quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Descobridor de 2 mil cometas

Entre o Natal e o Ano Novo, uma marca histórica foi motivo de uma pequena celebração por parte de cientistas das agências espaciais europeia (ESA) e norte-americana (Nasa). No dia 26, o Observatório Solar e Heliosférico (Soho, na sigla em inglês), parceria entre as agências, descobriu seu cometa de número 2.000.
O veículo espacial de 610 quilos se tornou o maior descobridor de cometas graças à ajuda de cientistas e astrônomos amadores de diversos países, que analisam os dados obtidos.
O responsável por ter identificado o cometa de número 2.000 – e também pelo 1.999º – foi Michal Kusiak, estudante de astronomia na Universidade Jagiellonian, na Polônia. Kusiak é um bom exemplo de usuário do Soho, tendo descoberto mais de cem cometas desde novembro de 2007.
Mais de 70 pessoas de 18 países já ajudaram a encontrar cometas em meio às imagens que o projeto Soho disponibiliza na internet. O curioso é que o Soho não foi projetado para encontrar cometas, mas para estudar e monitorar o Sol.
“Desde seu lançamento, em 2 de dezembro de 1995, o Soho foi responsável por mais do que dobrar o número de cometas cujas órbitas foram determinadas nos últimos 300 anos”, disse Joe Gurman, cientistas responsável pelo projeto do observatório no Centro de Voo Espacial Godard, da Nasa.
“Há muitas pessoas buscando cometas. Eles fazem isso por prazer e de graça, de forma muito criteriosa. Se não fosse por essas pessoas, grande parte dos cometas não seria conhecida”, disse Karl Battams, responsável pelo site que a missão Soho mantém para reunir as informações dos cometas descobertos.
Battams é quem recebe os relatórios de cientistas, estudantes e astrônomos amadores que apontam ter localizado pontos nas imagens feitas pelo Soho que aparentam ter determinados tamanhos e brilhos e estarem se movendo em direção ao Sol – características dos cometas descobertos pelo observatório espacial.
Caso a descoberta seja confirmada, o cometa recebe um número não oficial e a informação é enviada ao Centro de Planetas Menores, em Cambridge, nos Estados Unidos, responsável pela categorização de corpos astronômicos e de suas órbitas.
Mais informações: http://sohowww.nascom.nasa.gov

Veja algumas curiosidades sobre o corpo humano

Novo estômago


Você sabia que seu estômago ganha um revestimento novo a cada três ou quatro dias? Do contrário, os ácidos fortes que seu estômago usa para digerir a comida também o fariam digerir-se.




Memória de cheiro


Nos seres humanos, a capacidade de sentir cheiros é bem mais desenvolvida do que a de degustar os alimentos. Seu nariz pode não ser tão sensível quanto o de um cachorro, mas ele é capaz de lembrar-se de 50 mil cheiros diferentes.




Intestinos longos


O intestino delgado é cerca de quatro vezes maior que a altura de um adulto médio. Se ele não desse voltas e mais voltas, seu comprimento de 5,5 m a 7 m não caberia dentro da cavidade abdominal, tornando as coisas meio bagunçadas para nós.




Bactérias


Isso realmente vai fazer sua pele arrepiar: cada 6,4 cm2 de pele no corpo humano tem cerca de 32 milhões de bactérias, mas felizmente, a grande maioria delas não oferece risco algum.



Fonte do odor do corpo


A fonte de pés com chulé, como a do cecê, é o suor. E as pessoas transpiram muito em seus pés. Um par de pés tem 500 mil glândulas sudoríparas e pode produzir mais de 470 ml de suor por dia




Velocidade do espirro


O ar do espirro humano pode viajar a uma velocidade de 160 km/h ou mais - outra boa razão para você cobrir seu nariz e boca quando espirrar, ou desviar a cabeça quando ouvir um vindo em sua direção.


Distância do sangue


O sangue tem uma longa estrada para percorrer: estendidos de ponta a ponta, há cerca de 96,5 mil km de vasos sanguíneos no corpo humano. E o trabalhador árduo que é o coração bombeia cerca de 7.500 litros de sangue através dessas veias todos os dias.




Quantidade de saliva


Você pode não querer nadar em sua saliva, mas se você guardasse toda ela, poderia. Durante sua vida, uma pessoa média produz cerca de 23.650 litros de saliva - o suficiente para encher duas piscinas.




Altura do ronco


Aos 60 anos de idade, 60% dos homens e 40% das mulheres vão roncar. Mas o som de um ronco pode parecer ensurdecedor. Embora o ronco beire os 60 decibéis (o nível de ruído de uma fala normal), ele pode atingir mais de 80 decibéis. Oitenta decibéis é tão alto quanto o som de uma britadeira quebrando o concreto. Os níveis de ruído acima de 85 decibéis são considerados perigosos ao ouvido humano.



Cor e quantidade de cabelo


Louras podem ou não se divertir mais, mas elas definitivamente têm mais cabelo. A color dos cabelos ajuda a determinar quão denso o cabelo da cabeça é, e as louras (apenas as naturais, claro), lideram a lista. A cabeça humana média tem 100 mil folículos capilares, cada um dos quais é capaz de produzir 20 fios de cabelos durante a vida de uma pessoa. As louras têm cerca de 146 mil folículos. As morenas tendem a ter cerca de 110 mil folículos, enquanto aquelas com cabelos castanhos têm exatos 100 mil folículos. As ruivas têm a cabeleira menos densa, com cerca de 86 mil folículos.




Crescimento das unhas


Se você corta as unhas das mãos com mais frequência que a dos pés, isso é natural. As unhas que ficam mais expostas e são mais usadas geralmente crescem mais rápido. As unhas dos dedos das mãos crescem mais rápido na mão que você escreve e nos dedos mais longos. Em média, unhas crescem cerca de 2,5 mm por mês.



Peso da cabeça


Não é de se espantar que os bebês têm dificuldade para sustentar suas cabeças: a cabeça humana tem 1/4 do nosso comprimento total ao nascimento, mas apenas 1/8 quando chegamos à fase adulta.




Necessidade de sono


Se você disser que está morrendo por uma boa noite de sono, pode estar sendo literal. Dá até para ficar sem comer por semanas sem sucumbir, mas 11 dias é o máximo que se chega sem dormir. Depois de 11 dias, você dormirá - para sempre!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Uma viagem no que já foi a minha “terra” – aeroporto imaginário


Por razões pessoais e algumas felizmente poucas profissionais, tive muito recentemente, e embora contrariado atendendo a época invernal do ano, diga-se, que me deslocar a Portugal, local que não visitava a cerca de 2 anos, e que pude constatar continuar tão ou mais ainda mal frequentado do que a quando da minha ultima passagem pelo retângulo luso.
Chegado ao aeroporto, dito internacional, da Portela de Sacavem, e se ainda o apelido com essa denominação, é porque acho que ainda não lhe mudaram o nome como fizeram a tantas e tantas outras coisas e locais que pude ir verificando, meio embaralhado e até mesmo aparvalhado, o quão diferentes estão no tempo e no modo.
Portugal não se aportuguesou, mas sim se aburguesou e prostituiu a tudo aquilo que os predestinados proxenetas da Europa entendem aqui colocar, sem que para tal uma só voz se levante para contrariar a dominação dos estranjas. Veja-se que já nem o Algarve se denomina de Algarve, mas o chamam já de outra coisa inglesada para tentar vender a imagem... e só ainda não tem nada que ver com a nobre palavra “merda” porque poderia ofender os nobres cheiros do Tamisa... muito embora a qualidade da região esteja a cair a olhos vistos...
Mas dizia eu, que chegado ao tal dito cujo aeroporto, repito, também dito de internacional, e após cerca de 8 horas seguidas de voo, eis que fui presenteado a chegada não com uma exibição dos pauliteiros de Miranda, ou um rancho  folclórico das Beiras, mas com uma verdadeira maratona de, e não querendo exagerar, uns bons 2 km, de labirínticos corredores até conseguir heroicamente chegar a zona de fronteira e recolha de bagagem. Digo eu, mas não posso esquecer os restantes companheiros de viagem a que nem sequer escaparam do suplicio os elementos da tripulação da TAP que por certo vão participar com muito êxito na próxima travessia do Tejo, tal o numero de vezes a que tem de se sujeitar a tamanha prova de esforço e gloria.
Não sei, e muito menos, me, interessa, saber o nome com que batizaram a criatura de quem terá sido a superior sumidade aparvalhada de desenhar uma aberração tamanha. Não duvido que tenha sido formada em uma qualquer universidade independente de vão de escada, é que só de locais desses podem sair obras com o arrojo de tamanha ineficiência social, que só pode levar a que milhares de turistas procurem a muito curto prazo outros locais para correrem maratonas menos dolorosas dentro de um edifício que se queria simples e o mais funcional possível.
Quem obviamente aprovou a construção, isso todos sabemos, e tem que ver com custos de metro cubico de betão, mas alvenaria, mais cabo elétrico, mais ar condicionado as centenas, mais... mais... da mesma roubalheira que já todos percebemos existir em quase cada esquina da sociedade portuguesa atual.
É um autentico fartar vilanagem!!!
Sacar enquanto podem...
Dizer ainda que os gastos com tamanha obra devem ter sido incomportáveis para o orçamento geral do Estado, e assim se pode verificar para onde esteve, e ainda esta, a ir o dinheiro dos impostos sacados aos portugueses, bem como para onde vai ter que ir o dinheiro a pagar a Comunidade Europeia que embarca nestas aventuras quixotescas, porque obviamente existem muitas empresas engajadas politicamente no Parlamento europeu e na Comissão Europeia, sempre interessadas em meter a colher nestas magnânimas obras.
Posto isto, e muito ainda poderia referir para já não falar nos custos de manutenção do local, bem como a energia que se gasta em cada hora de iluminação artificial e ar condicionado ligado para manter o labiríntico corredor com ar... para al[em da necessária limpeza, etc... Quanto a divulgação de Portugal e das suas ainda existentes belezas naturais nem um simples cartaz a anunciar as festas da Senhora da Agonia... ou o concerto da fadista nacional do momento no Coliseu de Lisboa ou no caixote da musica do Porto.
Coisas que só acontecem em Portugal, o tal País governado de e para as bananas, que ainda se continua a achar o centro do universo!
Na realidade para quem não vive em Portugal, inebriado pelo jogo de luzes a que fica exposto diariamente, e chegados aqui, percebemos que se trata de um simples terrinha cheia de gente com uma cara de susto, envelhecida precocemente, e entristecida, com os velhos sorrisos empenhados a alguns anos, e sem o mínimo de hipótese de serem recuperados.
Portugal é hoje sim o tal País triste do fado... do triste destino... de tudo o que os poetas foram escrevendo, e os fadistas cantando, querendo expulsar nos maus destinos.
Só que o raio do destino esta mesmo lá no Portugal que foram delapidando...
Que pobreza franciscana... uns quantos – poucos – com tanto, e todos os outros – muito mais do que muitos – sem rigorosamente nada!
Mas o tal nada – absolutamente nada – ainda esta para vir com a chegada do fim dos fundos comunitários e a exigência do pagamento da extensa fatura de décadas de abusos políticos, sociais e econômicos.
Quando chegamos a dita fronteira de entrada no espaço europeu, deparamos com solícitos funcionários que olham para os passaportes como autentico porco a olhar para um colar de perolas, confrontando a cara da foto tridimensional com a realidade visível a sua frente. Dão duas passadas nas folhas para lá, e mais umas três para cá, e devolvem o passaporte sem ao menos aplicar um simples carimbo de confirmação de entrada na tal Europa que dizem esta cada vez mais blindada a entrada de ilegais e outras criaturas que vivem saltando de sociedade em sociedade buscando o almejado paraíso nunca descoberto.
Nas realidade no que diz respeito a alguns turistas que comigo viajavam, pude verificar uma mais do que criteriosa aplicação das velhas leis do Reich, com apalpação, inquirição, e outras determinantes formas de compulsiva tentativa de fazer desistir o turista de uma estadia que se anunciava no mínimo agradável. Os que surgem a salto... todos sabemos quem quem são e quem facilita as suas entradas nas fronteiras. Não podem ser ingênuos a esse pontos meus Caros.
Será então que alguma alma caridosa me pode explicar, mesmo que muito devagarinho, para que eu apesar das minhas limitações tente entender, como alguém pode provar oficialmente que eu tenha chegado a Lisboa – Portugal – Europa, no dia 9 de Dezembro do ano da graça de 2010... bem que eu podia ter saído pela pista do aeroporto afora, e saltado a vedação lá para as bandas da praça do relógio, que lhes daria igual. Não existe registro nem a mínima garantia de que um tal de José da Silva tenha realmente aterrado em Lisboa no voo TP0156, e ali tenha efetivamente desembarcado.
De facto desembarquei, passei a fronteira de entrada, estive na Europa até ao dia 20, mas no meu passaporte ninguém pode provar que tal tenha acontecido, pois apenas existe registo de saída do Brasil e reentrada. Vai dai, quem sabe eu tenha cometido um lapso, e por mero engano não tenha apanhado um voo para Lisboa – Portugal e sim para Marte...
A minha duvida se acentua cada vez mais, depois de ter podido ver in-loco a sociedade de marcianos em que transformaram o País a que alguns ainda chamam de Portugal.
Será que viajei a Marte e a minha agencia de viagens não me avisou de nada!!!
“João Massapina”

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Barreiro, uma ilha à espera de ser redescoberta

O que é que o Barreiro tem? Um ambiente experimental urbano, festivais, música, uma zona industrial com inúmeras possibilidades de reconversão e uma identidade assentes no associativismo. O que é que o Barreiro não tem? Talvez a capacidade para estimular o potencial que tem entre mãos
 
Uma cidade é feita de muitas camadas. Comecemos pela pele. O Barreiro é dormitório. Subúrbio. Viagem de barco de vinte minutos a partir de Lisboa. Metrópole de gases poluentes expelidos por fábricas e de oficinas da CP com aspecto caduco. Cidade de gente cansada que mal dorme e trabalha em Lisboa num escritório. A pele, o senso comum, os chavões, não falseiam.
Mas não revelam tudo. A pele revela apenas um ponto de vista. Observemos melhor, como o arquitecto é capaz de perceber as possibilidades de uma casa mesmo se para os leigos ela parece estar em ruína. O Barreiro possui a área com mais potencialidade de reconversão da zona metropolitana, bairros operários com aptidão de transfiguração e um património industrial sem igual.
Tem colectividades em cada ruela. Modos de relacionamento que funcionam como factores de coesão social. O associativismo é uma forma de estar. É uma urbe participativa. E possui um ambiente urbano singular, assente na urgência de fazer, em festivais de música, em grupos rock, numa escola de jazz, no teatro, na boémia e numa das populações mais jovens do país.
Nos anos 80, num concurso da RTP, à pergunta "que cidade é famosa pelo seu nevoeiro?", uma senhora respondeu, confiante, "Barreiro". Para muitos ainda será assim. Mas é possível avistar outra realidade, como o realizador e fotógrafo Anton Corbjin, que ali achou o lugar pós-industrial ideal para filmar os U2 em 2004.
O alvoroço na música
A pele revela. Mas é preciso saber ver. António Câmara, professor catedrático, director da YDreams, Prémio Pessoa em 2006, anda a olhar para o Barreiro há muito. "Fui pela primeira vez, em 1972, aos 16 anos, para ver jogar Earnest Killum, antigo jogador dos Los Angeles Lakers, que o Barreirense havia contratado", recorda. Durante esse ano apanhava o barco de Lisboa para a outra margem, para assistir aos jogos de basquete. Quando regressou dos EUA e foi viver para o Meco, o filho acabou no Barreirense. "Levei-o a uma sessão de treino, percebi o entusiasmo que havia naquele lugar e não hesitei." Ainda hoje pensa que foi uma das melhores decisões da sua vida. "Foi a melhor 'escola' que ele podia ter frequentado, aprendendo valores fundamentais como a paixão, o espírito de sacrifício, a resistência, saber ganhar e perder." Aprendeu basquete e também a "aspirar à excelência."
Durante cinco anos, quase diariamente, conduzia o filho aos treinos e depressa apreendeu elementos fundamentais da cidade: "Percebi que havia um espaço, a Quimiparque, ou seja a ex-CUF, que é o espaço com mais potencial na área metropolitana de Lisboa, porque está à beira do rio e são quase 300 hectares onde seria possível fazer uma nova Expo, mas mais experimental."
E também que havia uma atmosfera cultural própria. "Notei que havia boas livrarias, como a Bocage, e um grande interesse pela música - não só no Barreiro, como nas áreas adjacentes. Havia muitos grupos ligados ao rock, jazz ou hip-hop. Senti que havia ali um ambiente experimental urbano que era fora do comum. E depois havia também um associativismo que me surpreendeu."
Os indícios desses anos avolumaram-se. Hoje discute-se o futuro da área industrial da Quimiparque e do ponto de vista cultural vive-se um momento agitado. A companhia de teatro Arte Viva celebra 30 anos, integrando uma escola que tem hoje 100 alunos, maneira de integrar a população. Mas é sobretudo na música o alvoroço.
Em Setembro, no auditório Augusto Cabrita, decorreu o festival Barreiro Outras Músicas (BOM), com os americanos Anti-Pop Consortium, figuras de proa do hip-hop progressista, o alemão Oval, nome fundamental das electrónicas abstractas, ou os portugueses Lula Pena, Tigrala e os locais The Hidden Cookie. 
Durante o mês de Outubro decorreu "A Cidade e a Música" com mais de uma dúzia de espectáculos dedicados a várias áreas musicais. A meio de Outubro foi a vez da sétima edição do OUT.FEST, evento maior em Portugal no campo das músicas exploratórias, que contou com Panda Bear (Animal Collective), nomes do jazz de vanguarda (Alex Von Schlippenbach e Lol Coxhill) ou projectos mais do que credíveis como os americanos Oneothrix Point Never e Emeralds.
No segundo fim de semana de Novembro foi a vez da 10ª edição do Barreiro Rocks, no Clube Desportivo Ferroviários, com os americanos Strange Boys e King Khan & The Shrines ou os locais Nicotine's Orchestra. Duas noites esgotadas com rock & roll, celebração, festas depois dos concertos, ambiente multifacetado, engalanado pela presença do "crooner" Vieira, 81 anos, mestre de cerimónias de um acontecimento que atrai espanhóis e ingleses.
Todos estes acontecimentos têm o apoio da câmara local (no caso do OUT.FEST, também da DGartes) e acontecem em espaços como o Auditório Augusto Cabrita ou a Casa da Cultura, mas também nas incontáveis colectividades e associações, como Os Franceses, Penicheiros, Ferroviários, Clube Naval ou Cine Clube.
Mas não é só os festivais. É também a proliferação de projectos. Por um lado existem bandas conotadas com as linguagens mais exuberantes do rock - onde a cabe distorção, energia descontrolada, mas também a soul ou funk dos primórdios -, algumas delas agrupadas na compilação "Barreiro Rocks" da colecção OptimusDiscos, como Act Ups, Ballyhoos, Tracy Lee Summer, Fast Eddie & The Riverside Monkeys, Nicotine's Orchestra, Los Santeros, Sullens ou Singing Dears. Alguns músicos, com destaque para Carlos Ramos (Nick Nicotine), circulam por algumas destas formações, ele que é também o mentor da editora-associação-produtora Hey! Pachuco!
Por outro, existem músicos como Mike Styles ou os Hidden Cookie, mais próximos da folk ou do rock alternativos, ou os Frango, PCF Moya, Pow! ou Tiago Sousa, mais difíceis de enquadrar e conotados com diversas linguagens exploratórias. Há ainda a Escola de Jazz do Barreiro, dirigida pelo músico Jorge Moniz, embrião de actividades, como os concertos semanais no espaço Be Jazz Café, com formações que tanto contemplam alunos, como nomes firmados do jazz. E inúmeros projectos de hip-hop e kuduro, a maior parte ainda confinada à invisibilidade.
Partilha do conhecimento
Não nasceram de geração espontânea. Há muito que a cidade é lugar de música e boémia. Durante o antigo regime a música estava ligada ao movimento associativo, com cantores reprimidos pelas autoridades a tocarem em colectividades, facultando uma oferta cultural que não se encontrava em mais nenhum lugar.
Rui Paz, arquitecto, trocou o Barreiro pelo Porto há dez anos, mas não esqueceu o papel que as colectividades tiveram na educação de avós e pais. "A população nos anos 50, 60 e por aí fora era muito culta, em comparação com a média em Portugal, por causa delas [das colectividades]. Havia bibliotecas, partilha do saber." Hoje as novas gerações voltam a reaproveitá-las como espaços culturais, mas Rui Paz queria que se fosse mais longe. "O modelo das colectividades é actual - essa ideia da partilha do conhecimento - mas teria que ser feita uma readaptação aos nossos tempos."
Nos anos 80 foi o ímpeto das rádios piratas (Margem Sul ou Sul e Sueste) e de alguns espaços nocturnos, como os pequenos bares Alburrica e Portão, e os inúmeros cafés e tascas das ruelas do chamado "Barreiro velho", como a relaxada Vinícola, que funcionaram como embrião de algumas aventuras importantes.
Vivia-se o período pós-punk e o Barreiro era comparado à Manchester dos Joy Division pela paisagem industrial, mas também porque albergava muitos melómanos a par do que se passava de mais aventureiro nas capitais do mundo. Foi nesse contexto que na segunda metade dos anos 80 grupos como os Rocócó, marcados pelas visões industrias, ou os Soberano Veste Chanel, acabam por alcançar alguma projecção.
A primeira metade dos anos 90 são marcadas pelo grunge e pela explosão da música de dança e o Barreiro estava lá. Na discoteca Os Franceses, adjacente à colectividade do mesmo nome, ouvia-se tecno e house, coisa rara em Portugal. À frente dos destinos do bar Alburrica estava Jorge Sol, que havia integrado os Rocócó, e que é actualmente director criativo da MiopiaDesign.
"Em termos musicais estávamos alinhados com aquilo que se passava em Lisboa" recorda. "Foram anos incríveis. Mas não era só o Alburrica. Era também o Portão, a Carvoaria, os Franceses, o DNA, existia um circuito nocturno estimulante."
Hoje continua a sentir uma "dinâmica criativa enorme." Mas a noite está diferente. Nesse período havia uma mística - "nos anos 90 havia malta que fazia 30 quilómetros para vir ao Barreiro" - que se perdeu. "Essa ideia de circuito não existe, com excepção do Alburrica que continua a ser um local de culto."
Hoje o ponto de encontro é o largo dos Penicheiros, onde jovens de cerveja na mão circulam de café em café. O espaço da Chapelaria, importante local de cumplicidade, fechou. O mesmo acontecendo com El Matador (mais tarde Espaço B), local que no início de 2000 albergou as bandas que marcam o ritmo da cidade.
Mas a correia de transmissão entre gerações funcionou. Nos anos 90 algumas bandas rock distinguiram-se, como os Gasoline, Toast ou Unladylike Scream. Com meia dúzia de concertos, os últimos são a banda mais recordada, em parte pelas performances viscerais do cantor Paulo Lameira e do guitarrista Nuno Cunha - há vídeos no youtube que o testemunham. Para Nick Nicorette eles foram "a coisa mais intensa que o Barreiro já viu."
Rui Paz não se esqueceu desse período. "O Lameira era um tipo incrível em palco, havia uma energia particular em tudo aquilo. O Barreiro era especial, com gente muito criativa, mas é preciso alimentar essa criatividade, comunicá-la, de contrário esgota-se. Deve ter acontecido isso com os Unlady e com outros. Em lugares como o Barreiro a possibilidade de se passar completamente ao lado de qualquer coisa aumenta."
Uma visão algo semelhante tem Nelson Gomes, da produtora Filho Único e músico dos Gala Drop, que já não vive no Barreiro há oito anos. "É uma cidade que fica demasiado perto de Lisboa, mas ao mesmo tempo está longe, vive nesse conflito entre não querer ser subúrbio, tendo uma dinâmica própria, mas não conseguindo, acabando por estar sempre a olhar para Lisboa. Para quem quer ir mais além, não ficar abafado, só lhe resta sair."
O local e o global
Não vale a pena romantizar o que está a acontecer neste momento no Barreiro. Mas desvalorizá-lo é também não perceber como se geram este tipo de dinâmicas. Tiago Sousa sabe-o.
Responsável pela já extinta editora Merzbau (B Fachada, Lobster), envolvido na organização dos festivais, autor de um dos melhores álbuns portugueses do ano passado ("Insónia", música para piano de expressividade emocional), e com registo novo para editar em Fevereiro pela americana Immnune ("Walden Pond's Monk") aspira cada vez mais a comunicar para um público "global", mas continua ter um olhar muito lúcido sobre o "local".
"Não vale a pena embandeirar em arco com algo cujos defeitos e virtudes conhecemos bem, mas também é preciso não subestimar o efeito do que tem vindo a ser construído" afirma, dando exemplos: "ao cabo de dez anos, foi a edição com mais pessoas do Barreiro Rocks, com um ambiente saudável, muita gente de fora e uma dinâmica própria, e o OUT.FEST também foi o mais conseguido de sempre. A cidade tem ganho com a exposição dos festivais. Considerando que os fenómenos culturais são parte de um todo que envolve criação e público, o Barreiro é um fenómeno coxo, mas não será o pais inteiro assim? Não é expectável que mudemos isso. No entanto, dentro daquilo que está aqui a ser feito, o Barreiro é um fenómeno que importa alimentar."
A principal dificuldade é convencer a população local a envolver-se mais. "Essa é a maior esquizofrenia" diz. "Existe uma grande diferença entre aquilo que um grupo de pessoas, apesar de tudo reduzido, consegue fazer - atraindo pessoas de Lisboa e áreas adjacentes - e o espaço da cidade crescer a partir dessa base."
Rui Pedro Dâmaso, músico (Frango, PCF Moya) e organizador do OUT.FEST, tem postura semelhante. "É como se não fosse legitimo esperar que houvesse uma vida cultural aqui, "então isso faz com que as pessoas não estejam atentas ao que se vai passando fora de alguns círculos. Às vezes é difícil. As coisas vão acontecendo. Há entusiastas. Mas depois falta que haja mais coisas para além daquelas que vão sendo feitas por nós."
Ou seja, faz falta que a cidade se olhe ao espelho, e defina um rumo. "O que pode diferenciar a cidade de outro lugar suburbano é isso: a cultura. Quando acontecem os festivais é uma das poucas alturas do ano em que se projecta uma imagem diferente. Em que as pessoas vêm cá para algo que só o Barreiro pode oferecer."
A importância da memória
Geograficamente é uma cidade ambígua. Perto e longe de Lisboa. Talvez por isso a possível construção de uma ponte Chelas-Barreiro suscite divisões. Há quem defenda que essa é a única via de desenvolvimento, e quem sustente que isso a tornará numa cidade indistinta. "Isto não é como Almada ou a zona Norte de Lisboa" diz Dâmaso. Ou seja, não é  local de passagem. "Ao Barreiro só vem quem quer mesmo. Isto acaba por ser uma ilha."
Há um assunto onde todos estão de acordo. A história do Barreiro é rica e não tem sido valorizada junto das novas gerações, nem comunicada ao país, mesmo se há dois anos a CUF fez 100 anos e a data foi lembrada com uma série de iniciativas. Era preciso que esse legado não se perdesse, dizem.
A experiência da CUF foi incomparável. Foi ali que se fez a revolução industrial portuguesa. Ali se concretizou o sonho de Alfredo da Silva, o grande empresário português da primeira metade do século XX, que criou um novo conceito de família, à volta das fábricas, inovadora para a época. Substituiu-se aos deveres sociais do Estado, criou a sua própria segurança social, hospitais e escolas. Era um país dentro do país. O que é curioso que é a experiência da CUF volta a estar actual. Nos EUA, por exemplo, há uma série de experiências comunitárias ditas de carácter experimental, com características semelhantes.
Há todo um legado que se vai perder se não for feito nada, diz a arquitecta Joana Astolfi, que desenvolveu o design da exposição "Cem anos da Cuf no Barreiro", e que ficou fascinada com o que foi encontrar. "Não sabia nada sobre o Barreiro. Não sabia nada sobre o Alfredo da Silva. Ele criou um mundo. Há ali um património que interessava preservar porque a história da CUF é notável e merecia passar de geração em geração neste pais."
Há apenas um pequeno núcleo museológico, o Museu Industrial da Quimiparque, que está quase sempre encerrado, mas segundo Astolfi "já se perdeu imenso património. Há pessoas que coleccionaram peças antes de desactivarem as fábricas, mas quando lá cheguei encontrei tudo desorganizado. Apenas deu para ir buscar coisas com valor gráfico, visual e histórico. A sensação que tive foi: isto está esquecido. Tive que fazer uma filtragem enorme."
O espaço envolvente da Quimiparque, constituído por bairros operários, também encerra múltiplas possibilidades. Nos últimos anos uma série de empresas e ateliers (publicidade, design, serviços) fixaram-se ali, mas ainda há muito por desbravar. "Naquela zona devia existir um museu à séria", afirma Joana Astolfi, "com capacidade de atracção", porque, de contrário, "parte da nossa história, e da memória do Barreiro, perder-se-á."
No projecto que António Câmara tem para o Barreiro, desenhado em conjunto com a Câmara Municipal, a memória joga um papel essencial. "Há uma parte decadente da cidade" reconhece, "mas ao mesmo tempo há uma vibração enorme e foi por isso que delineámos um programa que pretende mobilizar as energias jovens que existem para fazer algo diferente e chegámos a um conceito a que demos o nome de Fabricarte." A ideia é criar um centro comunitário, misto de biblioteca do futuro, centro de ciência, zona de experimentação e fabricação - inspirado no conceito dos Fab Lab do MIT - e de incubadora de empresas." Para o projecto funcionar dois elementos essenciais interconectam-se.
"Um é a ligação aos antigos operários e às artes que eles dominavam, num contexto completamente tecnológico. A ideia era entrevistar quem tinha trabalhado na CUF nas mais diversas áreas e fazer um registo. Um trabalho de memória. Houve um trabalho do Instituto de Ciências Sociais sobre os artesãos de Portugal e é um pouco nessa linha. Investigar, detectar todos os saberes, e depois tentar adaptá-los às tecnologias modernas."
O propósito é fácil de compreender. "Há saberes que não convém perder. Por exemplo, nos EUA, neste momento, ninguém sabe fazer ecrãs. São feitos na China. Resultado: por cada emprego gerado pelos iPad nos EUA há dez empregos gerados na China. No Barreiro há saberes que se irão perder com estas gerações e que poderão ter interesse num contexto completamente diferente."
A outra componente importante do projecto "tem a ver com as áreas em que achamos que o Fabricarte devia especializar-se: a música e o desporto." O potencial de atracção já existe. Só tem que ser estimulado. Da música, já falámos. Do desporto, basta pensar no papel que clubes (Barreirense, CUF ou Luso) e colectividades tiveram na prospecção de talentos, que alimentaram, durante décadas, equipas de futebol como o Benfica de Bento, Chalana, Carlos Manuel, Diamantino e outros.
"A ideia era ter um centro onde se pudesse ler tudo o que há sobre música, experimentar música, fazer música, ou ler sobre desporto, com uma parte de experimentação que fosse quase um centro de ciência viva em que explorassem esses dois temas. Haver possibilidade das pessoas tocarem, inventarem novos objectos, utilizando a fabricação, imaginar novos sensores para o desporto, ou novos equipamentos, ou novos instrumentos musicais. Tudo ligado isto ligado à música e ao desporto."
E o que falta para o projecto avançar? O tradicional em Portugal - financiamento. Há dinheiros comunitários, falta a parcela portuguesa, afirma. "Toda a gente está interessada, tem imensas potencialidades e o Barreiro é o ambiente ideal", diz António Câmara. Seja com este, ou com outro projecto, o que os novos actores culturais da cidade desejam é que não sejam esquecidos. "Era importante agora que se fala muito do futuro da zona industrial, que aquilo que tem emergido como cultura própria do Barreiro pudesse ser integrado nessa ideia de futuro que é necessária para a cidade", conclui Rui Pedro Dâmaso.
O potencial de futuro está lá. A memória, a identidade, uma ideia de comunidade fragilizada mas que a ainda subsiste, a energia do fazer, a criatividade, os espaços com desejo de serem reconvertidos. Falta conectar. Estimular. Se isso acontecerá ou não o futuro dirá. Mas o filão está lá. Na ilha do Barreiro.

Vítor Belanciano