últimas décadas e ressalta a importância de se preservar um de seus bens mais valiosos.
“No futuro próximo, o Brasil poderá se tornar um dos primeiros países a atingir um estágio satisfatório de desenvolvimento ao mesmo tempo em que preserva a sua fenomenal biodiversidade e seus importantes ecossistemas”, destacam os autores no artigo encaminhado por Martinelli à Agência FAPESP.
O artigo apresenta diversos números sobre a evolução da produção agrícola no país. Entre 1961 e 2007, a área plantada com soja cresceu quase 8.000% e a produtividade, mais de 20.000%. A área com milho cresceu menos, dobrando no mesmo período, mas a produtividade aumentou em cinco vezes.
Apenas nos últimos dois anos, por conta da adoção em massa de biocombustíveis, a área plantada com cana-de-açúcar passou de 6 milhões para 9 milhões de hectares. A pecuária continua com o maior uso da terra: cerca de 200 milhões de hectares.
Por outro lado, a área desflorestada na Amazônia aumentou em mais de 400% desde a década de 1970, passando dos 70 milhões de hectares em 2007.
O uso de fertilizantes aumentou grandemente desde a década de 1960: potássio (6.000%), nitrogênio (4.000%) e fósforo (2.500%). Apesar de elevados, os números resultaram em uso ainda muito inferior ao verificado nos países desenvolvidos – e muito abaixo dos valores chineses.
Mas Luiz Martinelli e Solange Filoso apontam que o cenário brasileiro pode piorar rapidamente, especialmente se o país continuar no ritmo atual de desflorestamento.
“Apesar dos avanços econômicos, é fundamental que entendamos que a fronteira agrícola brasileira não pode avançar indefinitivamente. A expansão contínua colocará em risco não apenas a megabiodiversidade da flora e da fauna brasileiras como as funções vitais que os ecossistemas fornecem para sustentar os sistemas agrícolas”, apontam.
Eles destacam a urgência de que os tomadores de decisão e a sociedade compreendam os limites dos ecossistemas e que, se isso ocorrer, há uma boa chance de o Brasil continuar a se desenvolver mantendo a sua biodiversidade, que poderá vir a ser, no futuro, um bem ainda mais valioso do que é hoje. “Devemos agir agora, não amanhã, porque poucos países desenvolvidos tiveram oportunidade como essa”, afirmam.
Os autores apontam ainda a estreita inter-relação entre os ecossistemas e os sistemas agropecuários em todo o mundo. “Podemos dizer, por exemplo, que um porco na China, alimentado com soja brasileira, depende da água da Amazônia”, apontam, lembrando que, de acordo com diferentes modelos climáticos, se o desflorestamento na região amazônica atingir um ponto crítico, haverá uma queda significativa na produção de chuva em outras partes do país.
O artigo Nutrient imbalances in agricultural development, de Luiz A. Martinelli e outros, pode ser lido em www.sciencemag.org.

Erupções provocaram extinção

Agência FAPESP – Um estudo publicado no Journal of the Geological Society apontou que a queda do asteroide há 65 milhões de anos que formou a cratera de Chicxulub, no México, não levou à extinção em massa no fim do Cretáceo, quando desapareceu uma enorme quantidade de espécies de plantas e animais, entre os quais os dinossauros.
Os autores sugeriram que a extinção poderia ter sido causada por erupções vulcânicas massivas ocorridas na atual Índia. Podem estar certos. Uma nova pesquisa, publicada na nova edição da revista Science, indica que erupções vulcânicas até então desconhecidas provocaram a extinção em massa ocorrida há 260 milhões de anos.
O trabalho, feito por cientistas britânicos e chineses, identificou registros do evento na província de Emeishan, no sudoeste da China. As erupções teriam liberado em torno de meio milhão de quilômetros cúbicos de lava, cobrindo uma área duas vezes maior do que a do Estado do Rio de Janeiro.
O grupo foi capaz de descobrir quando exatamente as erupções ocorreram e relacioná-las diretamente com a extinção. Encontrar tais registros é algo completamente inusitado, devido às transformações físicas ocorridas no planeta em tão longo período.
O motivo da descoberta é que as erupções em Emeishan ocorreram próximas a mar raso, o que fez com que a lava se mostrasse hoje como uma camada distinta de rochas ígneas ensanduichada entre camadas de rochas sedimentares que contêm fósseis marinhos.
A camada de rocha fossilizada diretamente após a erupção mostra a extinção em massa de diferentes formas de vida, ligando a emissão vulcânica com a catástrofe ambiental.
O efeito global da erupção, de acordo com os pesquisadores, deveu-se à proximidade do vulcão com o mar raso. A colisão da lava com a água teria provocado uma explosão violenta no início das erupções, arremessando enormes quantidades de dióxido de enxofre na estratosfera.
“É como jogar água em uma frigideira quente. Houve uma explosão espetacular que produziu nuvens de vapor gigantescas”, disse Paul Wignall, professor da Universidade de Leeds, no Reino Unido, principal autor estudo.
A injeção de dióxido de enxofre na atmosfera teria levado à formação de grandes nuvens que se espalharam pelo mundo, esfriando a temperatura global e promovendo chuva ácida. A análise dos registros fósseis indicou que o desastre ambiental teria começado logo após a primeira erupção.
“A extinção abrupta da vida que pudemos constatar no registro fóssil liga fortemente as erupções vulcânicas com a catástrofe ambiental global, uma relação que sempre foi considerada controversa”, afirmou Wignall.
O artigo Volcanism, mass extinction, and carbon isotope fluctuations in the Middle Permian of China, de Paul Wignall e outros, pode ser lido na Science em www.sciencemag.org.

Doença da pobreza

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Melhorar a infra-estrutura sanitária não basta para controlar a leptospirose numa favela. É preciso também melhorar a condição socioeconômica dos moradores, cuja variação acompanha o risco de infecção.
Essa é a principal conclusão de um estudo realizado numa comunidade carente de Salvador por pesquisadores do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (CPqGM), um dos institutos da Fundação Oswaldo Cruz, na capital baiana. Os resultados foram publicados na revista de acesso aberto PLoS Neglected Tropical Diseases.
Os pesquisadores entrevistaram mais de 3 mil moradores da comunidade de Pau da Lima, em Salvador, e utilizaram modelos matemáticos para avaliar a associação entre fatores ambientais, indicadores socioeconômicos e a presença de anticorpos contra Leptospira nessa população.
De acordo com o autor principal do trabalho, Albert Icksang Ko, professor de Medicina da Universidade de Cornell (Estados Unidos) e pesquisador visitante do Laboratório de Patologia e Biologia Molecular do CPqGM, o estudo mostrou que mais de 15% dos moradores já haviam sido infectados alguma vez pela doença.
"Além de identificar fatores de risco ambientais, como a falta de saneamento básico, o estudo mostrou que o nível de pobreza está fortemente ligado à prevalência da doença. Concluímos que o risco de infecção diminui em 11% a cada dólar a mais por dia acrescentado à renda familiar per capita", disse Ko à Agência FAPESP.
O pesquisador explicou que, embora as deficiências na infra-estrutura sanitária tenham se mostrado uma fonte de transmissão de leptospirose, quando esses fatores ambientais foram controlados as diferenças socioeconômicas contribuíram para o risco de infecção.
"Identificamos fatores ambientais de risco, como morar perto do esgoto a céu aberto, em locais onde há lixo exposto e em fundos de vale com risco de alagamento. Mas, entre os moradores nessas condições, as diferenças socioeconômicas se apresentaram como um fator de risco independente", afirmou.
De acordo com Ko, existem mais de 10 mil casos de leptospirose registrados no Brasil – a maioria deles em populações carentes dos grandes centros urbanos. O pesquisador afirma que mais de 25% da população brasileira mora em favelas. A proporção chega a 60% em Salvador.
"O problema é grave se pensarmos numa projeção epidemiológica. No mundo todo, temos 1 bilhão de moradores de favelas. Esse número deverá dobrar nos próximos 20 anos. Por isso é importante identificar com precisão os fatores de risco de infecção", afirmou.


Participação da comunidade
Segundo Ko, o estudo foi realizado com recursos do Ministério da Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos, por meio da Universidade de Cornell.
O estudo se baseou num um inquérito realizado com 3.171 residentes da comunidade, utilizando anticorpos aglutinantes contra Leptospira como um marcador de infecção prévia. Os dados sobre condições ambientais foram obtidos pelo Sistema de Informação Geográfica (GIS).
"Utilizamos o modelo de regressão de Poisson para avaliar a associação entre a presença dos anticorpos e atributos ambientais, indicadores socioeconômicos e exposições de risco individuais."
De acordo com o pesquisador, a participação de líderes comunitários e das associações de moradores foi imprescindível para a realização do trabalho. "A comunidade foi o sujeito da pesquisa e colaborou muito para a obtenção dos dados e realização das entrevistas. A partir daí, utilizando o GIS, uma equipe de geógrafos criou os mapas que identificaram o impacto de cada um dos fatores ambientais e socioeconômicos", explicou.
O estudo, de acordo com o pesquisador, contribui para incentivar o poder público a tomar medidas que possam diminuir os casos de infecção por Leptospira. "A leptospirose é uma doença de alto impacto econômico para o sistema público de saúde. Ela é associada a uma falência renal aguda, matando mais de 15% dos infectados que são hospitalizados", disse.
O artigo Impact of environment and social gradient on Leptospira infection in urban slums, de Albert I. Ko e outros, pode ser lido em www.plosntds.org.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Processador de alimentos de 100 mil anos

Agência FAPESP – Há mais de 100 mil anos o homem já processava grãos e consumia cereais. A conclusão é de um estudo publicado na edição na revista Science, de autoria de um pesquisador canadense.
Julio Mercader, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Calgary, descobriu resíduos de sorgo em ferramentas feitas de pedra em uma caverna em Moçambique. O achado indica a utilização de grãos em um momento em que se achava que os humanos baseavam a agricultura em itens mais facilmente cultiváveis, como frutas.
Trata-se da mais antiga utilização extensiva de cereais na dieta de que se tem notícia. Dezenas de ferramentas de pedra foram encontradas em uma caverna profunda e apontam que o sorgo selvagem, antecessor do principal grão consumido atualmente na África subsaariana em farinhas, pães e bebidas alcoólicas, fazia parte da dispensa dos primeiros Homo sapiens.
O estudo apresenta a primeira evidência direta do uso de cereais pré-domesticados no mundo. “Os resultados expandem a linha do tempo para o uso de sementes de gramíneas pela nossa espécie e são prova de uma dieta ampla e sofisticada em um momento muito anterior ao que se estimava”, disse Mercader.
“Isso ocorreu durante o Paleolítico Médio, em um momento no qual a coleta de grãos selvagens era vista convencionalmente como uma atividade irrelevante e não tão importante como a coleta de raízes ou frutos”, afirmou.
Em 2007, o pesquisador canadense e colegas da Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, escavaram uma caverna sedimentária próxima ao lago Niassa, que foi usada por indivíduos que coletavam alimentos durante mais de 60 mil anos.
No fundo da caverna os cientistas descobriram as ferramentas feitas de pedra, ao lado de ossos de animais e de resíduos de vegetais, indicando práticas dietéticas pré-históricas. Em seguida, descobriram dezenas de milhares de grãos de amido, indicando que o sorgo selvagem era trazido e processado sistematicamente no local.
“Há hipóteses de que o uso de amido representa um passo fundamental na evolução humana ao melhorar a qualidade da dieta nas savanas e matas africanas, onde as primeiras linhagens humanas evoluíram. Essa nossa descoberta pode ser considerada um dos primeiros exemplos dessa transformação na dieta humana”, disse Mercader.
“A inclusão de cereais em nossa dieta é um passo importante na evolução por causa da complexidade técnica e da manipulação culinária que são exigidas para transformar grãos em artigos para consumo”, destacou.
O artigo Mozambican grass seed consumption during the middle stone age, de Julio Mercader, pode ser lido na Science em http://www.sciencemag.org/cgi/content/abstract/sci;326/5960/1680

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Vibração medida a laser

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Óptica do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desenvolveu um novo método para a medição de vibrações mecânicas que poderá ser utilizado pela indústria, sobretudo a automobilística e a aeronáutica.
A técnica, que segundo o coordenador do estudo Jaime Frejlich, pesquisador no laboratório e professor do Departamento de Física da Matéria Condensada do IFGW, “utiliza o efeito da força eletromotriz gerada pela luz de um laser sobre um material fotorrefrativo”, é constituída basicamente de um laser para fazer “contato remoto” com o alvo a se medir, um cristal fotorrefrativo que funciona como sensor e outros componentes eletrônicos.
Sem precisar utilizar qualquer tipo de contato físico, o novo método funciona pela emissão de um feixe de laser que atinge a peça analisada, que em seguida devolve a luz sobre o cristal fotorrefrativo, gerando um sinal elétrico utilizado para determinar a frequência da vibração.
“Os cristais fotorrefrativos são fotocondutores e eletro-ópticos. Por serem fotocondutores eles conduzem eletricidade sob a ação da luz e, por serem eletro-ópticos, sob a ação de um campo elétrico eles mudam o índice de refração”, disse Frejlich à Agência FAPESP.
Para o caso específico do novo método desenvolvido, foi utilizada apenas a propriedade fotocondutora do cristal, que emprega a luz laser para provocar o movimento de cargas elétricas no interior do material.
“Ao jogar um feixe de luz sobre o objeto analisado, ele reflete uma luz de aspecto granulado, conhecida como speckle, que ilumina o cristal fotorrefrativo. O movimento do objeto produz o movimento do speckle sobre o cristal, que gera cargas elétricas que se movem sincronicamente com o padrão de luz e, em decorrência disso, se gera um sinal elétrico alternado que serve de base para o cálculo da amplitude de oscilação do objeto”, explicou.
“Em resumo, o cristal recebe a luz refletida pelo objeto. Se for opaco, por exemplo, é preciso pintá-lo com uma tinta retrorrefletiva. Mas, normalmente, a maior parte das superfícies, sobretudo as metálicas, reflete muito bem o raio laser”, disse.
Segundo Frejlich, o instrumento é muito simples, mas a interpretação e o processamento dos sinais elétricos são bastante complexos, e por isso foi necessário desenvolver um modelo teórico próprio, que teve seus modelos matemáticos aperfeiçoados no Laboratório de Óptica do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) e cuja descrição está no artigo “Photo-electromotive-force from volume speckle pattern vibration with large amplitude”, publicado em 2008 no Journal of Applied Physics.
Os experimentos de validação em laboratório foram aprovados e comprovaram a eficácia da técnica. “Agora, estamos tentando definir qual é o melhor tipo de cristal fotorrefrativo, o melhor comprimento de onda, o melhor laser e a melhor técnica de processamento de dados para, em uma fase posterior do estudo, desenvolver um instrumento prático de interesse tecnológico para medição de vibrações”, disse.
O método foi desenvolvido como um dos desdobramentos do trabalho de doutoramento de Tatiane Oliveira dos Santos, com bolsa da FAPESP, intitulado “Novos materiais fotorrefrativos: propriedades ópticas e elétricas”.
O estudo é ainda um dos resultados do Projeto Temático “Materiais fotossensíveis”, também apoiado pela FAPESP e coordenado pelo professor Frejlich.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Ferramentas moleculares

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A aplicação de ferramentas moleculares baseadas em DNA não se limita às pesquisas genéticas: essas novas técnicas ganham cada vez mais importância para abordar também questões em ecologia e demografia, de acordo com Eduardo Eizirik, professor do Centro de Biologia Genômica e Molecular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Eizirik apresentou a palestra “O uso de ferramentas moleculares em estudos ecológicos”, durante o Workshop Internacional em Ecologia Aplicada e Dimensões Humanas em Conservação Biológica.
O cientista relatou diversos casos em que novas ferramentas moleculares foram utilizadas para inventariar e reconhecer a distribuição geográfica e a composição genética de uma comunidade de animais, por exemplo.
“Sem necessidade de capturar espécimes, os estudos feitos com essas técnicas permitiram levantar dados detalhados sobre a história das espécies, sua filogeografia, a estrutura populacional e a história demográfica das populações”, disse à Agência FAPESP após a palestra.
Com o uso de ferramentas moleculares, as amostras de DNA estudadas podem ser extraídas das fezes dos animais. “É uma abordagem não-invasiva que pode ser aplicada em muitos casos para os quais seria demasiadamente difícil obter amostras de outra forma”, afirmou.
As técnicas possibilitam também trabalhar com ecologia comportamental, estruturas sociais, padrões de dispersão e análises forenses – isto é, identificar a procedência geográfica de um animal, por exemplo, para fins de controle de caça. Os marcadores genéticos permitem determinar se um animal descende de um grupo de animais em cativeiro ou não.
“Alguns cientistas estão começando a trabalhar melhor com essas ferramentas moleculares para estudar adaptação e seleção natural. A partir de sequências genômicas de populações naturais é possível estudar os efeitos de diferentes processos evolutivos e como eles afetam a adaptação fenotípica das espécies ao longo do tempo”, apontou.
As técnicas moleculares iniciais, com base em proteínas, tiveram origem na década de 1960. Mas essas ferramentas ganharam impulso de fato com o advento das técnicas baseadas em DNA, nos anos 1980. “A maior parte dessas técnicas que utilizamos, portanto, foram inventadas a partir das décadas de 1980 e 1990, mas agora elas estão se tornando muito mais exequíveis e baratas”, contou.
Apesar da diminuição do custo – com empresas produzindo kits e reagentes em maior escala –, ainda é preciso fazer investimentos elevados para trabalhar com tais técnicas.
“A perspectiva é que esses valores caiam bastante. Com isso, teremos acesso a informações em nível genômico, com técnicas disponíveis mas ainda muito caras para uso em animais. Essas técnicas levarão à geração de dados em escala genômica de indivíduos, comunidades inteiras ou populações”, explicou.
Segundo Eizirik, além do custo, um dos principais obstáculos para o uso das ferramentas moleculares é a qualidade das amostragens. “A maioria das espécies do mundo precisa de amostragens melhores. Por outro lado, é muito mais fácil conseguir amostras para esse tipo de técnica do que capturar ou observar diretamente todos os animais. Essas ferramentas permitem que se obtenha informações que até agora eram inacessíveis”, disse.

Seleção randômica
As técnicas moleculares, segundo o professor da PUC-RS, trarão uma compreensão muito melhor da biodiversidade, revelando quais espécies estão presentes em cada ambiente, qual a dinâmica desses organismos nos ambientes ao longo do tempo e do espaço e qual a história evolutiva dos organismos.
Um dos estudos apresentados por ele mostra a aplicação das ferramentas moleculares em três diferentes populações de onças-pintadas fixadas em diferentes fragmentos florestais. Os fragmentos eram isolados por matrizes antropizadas – áreas com alto impacto de atividades humanas. A hipótese dos pesquisadores era de que essas matrizes eram impermeáveis para as onças.
“A aplicação das ferramentas moleculares ajudou a reforçar a hipótese de que as onças, ao contrário de outros animais, não conseguem atravessar a matriz antropizada. O estudo evidenciou que as populações em cada fragmento estão ficando geneticamente distintas, possivelmente em consequência da ação humana”, disse.
Segundo Eizirik, a distinção encontrada entre as populações de cada fragmento ocorre, possivelmente, por deriva genética. “Isso é uma inferência – não podemos demonstrar esse fato experimentalmente –, mas os dados genéticos e os dados de campo dos nossos colaboradores sugerem que é o que está acontecendo. Essas populações eram contínuas no passado e, atualmente, o que temos é uma separação geográfica e demográfica que leva a uma diferenciação genética”, indicou.
Com base no que se conhece de outras regiões e populações de cativeiro, populações isoladas em fragmentos de pequenas dimensões estão sujeitas à perda de variabilidade genética por conta do endocruzamento (reprodução com parentes), da perda de várias características adaptativas (como fecundidade e sobrevivência infantil) e da diminuição da capacidade a responder a mudanças ambientais.
“Se tiverem menos variabilidade genética e menos contato com outras populações, provavelmente essas onças vão responder menos a mudanças ambientais. Isso é uma hipótese. Mas se o processo de diferenciação por deriva genética estiver realmente ocorrendo, temos um cenário grave”, disse.
A deriva genética, segundo Eizirik, é desvantajosa por não ser um processo adaptativo, mas um processo randômico: os alelos que vão sendo perdidos e fixados não são necessariamente os melhores para os indivíduos, mas são alelos que vão ficando fixados ao acaso nas populações.
“Isso é grave, porque a seleção natural, que deveria favorecer a fixação de alelos melhores, está perdendo terreno para uma força randômica que é a deriva genética”, afirmou.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Carta Aberta ao Bastonário da Ordem dos Advogados – uma polemica sem fim...

Exmo. Senhor
Dr. António Marinho e Pinto,
Mui Ilustre Bastonário
e Presidente do Conselho Geral
da Ordem dos Advogados:

Tomo a liberdade de me dirigir a V. Exa. por esta via também pública depois de, ontem à noite, ter visto na TV a sua pessoa, nessa mesma veste, a fazer coro com um famoso advogado evadido à justiça portuguesa nas críticas que este faz aos tribunais nacionais onde, alegadamente, «não se respeitam os direitos humanos», sendo disso exemplo destacado o ter sido ele julgado, depreendi que apenas na 1.ª instância, por um juiz «do Benfica» seu rival.

Neste contexto, por conseguinte, de defesa pessoal exigente dos valores da democracia no campo da justiça pátria, sinto-me compelido a formular directamente a V. Exa. dois pedidos, decorrentes da minha condição de advogado português residente e, mais, injustiçado aqui titanicamente resistente:

primo - Como é geralmente sabido, o Estado português continua a ignorar, dir-se-á que paralimpicamente, a condenação que lhe foi sentenciada pelo Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em Decisão de 28-III-2006 (Documento oficial da ONU, Ref.ª CCPR/C/86/D/1123/2002), no Processo n.º 1123/2002 (de que sou autor), consistindo uma das injunções decretadas, justamente, na publicitação oficial interna da própria decisão condenatória (peço licença para transcrever aqui, do original francês, essa parte, sem embargo de juntar em anexo cópia fac-similar de todo o documento: «En vertu du paragraphe 3 a) de l'article 2 du Pacte, le Comité considère que l'auteur a droit à un recours utile. L'État partie devrait modifier sa législation afin de s'assurer de sa conformité avec l'article 14, paragraphe 3 d), du Pacte. Aussi, le Comité souhaite-t-il recevoir de l'État partie, dans les 90 jours suivant la transmission des présentes constatations, des informations sur les mesures qu'il aura prises pour leur donner suite. L'État partie est également prié de rendre publiques les constatations du Comité.»).

- - Assim, sabendo-se ademais que entretanto o Código de Processo Penal foi alterado, sim, mas em sentido diametralmente oposto (!) ao desta decisão memorável, o pedido é: quererá V. Exa. fazer à cidadania pátria a justiça mínima de tornar finalmente pública, no sítio da Ordem e, bem assim, no seu órgão oficial, a decisão do Comité dos Direitos Humanos em causa?


secundo - Como V. Exa. bem saberá, deu em 8 de Maio transacto entrada nesse Conselho, também por e-mail, um requerimento meu nos trâmites do Proc. n.º 948/07 do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga, no qual -- reiterando que uma invocada deliberação de suspensão da minha inscrição por um anterior Bastonário tem a sua eficácia suspensa por Acórdão de 24-V-2001 do Tribunal Central Administrativo e, portanto, não pode ser ‘ressuscitada’ por ofício do secretário do Conselho Geral – a final solicito «se digne, com elevado grau de precedência, examinar judiciosamente a situação anómala exposta em ordem ao seu saneamento urgente, (…) para que dúvidas nenhumas restem, em definitivo, a quem quer que seja, de que um acórdão do Tribunal Central Administrativo e, bem assim, uma sentença do Tribunal Administrativo ou, mormente, do Supremo Tribunal de Justiça não podem ser ignorados, de facto ‘revogado’ à socapa, pela aparente ‘jurisprudência da Secretaria’ dum qualquer conselho da Ordem dos Advogados».

- - Porque, algo estranhamente, de tal requerimento não foi ainda notificada resposta nem mandado algum, frisando agora que nem sequer é a declaração de nulidade dessa deliberação aberrantemente nula que se vê ali peticionada (embora nada impeça, muito pelo contrário, o titular do órgão requerido de a proferir!!), o pedido derradeiro é então este: quererá V. Exa. conceder ao cidadão patriota e advogado signatário a justiça mínima de declarar formalmente, frontalmente (com a frontalidade pessoal de que tanto se louva), se é porque a Ordem dos Advogados tem constituído ab initio como mandatário naquele processo administrativo um advogado «da Maçonaria» (não sei se também «do Benfica») que um acórdão de tribunal superior que não lhe(s) convém acatar (‘et pour cause…!’) continua a ser infamemente desprezado, entre outros, pela dita Ordem e todos os seus serventuários, a todos os níveis?


Na expectativa da competente resposta, que julgo merecida, reitero a V. Exa. os meus cumprimentos do devido respeito.

Viana do Castelo, Carlos Correia de Matos
(Advogado – Céd. 3613-P)

Caro Colega
Obrigado pelo seu mail.
Não são apenas as decisões do CDH que o Estado português põe em causa. São também as suas próprias leis. Infelizmente a situação é caótica, pois não há uma cultura de responsabilidade. Em Portugal, as leis servem para perseguir os inimigos, proteger os amigos e aplicar aos indiferentes.
Quando ao seu ponto secundo, vou mandar ver o que se passa, pois não estou ao corrente da situação.
Com as cordiais saudações do
Colega ao dispor A. Marinho e Pinto


Carta Reaberta ao Bastonário da Ordem dos Advogados
«Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos mostram como cordeiros
mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos os conhecereis.»

Evangelho segundo Mateus, 7:15-16


Exmo. Senhor
Dr. António Marinho e Pinto,
M. I. Bastonário
e Presidente do Conselho Geral
e da Ordem dos Advogados:

A resposta, absolutamente imprópria, duma irrectidão insuspeitável, que em 13 de Maio último V. Exa. fez autuar no Proc. n.º 645/02 do Tribunal Central Administrativo Norte e recém-notificada à minha pessoa – recorrente naquele processo, em que é recorrido o Conselho Superior – determina-me, necessariamente, a reabrir e concluir, em termos assaz mais judiciosos, a Carta que em 27 de Junho do ano passado dirigi, por esta mesma via pública, ao representante por excelência da Ordem dos Advogados e sobre parte da qual V. Exa. – esse órgão unipessoal primaz – logo se pronunciaria de modo espontâneo (encontram-se ambos os escritos integralmente reproduzidos abaixo).

Por sinal, que só agora avalio plenamente, já essa meia-resposta, deveras decepcionante, encerrava uma perversão. Realmente, eu exortara V. Exa. a colocar no site da Ordem a Decisão de 28-03-2006 do Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas que (no Proc. n.º 1123/2002, em que sou o autor) condenou o [aparelho do] Estado português a, principalmente, modificar a legislação penal interna em conformidade com o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e a tornar pública tal decisão condenatória, porquanto o Estado «de direito democrático» em causa vem ignorando de todo tal condenação, tendo entretanto alterado o Código de Processo Penal, sim, mas «em sentido diametralmente oposto (!) ao desta decisão» edificante; esperava eu então, pois, que a Ordem dos Advogados concedesse «à cidadania pátria a justiça mínima de tornar finalmente pública» essa efectiva garantia jus-internacional de que a mais alta instância jurisprudencial à escala mundial não pactua com a entre nós (ainda) prevalecente tese maçónica degenerada – sim, pois que frontalmente adversa ao ideário daqueles que, segundo os próprios cuidam tacticamente de difundir, no seu ritual secreto de iniciação juram «lembrar que as pessoas merecem dignidade e respeito e a não as tratar como se fossem coisas». Sim, tese expendida por mações degenerados, hoc sensu, como o ex-Provedor de Justiça honorável maçon Menéres Pimentel ou o antigo deputado constituinte honorável maçon António Arnaut, subscritores, respectivamente, da carta oficial de 17-09-1999 (em que, ficcionando uma queixa contra ninguém, se permite ordenar o «arquivamento»… dum estudo forense ofertado!) e da mensagem por e-mail de 1-06-2005 dirigidas, ambas as comunicações, à minha pessoa e parcialmente reproduzidas no anexo Doc. A – pretendendo que quer o Pacto de Nova Iorque invocado quer a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, diplomas universalmente conhecidos como estatuindo, inter alia, o direito pessoal à autodefesa perante os tribunais, «não obstam obviamente ao patrocínio judiciário obrigatório», até porque «toda a regra tem excepção»! Mas não: a Ordem dos Advogados portuguesa presidida por V. Exa. – um distinto jornalista-advogado proclamado defensor industrioso dos direitos do Homem – afinal não curou de alertar o homem, as pessoas, de nacionalidade portuguesa para a denegação permanecente desse seu basilar direito, antes do mais, à informação.
Na realidade, ao mais não fazer do que soltar fugaz atoarda quanto à inexistência de «uma cultura de responsabilidade» em Portugal, Estado dito em situação «caótica» que «põe em causa (...) também as suas próprias leis», V. Exa. deu logo ali prova acabada duma fecunda hipocrisia togada, pois omitiu no caso, contra o expressamente solicitado, aquela diligência mínima a que, como primeiro responsável (cultivando o sentido de responsabilidade) da associação profissional pública – entidade exercendo poderes delegados pelo Estado – cuja atribuição estatutária primeira consiste em «defender o Estado de direito e os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos», nunca poderia escusar-se: uma falta de espírito de missão e mesmo de brio profissional notável, na verdade, da parte de quem faz gala em apresentar-se na ágora como um paladino das liberdades cívicas. Displicência desta magnitude só terá paralelo, dentro do mesmo contexto, no silêncio pitagórico que o Presidente do Conselho Superior (outro mação, tacitamente confesso) votou à exposição que recentemente lhe facultei – reproduzida no anexo Doc. B – sobre o bem fundado, a grandiosidade moral, da minha vetusta tese de estagiário (em 1989) preconizando a advocacia como verdadeira profissão liberal.

É certo, no entanto, que, honra lhe seja, na audiência – por mim solicitada, para apresentar prova documental bastante da nulidade do acto interno de suspensão da minha inscrição questionado na Carta Aberta – que me concederia em 15 de Janeiro transacto, V. Exa. incutiu-me confiança, dar-me-ia algum ânimo mais para seguir aguentando, crendo que perto do epílogo, o estertor desta lide insana, quando, perante a factualidade jurídica evidenciada, com inesperada lhaneza me declarou que «então isso [a nefanda deliberação impugnada] pode até constituir crime» (sic). Exacto, exactamente! Sucede, porém, que V. Exa. terá depois apurado a identidade do primeiro presumido criminoso na fila, tê-lo-ão informado de que se trata dum membro arqui-influente dum dos conselhos superiores da área da Justiça… e, fatidicamente, V. Exa. perdeu a clarividência e o pundonor, ter-se-á acobardado, deixou cair a máscara de justiceiro implacável: V. Exa. (mais um!) aceitou ser encobridor do crime…
Sim, aquela peça processual que motiva esta minha oratio secunda representa o labor espúrio de quem pactuou com criminosos! Com pode V. Exa. ter informado o tribunal administrativo superior referido de que o advogado signatário «possui a sua inscrição na Ordem dos Advogados suspensa por incompatibilidade (sic!), tal como decidido por deliberação do Conselho Geral de 24/09/93», dando como caução desta falsidade manifesta o Acórdão de 19-XI-2008 do Supremo Tribunal Administrativo no Proc. n.º 70/08, aresto cuja exegese crítica – extractada no Doc. C anexo – oportunamente entregue em mão a V. Exa. demonstra irrefutavelmente, irrefutadamente, que consuma per se um abominável acto de prevaricação judicial?!
Sim, sim: como é que o autoproclamado jurista supercompetente e advogado hiperexigente que V. Exa. é, que já como jornalista, em 28 de Fevereiro de 2004, exprobrava no semanário ‘Expresso’ (ed. n.º 1635, p. 15: artigo “Um saco azul gigantesco”, inserto na crónica ‘Dura Lex’) as «verdadeiras espoliações cometidas por magistrados [judiciais] sem escrúpulos» (juízes que, digo eu, se haviam na generalidade dos casos cingido a aplicar um Código das Custas Judiciais cuja inconstitucionalidade patente para um democrata de raiz a Ordem dos Advogados, verbi gratia, nunca arguiu: ainda agora, caberá notar, o actual Presidente do Conselho Superior, posto em 6 de Abril perante a demonstração incontestável de tal tese que vai reproduzida no anexo Doc. D, apenas soube responder, por e-mail do dia seguinte, «não dominar a matéria nela expendida»!); que, desde 23 de Abril último, publicita no site da Ordem, a título de «reparo público», uma ‘Mensagem do Bastonário’ onde verbera eventuais «situações de clara incompetência funcional ou então de desonestidade intelectual na interpretação da lei» protagonizadas, mormente, por «alguns juízes de direito» a quem «um órgão da Administração teve de vir a público ensinar (…) a ler e interpretar as leis da República»; que, imponentemente, mesmo há poucos dias, pontificando no Telejornal da RTP em 30 de Maio, asseverou que determinada decisão do Tribunal da Relação de Guimarães, num caso de regulação do poder paternal, «envergonha a Justiça», ditando em conclusão que «o exercício dos poderes soberanos tem de ser permanentemente escrutinado pelas pessoas, pelo povo, em nome de quem esses poderes são exercidos» (sic), como é que V. Exa., pois, pode invocar em juízo (sem curar de escrutinar a ostensiva desonestidade intelectual, que sobremodo envergonha a Justiça pátria, dos magistrados sem escrúpulos seus autores, supina escória moral da Nação) um acórdão transparentemente nulo, que será hoje exemplo porventura único no Mundo do estilo parajurisprudencial «se não foste tu foi o teu pai!», cuja nulidade, demais a mais, pessoal e organicamente – como Presidente do Conselho Geral – lhe cumpre por primazia decretar?! Sim, clarissimamente: uma decisão judicial – queira reler a página 17 do original dactilografado, reproduzida no anexo Doc. E – onde, à falta de norma vigente para o efeito pretendido pelo colectivo judicante (porquanto o Estatuto da Ordem dos Advogados aplicável, pura e simplesmente, não considera o exercício da revisão oficial de contas incompatível com o da advocacia), é o caso a julgar considerado «sob o alcance das normas estatutárias pré-existentes (sic!) que regem sobre incompatibilidades e impedimentos», ou seja: visto o então vigorante Estatuto de 1984 não servir aos interesses ocultos em jogo, aplica-se nesse julgado quisto derradeiro o art. 594.º do Estatuto Judiciário de 1962, muito embora… expressamente revogado (!?) este pelo artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 84/84 que aprovou o Estatuto ao tempo em vigor!! Mais palavras para quê?
Sim, apenas uma palavra mais, o qualificativo que julgo ter V. Exa. dado provas sobejas (ut retro) de bem merecer: tartufo! Na verdade, só como manifestação de tartufismo indómito se concebe que um advogado, qualquer, se permita criticar destrutivamente em público, através da televisão, um acórdão judicial que não estudou, cuja motivação de facto não conhecia, que não lhe diz directamente respeito, escassos dezassete dias após ter feito o impossível na vã tentativa de coonestar no foro um outro acórdão que, por ser do seu próprio interesse funcional, teve necessariamente de analisar e, por consequência, cuja essência dolosa – de denegação de justiça clamorosa – flagrante não podia, em absoluto, ignorar. O mais grave, todavia, profundamente preocupante, neste quadro desolador, é que, não sendo V. Exa. um advogado qualquer mas sim, presentemente, o Presidente da Ordem dos Advogados – emblematicamente, o “Advogado dos advogados” –, mostrou afinal, com afoita indiferença, não estar aí a agir como uma pessoa livre, mas antes como alguém comandado, um mero subalterno. Efectivamente, competindo ao órgão unipessoal em que V. Exa. se encontra investido, nos termos estatutários, representar a Ordem dos Advogados em juízo e fora dele, designadamente perante os órgãos de soberania, outrossim lhe cabendo, como Presidente do Conselho Geral, nomear os mandatários judiciais que precisos forem ao serviço destoutro órgão interno, V. Exa. fez entregar em Maio de 2009 no Tribunal Central Administrativo do Norte, como resposta pessoal, firmada pel’«O Bastonário», um escrito, o supramencionado, que – conforme se alcança do Doc. F anexo – não é senão a cópia fiel da resposta apresentada em Outubro de 2007 no Supremo Tribunal Administrativo pelo mandatário constituído noutro processo (o alegado mação que, seguindo a tradição retórica do clã, negou entretanto a sua filiação), assumindo-se o subscritor dessa transcrição acrítica, submisso, não como o representante nato, o plenipotenciário presidente, do órgão oficialmente mandante, mas sim como um virtual mandatário: um Bastonário em acção que, escrevendo o que lhe ditam ou tão-só copiando o que lhe mandam, alega numa peça forense reger-se «por cautela de patrocínio» (sic)… Eis, nesta parapraxia servil, o cunho da subserviência maçónica em toda a sua tenebrosa pujança!
E eis também, finalmente, assente nesta prova indesmentível da ubíqua interferência duma potente teia operacional volvida já pouco ou nada discreta, a explicação cabal para a outramente incompreensível repristinação casuística dum longevo natimorto que é a recidiva introdução em cena do acto administrativo congenitamente inválido ao qual ainda o actual Presidente do órgão colegial seu progenitor, por abstrusa subordinação ideológica, se escusa a conferir, como muito principalmente lhe incumbe, a perfunctória certidão de óbito.
Com este reparo público final, apresento a V. Exa. em despedida os meus cumprimentos do devido respeito.


Viana do Castelo / Lisboa (via e-mail), 13 de Junho – Dia de Santo António – de 2009

O Advogado indefectível,

Carlos Correia de Matos

Post scriptum - Destinando-se uma carta (re)aberta a todos os potenciais interessados na sua leitura, a presente missiva pública vai contudo ab initio remetida, em simultâneo, além de ao principal, a quatro outros importantes destinatários. Tal por ponderosas razões que convirá explicitar.
- Aos dois primeiros, os Exmos. Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Administrativo, porque tenho por imperioso, como porventura muitos, que em definitivo se saiba se, num Estado onde o ultraje de símbolos nacionais como a bandeira, o hino, as armas ou emblemas da soberania se encontra justamente criminalizado, o ultraje à Constituição e à Lei perpetrado por aqueles que têm precisamente por missão existencial honrar estes símbolos arquetípicos da Nação pode, por sistema, permanecer impune.
- Ao terceiro, o Exmo. Presidente do Conselho Superior da Ordem dos Advogados, porque no mesmo texto são tecidas duas referências à sua pessoa, podendo eventualmente querer pronunciar-se sobre algum dos assuntos, seja de que forma for.
- Ao quarto, o Exmo. Presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, porque – julgando eu, como muitos, ser urgente, numa perspectiva patriótica, que a judicatura readquira no seio do povo a consideração e o respeito de que já foi credora – desejo transmitir directa e muito francamente a noção de que à fase das tiradas de mero belo efeito passageiro como a de que «Portugal não é uma sociedade secreta, mas um Estado de direito democrático» (‘Público’, ed. n.º 6364, p. 4) deve agora suceder, no terreno, a reacção contra qualquer que seja a arcana societas dominadora. Bom será, enfim, que a classe interiorize que dos anais da Justiça portuguesa historiando este dealbar do milénio constará por certo que houve aqui um advogado legítimo com a inscrição ilicitamente suspensa durante mais de 15 anos, quinze (!), muito porque – rezando embora a lei coeva que a nulidade do acto pode a todo o tempo ser declarada por qualquer tribunal – nenhum dentre dezenas de juízes chamados a pronunciar-se sobre o caso foi capaz de fazer honesto jus à isenção, imparcialidade e independência a todos exigível e, honrosamente, vencer a tibieza, o reverencial temor, que a rede pode inspirar. CCM

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

LOUCURAS DE BARCELONA

Um simulacro de referendo para a independência da Catalunha, obteve mais de 90% de votos favoráveis à secessão daquela região autónoma de Espanha.

Uma breve consulta de dúzias de páginas na net, permite-nos concluir o quão longe da razão estão os portugueses que exactamente nos mesmos blogues, paradoxalmente demonstram o seu apego "às modernidades dos novos tempos". Invariavelmente deparamos com a absurda coligação dos extremos do espectro político, numa absurda aliança circunstancial entre as gentes da saudação romana e os grupos do punho em riste. Como se uma secessão que inevitavelmente se tornará num exercício de histeria colectiva de cinco milhões, pudesse ser considerada como uma manifestação de justiceiro progresso!

A Catalunha não é forma alguma, uma região oprimida pela ocupação de um exército tiranicamente prepotente. A Catalunha não vê explorados os seus recursos económicos, sejam estes os que a terra, o turismo ou a mão de obra fornecem ao todo territorial da Espanha. A Catalunha enriquece com a venda dos seus produtos ao mercado interno espanhol, do qual depende enormemente. O seu Estatuto consagra amplas atribuições ao governo regional, desde a iniciativa legislativa de protecção à cultura e ao idioma, até ao reconhecimento dos símbolos identitários históricos. Em sentido prático, possui com as restantes regiões espanholas, o mesmo Rei, o mesmo exército e a mesma representação internacional.

Num futuro relativamente próximo, a separação da Catalunha poderá até ser consagrada por uma votação maciça que estabeleça um facto consumado. Este desfecho não quer dizer que venha a ser forçosamente pacífico. Internamente, o extremar de posições dos radicais - como a minoritária e xenófoba ERC -, obrigará ao salto em frente das forças mais moderadas. Desde logo surgirão conflitos com importantes minorias locais que provenientes de outras regiões espanholas, não deixarão de mostrar o seu desagrado pelo mais que certo revanchismo catalão. As últimas eleições gerais mostraram uma deslocação de voto para os partidos de âmbito nacional - PSOE e PP -, num claro sentido de manifestação de comedimento perante o aventureirismo de alguns. Os catalães dependem em muito, do grande mercado interno espanhol, do qual representam apenas pouco mais de 10% do total da população. Paralelamente, sabe-se da grande capacidade mobilizadora do patriotismo castelhano, capaz de retaliar através de eficaz boicote a tudo o que seja produzido na região secessionista. Ainda há poucos anos, as catastróficas quebras na venda do vinho Cava, ditaram uma tendência que não poderá deixar de preocupar as empresas da Catalunha. Discutia-se então nas Cortes de Madrid, a alteração dos Estatutos Autonómicos e perante as exorbitantes exigências de Barcelona, a população de Castela e de outras regiões, responderam como puderam, esvaziando os bolsos dos empresários catalães, logo mais calmos e comedidos.

A questão que verdadeiramente interessa a Portugal, não se prende com anacrónicos ímpetos nacionalistas que previsivelmente vão sempre no sentido da aposta na quimérica destruição do perigoso vizinho. A situação portuguesa é outra e o nosso país encontra-se talvez como nunca na sua história, fortemente dependente da estabilidade, vigor e boa saúde da economia espanhola. Exultar com a criação de um irritante foco de instabilidade na Península que conduzirá sem qualquer dúvida a violentos conflitos pela divisão de recursos, territórios em disputa e movimentação de populações, vai precisamente na direcção oposta ao interesse português.

As seculares fronteiras territoriais de Portugal têm como único interlocutor, uma Castela demograficamente hegemónica no conjunto do Estado vizinho. Conhecêmo-la bem e sabemos o que sempre pretendeu e sem ousar confessá-lo abertamente, ainda pretende. Com Castela compartilhamos os rios que de lá correm em direcção ao nosso Atlântico. Com Castela delimitamos as nossas águas territoriais e com Castela estamos habituados a negociar e a manifestar a nossa resistência. De Castela chegam os grandes contingentes de turistas espanhóis que nos visitam, aqui deixando importantes recursos financeiros. Conhecemo-nos mutuamente e Portugal apenas poderá beneficiar com a existência de sólidos e amistosos laços com o país vizinho. Existem sérias dúvidas quanto ao reconhecimento de uma secessão catalã pelo governo de Madrid, seja este de direita ou de esquerda. Desta forma, qualquer atitude precipitada por parte de Portugal, só poderá prejudicar a nossa situação, seja ela económica, política, social e até, internacional. A Catalunha não pesa no conjunto alargado de países de expressão portuguesa ou castelhana. De minguada dimensão populacional, provavelmente encontrará nova hostilidade a norte, em França, onde simulacros locais da ERC parecem querer criar problemas, à semelhança do caso basco.

A nossa segurança, a ligação territorial à Europa, a independência de Portugal e as sempre evidentes razões económicas, recomendam a prudência. Não existe qualquer espaço para paixões pueris em assuntos nos quais não devemos intervir. Recomenda-se a calma e a estabilidade na Península Ibérica e foi essa desde sempre, uma prioridade de todos os regimes que se sucederam em Portugal. A nossa firme determinação em manter a independência e as alianças tradicionais que garantiram uma importante presença linguística em quatro continentes, exige o completo alheamento quanto à tomada de partido nos assuntos internos de Espanha, vincando-se assim a nossa diferença. Os catalães são excessivamente orgulhosos - para não dizermos arrogantes -, patrões cúpidos, duros e não hesitam um momento que seja, em proceder dentro das nossas portas, a considerações desprimorosas relativamente a Portugal, sempre em termos materialmente comparativos. Não podemos tolerar o sacrifício de nos vermos transformados num divã de psicanálise de uns tantos milhões de exaltados irracionais. O ambiente pestífero dos exageros "nacionalistas" que vão ao ponto de excluir totalmente o castelhano da sinalização rodoviária, estende-se hoje ao comércio e todo o tipo de serviços. É fácil um turista encontrar-se em sérias dificuldades numa região onde se negam a falar o castelhano que interesseiramente utilizam no dia a dia dos negócios internacionais, sem que por outro lado consigam balbuciar a mais breve interjeição noutra língua, seja ela o inglês ou o francês. Estamos em pleno período de fervoroso exagero.

O que há duas décadas aconteceu no Leste, consiste numa lição a interiorizar. Se para mantermos a nossa tranquilidade tivermos de ignorar, ou melhor, sacrificar as loucuras de Barcelona, assim seja.

Portugal, acima de tudo.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Fase de crescimento

Agência FAPESP – Os Andes podem não ter se formado gradualmente como sugeriam as teorias tectônicas predominantes. De acordo com um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos, a segunda maior cadeia de montanhas do planeta irrompeu abruptamente, dobrando de tamanho durante um curto período geológico, de 2 milhões a 4 milhões de anos.
O estudo, coordenado por Carmala Garzione, professora de geologia da Universidade de Rochester, teve seus resultados publicados na edição atual da revista Science. De acordo com a pesquisadora, com a descoberta a teoria da tectônica de placas precisará ser substancialmente modificada para incluir um processo conhecido como "delaminação".
O método tradicional para avaliar o crescimento de montanhas consiste em estudar a história das dobras e falhas na crosta terrestre. Sob esse paradigma, os geólogos estimavam que os Andes teriam crescido gradualmente ao longo dos últimos 40 milhões de anos.
Carmala e sua equipe utilizaram técnicas desenvolvidas recentemente para medir como as precipitações e a temperatura da superfície alteram a composição química do solo de uma montanha. Estudando as bacias sedimentares dos Andes, a equipe conseguiu determinar quando e em que altitude esses sedimentos foram depositados.
Os registros de mudanças de altitude mostram que os Andes cresceram lentamente por dezenas de milhões de anos mas subitamente aumentaram muito mais rapidamente entre 10 milhões e 6 milhões de anos atrás.
O trabalho de um dos orientandos de pós-doutorado de Carmala, Gregory Hoke, corrobora a teoria do crescimento rápido e mostra que não apenas as montanhas, mas uma ampla região de mais de 560 quilômetros de largura teria se elevado em grau semelhante ao dos Andes.
Em uma pesquisa que será publicada em breve na revista Earth and Planetary Science Letters, Hoke descreve essas descobertas sobre como os rios entalharam profundos desfiladeiros nos flancos dos Andes enquanto a extensão da montanha aumentava.
Datando as incisões e mapeando a profundidade e extensão dos desfiladeiros, Hoke demonstra que a elevação superficial ocorrida na bacia sedimentar em que Carmala fez seus estudos provavelmente ocorreu em toda a largura da cordilheira dos Andes.
Carmala e sua equipe verificaram que, associadas às suas descobertas, uma ampla gama de indicadores geológicos – incluindo a história das dobras, falhas, erosão, erupções vulcânicas e acúmulos de sedimentos – sugere a provável ação de um processo de "delaminação", que vem sendo intensamente debatido pela comunidade científica.
Embora a "delaminação" tenha sido proposta há décadas, Carmala afirma que o processo gera controvérsias, uma vez que os modelos mecânicos de construção de montanhas não conseguem reproduzi-lo e, até então, havia uma falta de dados sobre a elevação de cadeias montanhosas.
Quando as placas oceânicas e continentais se encontram, os geólogos estimam que a crosta continental envergue. Na superfície, o envergamento se manifesta como uma cadeia de montanhas que se ergue, mas abaixo da crosta o envergamento gera uma "raiz" pesada e de alta densidade que puxa a crosta para baixo como uma âncora.
A teoria tectônica convencional defende que a convecção do manto fluido do fundo da Terra causa vagarosamente uma erosão dessa pesada raiz, como um manancial desgastando uma rocha, permitindo que as montanhas gradualmente cresçam, ao passo que a crosta se torna mais curta e grossa.
No entanto, de acordo com Carmala, a teoria da delaminação sugere que, em vez de erodir lentamente, a raiz se aquece e escoa para baixo, até que abruptamente se rompe e afunda no fluido quente do manto. As montanhas acima, repentinamente livres do peso da raiz, disparam e, no caso dos Andes, se elevaram de uma altura de menos de dois quilômetros para cerca de quatro quilômetros em menos de quatro milhões de anos.
Algumas das principais implicações da elevação rápida de cadeias de montanhas são seus efeitos no clima e na evolução da região, segundo Carmala. A pesquisadora estuda agora, com um grupo de palentologistas, como a elevação rápida dos Andes afetou o clima e a diversidade da fauna no continente no fim do Mioceno, período em que a cordilheira se formou.
O artigo Rise of the Andes, de Carmala Garzione e outros, pode ser lido na Science em www.sciencemag.org.

Antártica marinha

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Existem muitos estudos sobre a Antártica que investigam a biodiversidade de espécies continentais, mas são poucos os que levantam hipóteses biogeográficas sobre a evolução no ambiente marinho.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Valencia, na Espanha, conseguiram mapear quatro áreas de endemismo no continente ao estudar a distribuição geográfica de 31 espécies do gênero Oswaldella, um invertebrado aquático que vive fixo, aderido ao fundo do oceano.
O estudo, publicado no Journal of Biogeography, busca entender a história evolutiva dessas espécies e sua biogeografia (área das ciências biológicas que estuda a distribuição dos seres vivos no espaço e no tempo), isto é, como e por que os organismos estão distribuídos em determinadas áreas.
De acordo com Antonio Carlos Marques, professor do Instituto de Biociências da USP e coautor do artigo, as duas principais hipóteses anteriores para a delimitação de áreas de endemismo antárticas não se baseavam em métodos analíticos formais.
“Para cada uma dessas áreas, além da abordagem metodológica inédita para o ambiente antártico, nossa contribuição é importante porque confrontamos resultados com dados paleoceanográficos, o que é muito pouco usual nesse tipo de abordagem”, disse à Agência FAPESP.
O pesquisador coordena o Projeto Temático “Biodiversidade, evolução, endemismo e conservação dos Medusozoa do Atlântico Sul Ocidental”, apoiado pela FAPESP, além de ser coordenador de projetos relacionados ao Programa Sul-Americano de Apoio às Atividades de Cooperação em Ciência e Tecnologia (Prosul) e ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar). O outro autor do artigo é Alvaro Peña Cantero, do Instituto Cavanilles de Biodiversidade e Biologia Evolutiva da Universidade de Valencia.
“Como trabalho com esses organismos do Atlântico Sul Ocidental e do Pacífico Sul Oriental (a costa chilena), decidimos tentar inferir essas áreas de endemismo a partir de uma análise formal, com métodos que podem ser reproduzidos”, explicou Marques.
Para inferir as regiões de endemismo, os pesquisadores empregaram uma técnica de biogeografia conhecida como análise de parcimônia de endemicidade, por meio da qual dividiram a Antártica em quadrículas e buscaram a afinidade dessas usando algoritmos matemáticos.
Na delimitação dos autores, a primeira seria a área conhecida como Magalhânica, que está fora da área delimitada pela Frente Polar do Oceano Austral e corresponde ao sul do continente americano. A segunda corresponderia à Península Antártica, compreendendo uma extensão que engloba também ilhas do Oceano Sul.
A terceira região corresponde à Antártica Ocidental, que inclui o mar de Weddell/Bellingshausen até o mar de Ross. Por fim, a quarta área é a Antártica Oriental, que vai desde a parte marginal do mar de Ross até o mar de Davis.
“Nossa hipótese está ligada a fatores históricos e procura propor detalhamentos que melhor expliquem a evolução da biota no ambiente antártico. Por isso, o padrão que encontramos apresenta maior detalhe na divisão do Oceano Austral, por exemplo, e para todas essas divisões encontramos um padrão de distribuição atual que se sustenta por eventos paleoceanográficos”, disse Marques.
As duas hipóteses anteriores propunham modelos biogeográficos importantes para a Antártica. Mas as análises dos autores, segundo o pesquisador, não foram baseadas em metodologias formais. Uma das propostas é a do norte-americano Joel W. Hedgpeth (1911-2006) que dividiu o Oceano Austral em uma “sub-região Antártica Continental” e outra “sub-região Scotia” (que incluía a Península Antártica).
A outra hipótese, do neozelandês Richard Kenneth Dell (1920-2002), também dividiu a Antártica em duas áreas: uma que incluiria a Península Antártica e os mares de Bellingshausen e Weddell e a outra que compreenderia o Arco Scotia.
“Boa parte dessas hipóteses são corroboradas por nossos dados. Isso também é um aspecto interessante. No caso da hipótese de Hedgpeth, ‘refinamos’ a proposta. A partir de agora, pode-se agregar mais dados. Vamos colocar mais grupos, não só as espécies de Oswaldella e, com a adição de novos dados, ver se essas regiões se mantêm ou se teremos que reinterpretar essas quatro áreas”, salientou.
Para cada área, os cientistas encontraram uma explicação paleoceanográfica. Na Península Antártica, por exemplo, que é a região mais estudada, as espécies ocupam o outro lado da península, no mar de Weddel.
“A explicação paleoceanográfica mostra que havia uma passagem que depois foi fechada, ocupada por um corredor de oceanos que permitia que a espécie que estava nessa área no passado passasse pelo meio desse corredor. Quando essa passagem foi fechada, as espécies foram isoladas em áreas diferentes”, disse.

Fase de colônia
As espécies de Oswaldella pertencem ao grupo dos cnidários que engloba os animais aquáticos de que fazem parte as hidras de água doce, medusas, águas-vivas, corais, anêmonas-do-mar, entre outras. São animais que vivem de forma fixa sobre o fundo do mar, em profundidades que podem chegar a milhares de metros. É um dos grupos de cnidários com maior número de espécies no ambiente antártico.
Os cnidários podem ter as fases de medusa (que nada, mas não tem capacidade natatória suficiente para passar as correntes oceânicas) e a de pólipo (que geralmente vive fixo no fundo do mar). No caso de Oswaldella, o grupo não produz uma medusa livre, e sua mobilidade é, portanto, muito baixa.
“Os pólipos, por reprodução assexuada, formam colônias e inclusive brotam as medusas, que são os adultos, porque têm as gônadas. Entretanto, em algumas linhagens, como em Oswaldella, sua biologia se restringe à primeira fase”, disse Marques.
“A pesquisa é importante porque só podemos pensar em conservar áreas, em criar sistemas de conservação que sejam eficientes, se compreendermos por que essas áreas existem. Elas não existem de maneira aleatória”, disse.
O pesquisador lembra que a Antártica chama muito a atenção por conta do aquecimento global, que tem provocado a perda acelerada de gelo nos polos do planeta. Segundo ele, todo o panorama atual de distribuição dos organismos antárticos poderá ser afetado pelas mudanças climáticas.
“O aquecimento global poderá mudar correntes e limites de temperatura que uma espécie poderia aguentar. Espécies mais tropicais podem ir mais ao sul, ocupar latitudes mais altas. E o delineamento dessas áreas é o primeiro passo para qualquer política de conservação. Não podemos pensar em conservação de uma maneira intuitiva. Ela tem que ter um alicerce científico que a sustente”, defendeu.
O artigo Areas of endemism in the Antarctic – a case study of the benthic hydrozoan genus Oswaldella (Cnidaria, Kirchenpaueriidae) , de Antonio Carlos Marques e Alvaro L. Peña Cantero, poderá ser lido no Journal of Biogeography em www.wiley.com/bw/journal.asp?ref=0305-0270&site=1.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Vazamentos contidos

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Acidentes com embarcações que resultam no vazamento de grandes quantidades de óleo são mais comuns do que deveriam.
Em casos como esse, até que a complexa operação de contenção da mancha seja efetivada, utilizando diversas técnicas e mobilizando centenas de pessoas, o desastre ambiental pode estar consumado.
Uma nova tecnologia desenvolvida no Brasil promete funcionar como os primeiros socorros para uma emergência desse tipo, minimizando os estragos.
Trata-se de um pó composto por surfactantes (que reduzem a tensão superficial de uma solução) e um agente inerte. Ao ser jogado na água, o produto forma um filme ultrafino, com a espessura de uma única molécula, que confina a mancha de óleo em uma área limitada e a comprime, aumentando sua espessura e facilitando a limpeza.
De acordo com o diretor científico da Lótus Química Ambiental, Marcos Gugliotti, que desenvolveu o coletor de óleo em projeto apoiado pelo programa Pesquisa Inovativa na Pequena e Micro Empresa (Pipe), da FAPESP, o produto oferece uma opção de pré-remediação eficiente.
"Quando há um acidente, até que se faça o deslocamento de barreiras de contenção e skimmers [que separam o óleo da água] para o local, a mancha se espalha, resultando em grandes estragos ambientais. O produto que desenvolvemos permite que uma única lancha aplique o pó na água, nos limites da mancha, reduzindo sua extensão", disse o pesquisador.
Segundo ele, para cada quilômetro de perímetro da mancha de óleo, é preciso aplicar 2,5 quilos do pó. "O produto age de diversas formas. Primeiro ele reduz o espalhamento da mancha de óleo, confinando-a. Depois, por ter alta pressão superficial, ele se espalha rapidamente e começa a reduzir a superfície da camada de óleo, aumentando sua espessura e facilitando a remoção", explicou.


Novos testes
O pesquisador explica que o produto é autofóbico, isto é, não se espalha sobre si mesmo. "Se o pó for jogado na água, ele se espalha até atingir a mancha, confinando-a. Se for jogado sobre o óleo, passa por cima dele e atinge a água rapidamente, produzindo o mesmo efeito", apontou.
O produto é biodegradável em 48 horas. "O coletor é insolúvel, não se misturando com a água e mantendo-se apenas na superfície. Ele também não é tóxico e não altera a qualidade da água", disse.
Foram realizados diversos testes em laboratório, além de dois testes preliminares de espalhamento e impacto ambiental na represa do Broa, no interior paulista. "Em um dos testes de laboratório, utilizando petróleo, a mancha de óleo foi reduzida em cinco vezes, em questão de poucos segundos", afirmou Gugliotti.
Em outro teste, feito em uma marina em Santos (SP), Gugliotti utilizou um pulverizador agrícola para espalhar o produto. "O óleo era visível na superfície da água e obtivemos uma redução rápida e ampla da mancha. Os dados foram registrados e o teste foi fotografado", disse.
Gugliotti procura agora uma empresa para fazer o licenciamento da patente do produto. "Queremos ceder os direitos para que alguma companhia produza e venda o produto", disse.
O produto também foi apresentado para uma comissão do setor de emergência da Cetesb. "Estamos negociando com a instituição um teste em uma piscina olímpica em Guarulhos", disse.
Os principais resultados da pesquisa foram apresentados em pôster na Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), realizada em Águas de Lindóia (SP).

Mais informações: lotusqa@uol.com.br, ou pelo telefone (11) 9158-5178, com Marcos Gugliotti.

Capacidade esgotada

Agência FAPESP – Os oceanos têm um papel fundamental na regulagem climática, absorvendo cerca de um quarto de todo o dióxido de carbono lançado pela ação humana. Agora, o primeiro levantamento ano a ano desse mecanismo desde a Revolução Industrial indica que os oceanos estão sofrendo para acompanhar o aumento nas emissões.
A consequência, apontam, poderá ser desastrosa para o clima no futuro do planeta. A pesquisa, feita nos Estados Unidos, foi publicada na edição da revista Nature.
Samar Khatiwala, da Universidade Columbia, e colegas estimaram que os oceanos absorveram um recorde de 2,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono resultantes da queima de combustíveis fósseis em 2008. Mas, com o aumento na quantidade total de emissões, a proporção absorvida pelos oceanos desde 2000 caiu em cerca de 10%.
Modelos climáticos desenvolvidos anteriormente haviam previsto uma diminuição nesse processo, mas o novo estudo é o primeiro a quantificar essa queda.
Enquanto trabalhos anteriores haviam atribuído a mudança à diminuição do ozônio na estratosfera e a alterações na circulação oceânica induzidas pelas mudanças climáticas, a nova pesquisa sugere que o motivo é mais simples: os oceanos chegaram ao limite, tanto físico como químico, de sua capacidade de absorver o dióxido de carbono.
“Quanto mais dióxido de carbono, mais ácido fica o oceano, reduzindo a capacidade de manter o CO2”, disse Khatiwala. “Por causa dessa consequência, com o tempo o oceano se torna um repositório menos eficiente do carbono antrópico. A surpresa é que podemos estar diante das primeiras evidências disso, talvez combinado com a circulação mais lenta por causa do aumento nas emissões.”
Segundo o estudo, o acúmulo de carbono industrial nos oceanos aumentou enormemente na década de 1950, à medida que os oceanos passaram a tentar acompanhar o ritmo acelerado das emissões em todo o mundo.
As emissões continuaram a crescer e, no ano 2000, atingiram tal volume que os oceanos passaram a absorver menos CO2 proporcionalmente, ainda que o total em peso tenha continuado a aumentar. Hoje, segundo a pesquisa, os oceanos mantêm cerca de 150 bilhões de toneladas de carbono industrial, um terço a mais do que em meados da década de 1990.
Cerca de 40% do carbono entra nos oceanos por meio das águas geladas próximas à Antártica, porque o dióxido de carbono se dissolve mais rapidamente nas águas mais frias e mais densas do que nas mais quentes. Dali, as correntes transportam o carbono para o norte do planeta.
O artigo Reconstruction of the history of anthropogenic CO2 concentrations in the ocean, de Samar Khatiwala e outros, pode ser lido na Nature em www.nature.com.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Insetos em detalhes

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – O Laboratório de Estudos de Hymenoptera Parasitoides, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), começará a identificar e descrever com detalhes espécies da ordem Hymenoptera, que inclui principalmente vespas parasitoides. Desde outubro, o laboratório vem realizando pesquisas com um microscópio eletrônico de varredura, adquirido com recursos da FAPESP.
Inaugurado em março de 2009, o laboratório – sediado no Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE) da UFSCar – abriga o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) dos Hymenoptera Parasitoides da Região Sudeste (Hympar/Sudeste), um dos INCTs que no Estado de São Paulo são apoiados pela FAPESP, por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Projeto Temático, e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
De acordo com a coordenadora do instituto, Angélica Maria Penteado Martins Dias, o microscópio eletrônico de varredura (MEV) Quanta 250 adquirido é o primeiro desse modelo a ser instalado no Brasil na área biológica.
“Além de operar em alto vácuo, esse equipamento permite observação de material sob baixo vácuo e pressão ambiental, o que expande as possibilidades de trabalho na área das ciências biológicas”, disse à Agência FAPESP.
Ao permitir informações detalhadas, o microscópio garantirá maior qualidade nas pesquisas. Segundo a professora do DEBE, esse modelo de MEV dispensa a metalização das amostras, o que mantém as suas características originais.
“O importante é que podemos obter imagens e preservar o material. Às vezes, trata-se de descrição de espécimes que são únicos e que, depois de utilizados, devem ser mantidos como testemunhos”, disse Angélica, destacando que no modo de pressão ambiental é possível trabalhar até mesmo com amostras vivas.
As imagens podem ser ampliadas em até 100 mil vezes. “O que nos interessa é caracterizar a estrutura superficial da espécie analisada. O MEV apresenta detalhes, nuances da estrutura e da escultura, fundamentais para o estudo e que um microscópio biológico de luz é incapaz de obter”, explicou.
O INCT Hympar-Sudeste envolve o trabalho conjunto de 11 instituições de pesquisa. Além do inventário e monitoramento das espécies de Hymenoptera parasitoides dos ecossistemas de mata, cerrado e agroecossistemas, o projeto envolve atividades de ensino e extensão junto à comunidade.
“É uma preocupação nossa poder transferir esses conhecimentos na forma de cursos e contato com a comunidade. Neste ano, trabalhamos com a população em feiras e amostras em praças, além de receber visitantes em nossos laboratórios”, disse Angélica.
A fase atual do projeto desenvolvido pelos grupos de pesquisa ligados ao Instituto é a de aquisição de amostras. “Temos cerca de 100 armadilhas do tipo Malaise [usada para coleta de insetos] montadas em toda a região Sudeste, concentradas em pontos estratégicos, principalmente no Estado de São Paulo”, contou.
Grupo bioindicador
Segundo a coordenadora do INCT, espécies de Hymenoptera são usadas como bioindicadores, dando uma ideia do grau de preservação dos ambientes. O outro ponto importante é o emprego na agricultura. Muitos parasitoides atacam e controlam pragas importantes para o setor agrícola, sendo utilizados em programas de controle biológico. A alternativa é considerada vantajosa financeiramente, alem de contribuir para a preservação do ambiente.
“Trata-se de um grupo que tem biologia toda especial porque explora recursos de outras espécies, levando-as à morte. Como parasitoides, constituem inimigos naturais de muitas pragas. Além disso, refletem em um ambiente natural as condições de outros níveis tróficos à medida que regulam populações de outras espécies”, explicou Angélica.
Em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo de Sete Lagoas (MG), o Instituto Biológico de São Paulo (SP) e o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (ES), o grupo do INCT Hympar-Sudeste desenvolve análises e experimentos com pragas e seus parasitoides em culturas de milho, café, coco, mamão, goiaba .
“No estudo de certas pragas agrícolas hospedeiras de Hymenoptera parasitoides é importante a identificação do material envolvido. Para nós, é uma chance de ampliar o conhecimento da biologia, distribuição geográfica e taxonomia, tanto da praga como de seu inimigo natural”, disse.
O grupo atualmente faz o inventário de 32 Unidades de Conservação na região Sudeste do Brasil, a maioria localizada no Estado de São Paulo. “Optamos por trabalhar em áreas de parques e estações ecológicas porque nossa intenção é preparar relatórios para os diretores dessas unidades de conservação, auxiliando na confecção dos respectivos planos diretores. Esses dados se constituem em subsídios importantes para o conhecimento da biodiversidade brasileira”, disse a professora da UFSCar.
A docente destaca também a importância dos recursos investidos para ampliar a troca de informações com grupos de pesquisa internacionais, manter bolsistas, equipar os diversos laboratórios envolvidos, “além de ampliar os acervos de coleções biológicas da UFSCar, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, do Instituto Biológico de São Paulo e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Polo Regional do Centro Leste, em Ribeirão Preto”, disse Angélica. Segundo ela, sem esses investimentos seria impossível desenvolver um projeto desse porte.
“Com mais um ano de trabalho poderemos disponibilizar mais dados consistentes em termos de inventários. Já temos resultados bastante significativos incluídos em trabalhos enviados à publicação, dissertações, teses e monografias de estudantes envolvidos com o INCT Hympar-Sudeste”, disse.


Mais informações: www.hympar.ufscar.br

sábado, 12 de dezembro de 2009

O olhar e o foco

Propaganda nazista dizia que campos e concentração eram resorts

A realidade existe independentemente do que se pensa sobre ela. Não necessariamente ela se impõe. Não se vive obrigatoriamente em um mundo de verdades insofismáveis. O mais crédulo de que tudo sabe esbarra em seu próprio pé, caindo, ao descobrir sua ignorância relativa. Como ninguém sabe de tudo, o mais prudente é ter uma atitude de reverência ao saber e de respeito a tudo que não se conhece bem. O desejável é que o novo fosse visto como algo a ser descoberto e não como o que deveria ser negado em princípio.
Qualquer massa em movimento desenvolve-o relativamente aos demais corpos a que está relacionada. Como tudo está em movimento, inclusive o planeta Terra, o que anda, balança, trepida ou simplesmente imagina-se parado, na verdade está oscilando em função das demais coisas do mundo. A consciência humana, igualmente, oscila em função das informações que recebe. Depende também de sua capacidade de processá-las e entendê-las. Pode ou não completar o seu ciclo, produzindo compreensões ou mantendo ignorâncias relativas. O foco é exatamente este resultado, que resume e finaliza a reflexão.
O problema é que se vive no mundo da espiral da intriga. Este lugar fantástico, que se derrama pelo planeta, é onde se vende, por meio das grandes mídias e dos sensos comuns hegemônicos, a idéia ou preconceito de que tudo está resolvido e de que não há nada de novo sob o Sol. Os problemas foram todos respondidos e é ilícito perguntar se uma idéia ou interpretação de um fato possa ser questionada. Os olhares são vistos como portadores da verdade, quanto mais autoridade os seus donos tiverem. As mídias funcionam como os antigos oráculos, dizendo a todos o que é a verdade. Seus consumidores são tratados como clientes e usuários de seus serviços.
A intriga é uma técnica comunicacional milenar. Foi inventada nas mais antigas sociedades complexas e diferenciadas. O bom intrigante é aquele que junta alguns elementos do real com algo fantástico, porém verossímil, e dirigido a impedir a compreensão efetiva. O que ele – pessoa ou instituição – deseja é que jamais se alcance a compreensão total, imaginando-se que a versão disponível é o suficiente e que o entendimento deva ser necessariamente fragmentário e incompleto, servindo aos senhores que disseminaram a intriga.
Apesar de ter elementos da mentira, a boa intriga também diz verdades. Mistura a ambas, dando credibilidade ao que se quer comunicar. Seu objetivo, por vezes, é o de semear a dúvida, destruindo uma outra versão mais realista sobre o mesmo fato. Por outro lado, os intrigantes querem descredenciar autores ou fatos já divulgados. Existem vários modos de impedir que se chegue ao que realmente aconteceu ou está acontecendo. Os nazistas praticavam barbaridades em seus campos de concentração e, ao mesmo tempo, faziam filmes de propaganda que os mostravam como algo próximo a hotéis de veraneio populares.
Os mais jovens não devem recordar os filmetes de propaganda na tv e nos cinemas do Brasil da época da ditadura militar. Nestes, vivia-se em um mundo sem qualquer problema, apesar da tortura e de outros atos criminosos do poder. O cartunista Henfil ironizava-os, dizendo nos seus desenhos magistrais, que nestas peças de propaganda as vacas usavam óculos de sol para verem a caatinga verdejante em plena estiagem. Nas aparições públicas das autoridades da época, o ufanismo e a idéia da ilha de prosperidade em um mundo turbulento chegava às casas dos teleaudientes, que tinham a função de concordarem ou deixarem o país.
A lista de intrigas e maledicências praticadas em várias épocas é interminável. O importante é compreender o fenômeno e disseminar o antídoto, tentando controlar o veneno. Seria bom que a utopia do verdadeiro, do belo e do bem, proposta por Jean-Pierre Changeux fosse possível e alcançável a todos. Sabe-se que os seres humanos, sem distinção, podem amar a verdade, cultivar a beleza e a bondade. Os homens e as mulheres são capazes de usar a razão e a emoção no sentido do desenvolvimento e proteção da espécie. Lamentavelmente, problemas relativos à ordem social e política impedem que estas potencialidades sejam alcançadas em plenitude.
No esquema de poder simbólico de nosso tempo, as personas midiáticas têm um papel especial. Elas são todos os que depois de expostos nas grandes mídias, transformam-se em referências, em uma espécie de semideuses(as) que iluminam o caminho dos que se transformaram em consumidores acríticos do poder midiático. Não raro, sandices imensas ditas por estas figuras são fartamente usadas pelas grandes mídias, que se aproveitam da pseudo-autoridade moral dos mesmos. Trata-se da intriga que resvala destas personas para o grande público.
As mídias falam, nestes casos, pela boca de intrigantes simpáticos ao grande público. Para além de um star system, têm-se no mundo de hoje a construção de um novo Olimpo, desenvolvido na comunhão entre o público e os profundos interesses mercantis em jogo. Inúmeras funções e profissões geram seus heróis midiáticos. O que eles falam afasta-se velozmente do que realmente eles são. Foram transformados em mercadorias e perderam qualquer pretensão a serem humanos de fato. Por suas bocas passam interesses muito maiores do que eles mesmos. Obviamente, que há ‘famosos’ que se recusam e que, ao contrário, postam-se em posições contra-hegemônicas. Alguns, simplesmente, se calam e não se deixam usar, o que já é muito.
A intriga e outros irracionalismos substituem a possibilidade de se pensar. No contexto atual, transformou-se a ciência em cargos, postos e egos controladores subordinados a interesses empresariais e pessoais. O belo transmutou-se em mercadoria e perdeu o seu antigo sentido libertador. A beleza continuou existindo naquilo que é produzido pela humanidade, mas, freqüentemente, é seqüestrada pelos interesses econômicos. Estes tentam de todo modo impedir que ela floresça e esteja disponível a todos através, por exemplo, das mil e uma possibilidades da obra de arte. A empatia entre as pessoas, isto é, a capacidade de sentir o que o outro sente, de se colocar na pele de quem está sendo humilhado e ofendido continuou viva. Todavia, a onda individualista-consumista do presente impede que, majoritariamente, exista qualquer compaixão.
Raciocinando-se de modo inverso, poder-se-ia listar inúmeros exemplos brasileiros e estrangeiros onde o verdadeiro, o belo e o bem foram e são cultivados. Existem os que se recusam. Não aceitam a moda. Não se dobram frente à onda social conservadora. Mantêm a compaixão e o sentimento de pertencimento ao mesmo povo. Estes são a chama acesa dos desígnios da humanidade. Podem ser circunstancialmente derrotados. No entanto, o futuro lhes pertence.

Luís Carlos Lopes é professor e autor do livro Tv, poder e substância: A espiral da intriga, dentre outros

Livre do medo

Agência FAPESP – Bloquear a manifestação de memórias de medo por meio de um método não invasivo e que não se baseia no uso de drogas. A novidade, que poderá ter implicações importantes no tratamento de problemas relacionados ao medo, acaba de ser demonstrada em artigo na edição desta quinta-feira (10/12) da revista Nature.
Estudos anteriores demonstraram como bloquear tais memórias, mas envolviam o uso de compostos tóxicos e duravam apenas alguns dias. No novo método, Elizabeth Phelps, da Universidade de Nova York, e colegas evitaram o uso de drogas ao se basear na fase conhecida como “reconsolidação” da memória, na qual memórias antigas podem passar por mudanças.
Após treinar voluntários a sentir medo de certos estímulos visuais, os pesquisadores apresentaram uma nova informação “segura” ao mesmo tempo em que reativavam as memórias de medo. Ao fazer isso, eles conseguiram “reescrever” os pensamentos negativos associados com os estímulos.
Os efeitos da intervenção duraram cerca de um ano e aparentemente não afetaram as memórias que não foram reativadas no momento da introdução da nova informação. Os autores do estudo concluíram que as memórias antigas de medo podem ser atualizadas com informações não amedrontadoras.
Os resultados reforçam a hipótese de que as memórias emocionais se reconsolidam a cada vez que são recuperadas. E que o período em que o processo ocorre tornar as memórias vulneráveis a modificações que podem ser induzidas. Ou seja, pode-se livrar o portador da sensação de medo para aquela determinada memória.
“O momento parece ser mais importante para o controle do medo do que imaginávamos. Nossa memória reflete mais a última vez que foi recuperada do que a exata recuperação do evento original”, disse Elizabeth.
Além das implicações no tratamento de distúrbios relacionados ao medo, os resultados apontam que o momento das intervenções terapêuticas tem um papel muito importante para o sucesso dos procedimentos.
“Inspirado em estudos básicos em roedores, essa nova descoberta em humanos poderá ser transferida para o desenvolvimento de melhores terapias para o tratamento de distúrbios de ansiedade, como o estresse pós-traumático”, disse Thomas Insel, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental, um dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, que financiou a pesquisa.
O artigo Preventing the return of fear in humans using reconsolidation update mechanisms, de Elizabeth Phelps e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

UMA CURIOSIDADE NA CIDADE DO CABO

BARTOLOMEU DIAS, UM OLHAR PORTUGUÊS

Mais de 500 anos após se ter tornado o primeiro europeu a navegar na costa sul-africana, e em particular na zona do Cabo das Tormentas, Bartolomeu Dias ocupa um lugar privilegiado no centro da Cidade do Cabo, na África do Sul.
A sua imponente estátua está em posição frontal ao Centro de Convenções, onde se realizou o sorteio para a fase de grupos do Mundial de Futebol que se realiza em 2010.
Será sem duvida uma boa orientação trágico/martima, para o regresso a Portugal, da Selecção Nacional, após a 1ª fase do Mundial, onde deve passar uns bons dias de estagio, e fazer 3 agradáveis jogos... mas não muito mais do que isso, fase ao seu potencial futebolístico, e aos adversários em presença no seu grupo de apuramento.

sábado, 5 de dezembro de 2009

O pior aluno do Mundo

"Em 1969, o indiano Shiv Pappu Charan fez uma promessa à namorada: assim que ele conseguisse formar-se numa escola para adultos já poderiam casar-se. Na última semana, aos 74 anos, foi ver as pautas das notas e descobriu que tinha chumbado pela 38ª vez!

Apelidado já de "o pior aluno do mundo", o melhor que conseguiu, de um a dez, foi um 3,4 a hindu... E a matemática já conseguiu chegar a 0,5!!! "Vou estudar até passar de ano, pois a minha motivação é poder casar-me", diz o voluntarioso estudante. E acrescenta esta atracção turística: "Quando vou fazer uma prova, as pessoas vêm de vários lugares da Índia para me ver", conta."

Eu tenho pena do homem e vou mandar-lhe a seguinte carta através do jornal que relata esta história:

Exmo sr. Shiv Pappu Charan,

Fiquei muito comovido com a sua história e a sua persistência. Decidi fazer uma colecta para que possa estudar em Portugal. E esqueça isso do curso básico para adultos, porque você merece um curso superior. De resto, já inscrevi uma vaga em seu nome na Universidade Independente (se reabrir!), reputadíssima a nível internacional e com um excelente leque de professores. Se não reabrir temos também as novas oportunidades. Vai ver que não só casa como ainda chega a administrador de um banco ou mesmo a primeiro-ministro...

Um português qualquer

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Afinal a Vacina da Gripe reduz mortes por enfarte entre idosos no Brasil

A vacinação contra a gripe comum reduziu em 20% a mortalidade de idosos por enfarte na cidade de São Paulo, Brasil, segundo pesquisa do Instituto do Coração de São Paulo (Incor). Isso acontece porque os efeitos da gripe no organismo, como desidratação, taquicardia, febre e processos inflamatórios, podem atuar como gatilho para problemas cardíacos.

"Pessoas imunizadas não ficam doentes ou têm quadros infecciosos muito mais leves, com menos riscos de complicações", explica Antonio Mansur, um dos autores da pesquisa publicada na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Os cientistas investigam agora a hipótese de que a vacina tenha um efeito protetor ainda mais importante para pacientes cardíacos jovens.

Os pesquisadores analisaram a mortalidade de idosos por doenças cardiovasculares na capital entre 1980 e 2006. Ao comparar o período anterior ao programa de vacinação - que em São Paulo começou em 1998 - com o período seguinte, verificaram queda de 36% nas mortes por enfarte. Desse total, 20% eles atribuem à influência da vacinação.

Estudos internacionais já tinham investigado os benefícios da vacina contra o vírus influenza para o coração, mas sua eficácia na prevenção do enfarte ainda é controversa. Este é o primeiro levantamento sobre o tema feito no Brasil.

Segundo Mansur, o próximo passo é investigar a hipótese de que a proteção da vacina para o coração seja importante em pacientes jovens. Ele explica que a inflamação causada pelas placas de gordura nas artérias é pior nos mais jovens porque o processo é recente.

A estratégia de vacinação de idosos contra a gripe começou em 1999 em todo o País. Hoje a imunização ocorre anualmente, entre a segunda quinzena de abril e a segunda quinzena do mês de maio. Na última campanha foram imunizados 82,73% dos brasileiros com mais de 60 anos, segundo dados do Ministério da Saúde.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo. (AE)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cheira mal, cheira a Lisboa

Tenho o nariz torto. A narina esquerda não funciona. Infelizmente, esta surdez parcial do meu olfacto não me protege do fétido fedor que sevicia quem passa ao largo de Aveiro. Falo do mau cheiro literal, não do figurado - do negócio do sucateiro Manuel Godinho ter quartel-general em Esmoriz, de Oliveira e Costa ser de Esgueira, e Vara e os Penedos serem visitas frequentes de Aveiro, onde mantêm longas conversas com o juiz de instrução criminal.
Se trapalhadas e negociatas obscuras libertassem realmente um odor pestilento, não se podia passar perto de Aguiar da Beira e os carteiristas do eléctrico 28 estavam no desemprego, pois a podridão do ar nos mais belos e ricos bairros de Lisboa afugentaria os seus 2,5 milhões de turistas.
A fábrica de Cacia da Portucel é a origem do fedor que tortura os automobilistas viciados na A1 e os passageiros económicos e/ou ambientalistas do Alfa. Há coisa de 15 anos, quando visitei esta celulose, comprovei a enorme capacidade humana em se adaptar a circunstâncias adversas. Achei que o almoço era a ocasião certa para fazer a pergunta. Fartos de a ouvir, os anfitriões responderam pacientemente que algumas semanas bastavam para concluir o processo de dessensibilização - e deixarem de sentir o cheirete.
Esta fantástica capacidade para comermos num ambiente de latrina preocupa-me muito, principalmente nesta altura em que para decifrarmos os casos de actualidade é preciso ter um curso de Direito (e dos bons, aqueles da Independente não chegam). Só assim compreendemos as nuances da arquitectura de um sistema judicial canceroso e sabemos traduzir para português um dialecto judicial atulhado de "atentados ao Estado de Direito", "elementos probatórios", "irrelevância criminal", "denegação de justiça", "medidas de coacção", "expedientes administrativos" e "emissões de certidões".
Temo que, tal como os trabalhadores da Portucel de Cacia, nós, os portugueses, nos dessensibilizemos e deixemos de sentir o fedor a podridão da pandemia de escândalos a que estamos sujeitos. Por isso, ou estes políticos conseguem reduzir drasticamente a quantidade de lixo que produzem e arranjam um eficiente tratamento da sua porcaria (dotando-se de um sistema subterrâneo de esgotos e de uma ETAR na periferia, longe dos nossos olhos) ou o melhor é darmos ouvidos ao conselho de Eça de Queiroz: "Os políticos e as fraldas devem mudar-se com frequência - pela mesma razão."
Não me apetece viver num país que cheira como uma casa de banho que continua em uso apesar ter o autoclismo avariado - e em que não consigamos ouvir a marcha "Cheira bem, cheira a Lisboa" sem nos escangalharmos a rir às gargalhadas.

“Jorge Fiel”

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Direito a vaga na garagem deve ser discutido em assembleia

Cada prédio tem a sua regra. Sempre dá discussão. As pessoas precisam se informar antes de comprar ou alugar um imóvel.
Em uma cidade como São Paulo, onde há 27 mil edifícios, esse problema se multiplica. Muitos são com vagas contadinhas. Quando sobra uma, ela é disputada. O gráfico Manoel Forniele tinha direito a três. Uma delas alugou para a vizinha: “É um dinheirinho a mais”.

O especialista em direito imobiliário Márcio Rachkorsky lembra que o Código Civil também permite o aluguel para pessoas que não são moradoras do prédio. Por questão de segurança, ele sugere que o condomínio discuta o assunto, em uma assembleia.

“A grande dica é não permitir a venda e a locação para terceiros, só usa a vaga de garagem, quem efetivamente mora no condomínio”, diz Márcio Rachkorsky.

Existem dois tipos de garagem: autônoma e indeterminada. Na primeira opção, o dono do imóvel tem a escritura, paga IPTU e pode vender a vaga. A indeterminada permite que o morador alugue a garagem, mas ele não pode vender, porque ela faz parte do apartamento.

Na vaga da garagem, o morador só pode parar o carro. Mesmo que não tenha veículo para estacionar, não deve colocar, por exemplo, móveis, eletrodoméstico e transformar o espaço em um depósito. Cada condomínio define regras e tem um regimento interno para punir quem desrespeita essas regras.

Um prédio quase multou um morador que lotou a vaga de bugigangas. “Carrinho de bebê, caixas, coisas que não cabiam na casa dele”, diz a síndica Luciana Sanches.

Depois de muita conversa, o morador retirou tudo. Lugar de moto é na vaga de moto. Não pode ficar junto com o carro, na mesma vaga. A única exceção é para as bicicletas, porque por enquanto não existe um bicicletário.

No prédio, foram construídos vários quartinhos na garagem. É um cantinho para colocar a bagunça e deixar as vagas livres para os carros. Em outro condomínio, a saída para evitar discussões foi contratar manobristas.

Antes de alugar ou principalmente comprar um imóvel não esqueça de olhar a garagem. A vaga pode se transformar num problemão, difícil de administrar.

“Você realiza o sonho da casa própria, compra o apartamento lindo e quando vai ver o carro não cabe na sua vaga”, destaca o advogado Márcio Rachkorsky.

Colocar móveis e objetos nas vagas de garagem também desvalorizam o empreendimento. O prédio tem seguro e quando a seguradora faz a vistoria, presta atenção a esse tipo de uso inadequado.

sábado, 28 de novembro de 2009

FINALMENTE, UM DISCURSO INTELIGENTE SOBRE A CRISE, DÍVIDA E CRESCIMENTO

JEAN-PAUL FITOUSSI PRESIDENT DE L'OBSERVATOIRE FRANCAIS DES CONJONCTURES ECONOMIQUES (OFCE)
Jean-Paul Fitoussi: "Je verrais bien 100 milliards d'euros et même plus"

http://www.lesechos.fr/info/france/300387686.htm

A quelques jours de la remisedu rapport de la commission Juppé-Rocard, le débat fait rage au sein de la majorité surle montant du grand emprunt. Est-ce le bon angle d'attaque ?
L'ampleur du grand emprunt doit être à la mesure de notre ambition. S'il est petit, cela veut dire que nous sommes timorés, que nous craignons l'avenir. Si on veut redonner confiance aux populations dans le futur - et nous entrons dans une société de défiance où le futur apparaît déprécié et injuste -, il faut des actes de courage politique. La France fonctionne par grandes annonces qui mettent la parole publique en jeu. Si la " baudruche " se dégonflait, avec un grand emprunt autour de 10 milliards d'euros, cela indiquerait que le gouvernement n'a plus confiance en l'avenir. Le débat sur le montant est en ce sens magnifique, il oblige le gouvernement à aller dans la bonne direction.
Quel montant préconisez-vous alors ?
Le minimum, pour moi, c'est 50 milliards d'euros et cela me paraîtrait précautionneux. Je verrais bien en réalité 100 milliards d'euros et même plus. Le moment n'a jamais été aussi propice à la prise de risques.
Les Français, qui voient l'état des finances publiques, ne sont pas très allants...
Les Français sont angoissés parce qu'on ne leur parle que de la dette. C'est un effort de contre-pédagogie qui s'apparente à un lavage de cerveau. Si la dette était si mauvaise, il n'y aurait pas d'entreprises ! Il n'y a pas de risque sur la signature de la France et un emprunt n'a jamais appauvri une nation s'il correspond à la construction d'un actif : à l'emprunt correspondra un actif patrimonial d'au moins égal montant. Il serait étonnant qu'au moment où il exalte l'esprit d'entreprise le gouvernement soit timoré. Ce qui m'inquiète, c'est la hausse du stock de chômeurs, pas celle du stock de dette.
Pourquoi nos voisins européens ne se sont-ils pas engagésdans des projets similaires ?
Ce n'est pas une raison de ne pas le faire. Les autres pays européens se sont engoncés dans des attitudes doctrinales - c'est le cas de l'Allemagne -, se considèrent insolvables - c'est le cas de l'Italie - ou ils ont été trop frappés par la crise, comme l'Espagne. La France doit justement donner le leadership, parce qu'elle est moins frappée par la crise et parce qu'elle a une grande expérience de ces questions. La croissance française d'aujourd'hui dépend des investissements qui ont été faits il y a vingt ans : le nucléaire, le TGV, l'aéronautique...
Un débat persiste au sein de la Commission pour savoir s'il faut ou non que le grand emprunt finance des infrastructures...
Tout dépend de leur rentabilité. Construire des tunnels entre la France et l'Italie présenterait une grande rentabilité économique, tout comme la rénovation urbaine : la baisse des temps de commutation augmente la productivité et le bien-être, ce qui porte ses fruits tout de suite et à très long terme. Sur l'économie de la connaissance en revanche, au lieu d'investir dans les systèmes d'organisation, il faut faire un pari sur les hommes, car la liberté est consubstantielle d'une bonne recherche.