quinta-feira, 24 de junho de 2010

A emoção da pescaria

Se há duas coisas que eu gosto de fazer na vida, além das óbvias, é pescar e cuidar de jardim. Porém, das citadas, que mais me fascina (como entretenimento) é a pescaria.
Você que fica aí nesse chororó porque tua vida tá uma porcaria. Pois saiba que vai piorar. Levante-se, pegue um caniço e vá pescar. Antídoto este para qualquer adversidade.
A emoção da pesca esportiva está na sua qualidade e não do seu resultado a ser alcançado: quantidade de peixes. Outra: se você tem certeza de que não vai comer o peixe que fisgou, devolva-o à água, para que ele se desenvolva e se multiplique. Conciliando, deste modo, preservação com o prazer da pesca.
Sou da época - lá em Cajazeiras, garoto peralta que fui - não existia ainda essa parafernália de equipamentos para pesca, como existe atualmente. Tudo era simples: uma vara extraída da mata dos arredores da cidade, um fio de algodão e um anzol que logo se enferrujava.
Bons tempos aqueles. Fosse às águas do Açude Grande, do Açude de Luiz Guarda ou da Barragem Santo Antônio, nada escapava da minha argúcia e sagacidade do hábito da pesca, aliado a uma paixão inarredável pelas coisas da natureza.
Quem teve oportunidade conhecer de perto um verdadeiro pescador – aquele que vive da atividade pesqueira, certamente vai identificá-lo pelos costumes, o quotidiano, as conversas; quase sempre simpático, comunicativo, engraçado, disposto, elétrico e meio desfocado.
Ademais, tem fama de inventar os casos mais incríveis. Certa feita, um velho amigo, com sua fina ironia, saindo em defesa de um pescador, disse: “Qualquer um sabe dizer a verdade, mas é preciso inteligência para mentir”. À contrário da verdade, a mentira desenvolve a imaginação: “Pô mano! Falar a verdade é fácil, difícil é mentir bem, como pescador”.
Começar o dia vendo a beleza do mar da praia de Lucena, sempre é um abre-te-sesamo. Um sussurro aqui, uma insinuação ali dos banhistas, não me incomoda se terei ou não êxito com minha pescaria. Pois “somos o que amamos”, é uma expressão que está incluída na fraseologia de Santo Agostinho.

LINCOLN CARTAXO DE LIRA

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Doença mortal para anuros

Agência FAPESP – A dinâmica de uma doença mortal que tem dizimado populações de anfíbios por todo o mundo foi descrita em uma nova pesquisa, foi publicada no site e na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
A pesquisa destaca que é a intensidade da infecção – isto é, a gravidade da doença entre indivíduos –, e não apenas a sua presença ou ausência, o que determina se populações de anuros sobreviverão ou sucumbirão à quitridiomicose, doença causada pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis.
Os pesquisadores conseguiram identificar um ponto perigoso na intensidade da infecção, além do qual a doença causa mortalidade e extinção em massa. Segundo eles, episódios seguidos de infecção fazem com que a doença atinja esse limite.
“Verificamos que a mortalidade em massa apenas ocorre quando a severidade da infecção atinge um limite crítico entre os indivíduos. Agora que sabemos qual é esse limite, que se trata de um número específico de esporos fúngicos por anuro, os trabalhos de conservação poderão ser capazes de salvar espécies suscetíveis ao prevenir que a doença atinja tal ponto”, disse Vance Vredenburg, professor da Universidade Estadual em São Francisco, nos Estados Unidos, um dos autores da pesquisa.
Inicialmente, Vredenburg e colegas rastrearam a invasão e a distribuição da quitridiomicose em rãs na Sierra Nevada, na Califórnia, durante um período de 13 anos, com foco especificamente em duas espécies de rãs, Rana muscosa e Rana sierrae.
O grupo verificou que a doença é particularmente destrutiva quando invade uma população que até então não estava exposta, de modo semelhante à epidemia de varíola que matou milhões de pessoas nos séculos 17 e 18.
“Quando a quitridiomicose atinge populações de hospedeiros pela primeira vez, ela se espalha tão rapidamente que os processos naturais costumeiros que fazem com que um patógeno não cause extinção não têm chance de entrar em ação”, disse Vredenburg.
“Estamos vivendo em uma época em que o movimento global de pessoas e de mercadorias está provavelmente espalhando essa doença para áreas em que ela não existia, interrompendo o equilíbrio natural entre o patógeno e seu hospedeiro”, apontou.
A quitridiomicose já promoveu o desaparecimento de mais de 200 espécies de anuros (sapos, rãs ou pererecas) e representa uma grande ameaça à biodiversidade dos vertebrados, destacam os autores.
O artigo Dynamics of an emerging disease drive large-scale amphibian population extinctions (doi/10.1073/pnas.0914111107), de Vance T. Vredenburg, e outros, poderá ser lido na Pnas em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.0914111107.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quebras silenciosas

Agência FAPESP – Quando placas na crostra terrestre se rompem, isso nem sempre implica a ocorrência de grandes erupções vulcânicas. A conclusão é de um estudo publicado na revista Nature.

A pesquisa explica por que algumas partes do mundo experimentaram erupções de grande porte há milhões de anos, enquanto outras não.

A crosta terrestre é dividida em placas que estão em constante movimento – em períodos de tempo de milhões de anos. As placas ocasionalmente colidem umas com as outras ou se fundem. Também podem quebrar, formando novas.

Quando uma placa tectônica se quebra, uma coluna de rocha derretida pode ser ejetada do interior terrestre, causando uma forte atividade vulcânica na superfície.

Quando a crosta se abriu, promovendo a deriva continental que deu origem às atuais América do Norte e Europa, há cerca de 54 milhões de anos, o processo provocou uma atividade vulcânica intensa no espaço aberto.

Os cientistas estimavam que tal atividade ocorresse apenas nos espaços formados quando os continentes se separam, mas o novo estudo indica que houve pouca atividade vulcânica quando o atual subcontinente indiano se separou do que hoje se conhece por Seicheles, há 63 milhões de anos.

De acordo com pesquisas anteriores, a temperatura do manto abaixo da placa seria a chave para determinar o nível de atividade vulcânica no caso de rompimento. Mas o novo estudo demonstrou que a história anterior da fenda também influencia fortemente se haverá ou não atividade vulcânica.

No caso do rompimento que separou a América do Norte da Europa, uma atividade de grande dimensão ocorreu pela extensão da fenda porque um evento geológico anterior havia deixado a placa mais fina, destaca o novo estudo.

Isso teria fornecido um ponto focal no qual o manto sob a placa se derreteu rapidamente, formando magma que foi ejetado facilmente pela placa fina até a superfície, em grandes explosões.

Em comparação, quando a Índia se separou das Seicheles, pouca atividade vulcânica se fez presente, porque a região havia experimentado um forte vulcanismo em uma área próxima 6 milhões de anos antes. Isso teria esfriado o manto e reduzido o suprimento de magma, deixando muito pouco para quando ocorreu a quebra da placa.

Os pesquisadores realizaram análises nas profundezas do Oceano Índico de modo a determinar o tipo de rochas abaixo do solo oceânico. Descobriram apenas pequenas quantidades de rochas basálticas, que indicam atividade vulcânica anterior.

O grupo também usou novos modelos computacionais, que eles mesmo desenvolveram, para simular o que teria ocorrido no solo oceânico no processo que levou à separação da Índia e das Seicheles.

“Extinção em massa, a formação de novos continentes e mudanças climáticas globais são alguns dos efeitos que podem ocorrer quando as placas se quebram e causam grandes erupções. Nosso estudo ajudará a enxergar com mais clareza os fatores por trás dos eventos que contribuíram para moldar a Terra durante milhões de anos”, disse Jenny Collier, do Departamento de Ciência da Terra e Engenharia no Imperial College London, um dos autores do estudo.

Os pesquisadores pretendem explorar as profundezas do Atlântico, de modo a determinar a antiga atividade vulcânica na região que se abriu quando a África se separou da América do Sul.

O artigo The importance of rift history for volcanic margin formation (doi:10.1038/nature09063), de John Armitage e outros, pode ser lido na Nature em www.nature.com.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Corpo de um, cérebro de outro

Agência FAPESP – Um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, conseguiu modificar o cérebro de uma espécie de peixe de modo que ficasse parecido com o de outra espécie, tanto no formato como em suas características.
A transformação ocorreu por conta da aplicação de substâncias químicas de modo a manipular genes em embriões em desenvolvimento. O estudo foi publicado no site e na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Os cientistas também descobriram diferenças nos padrões gerais do cérebro no início de seu desenvolvimento, antes que funções neurológicas se formassem por meio do processo conhecido como neurogênese.
No desenvolvimento inicial do cérebro, a parte anterior (ou frontal) é especificada a partir da parte posterior. Em seguida, ocorre a neurogênese, à medida que células precursoras amadurecem e se tornam neurônios. Essas células precursoras podem se replicar indefinidamente, mas, uma vez que se tornam neurônios, a replicação termina.
Quanto mais tarde ocorrer a mudança de precursores em neurônios maduros, maior se torna o cérebro ou a região cerebral em questão. Segundo esse modelo, os cérebros de espécies diferentes, por exemplo, do homem e do camundongo, são semelhantes em seus estágios iniciais de desenvolvimento, mas se tornam bem diferentes por conta do processo posterior de neurogênese.
“Encontramos diferenças no padrão geral do cérebro tão cedo quanto 48 horas após a fertilização”, disse J. Todd Streelman, professor da Faculdade de Biologia da universidade norte-americana e um dos autores da pesquisa.
O grupo estudou o desenvolvimento cerebral em seis espécies de ciclídeos (família de peixes fluviais) encontrados no lago Malauí, na África, três que vivem em ambientes rochosos e três de locais arenosos.
“Repetimos diversas vezes testes de dois a quatro dias após a fertilização e verificamos que os ciclídeos de areia exibiam uma expressão maior do gene wnt1, conhecido como um fator importante no desenvolvimento da parte frontal do cérebro. Isso se relaciona com um maior tálamo, a estrutura posterior usada no processamento visual”, disse Jonathan Sylvester, outro autor do estudo.
As espécies de ciclídeos que vivem na areia usam a visão para detectar plâncton e seus cérebros são fortemente direcionados à integração de sinais visuais. Já aqueles que têm nas rochas seu hábitat se alimentam de algas e possuem cérebros maiores, talvez, segundo os pesquisadores, por conta da necessidade de se movimentar por ambientes mais complexos.
“Os genomas das duas espécies são muito semelhantes, quase tão parecidos quanto os genomas de dois humanos diferentes, mas seus cérebros variam tanto como os de dois grupos distintos de mamíferos”, explicou Streelman.
Os cientistas trataram embriões dos dois tipos de peixes com cloreto de lítio por cerca de quatro horas durante o início do desenvolvimento da parte posterior do cérebro a partir da anterior. Depois, os embriões foram devolvidos à água e analisados em diferentes estágios de desenvolvimento.
Os autores da pesquisa observaram que o tratamento alterou a sinalização do gene wnt1, que levou à redistribuição dos precursores para o tálamo posterior, induzindo a formação de um cérebro diferente.
“A neurogênese é um processo muito importante no desenvolvimento cerebral e em sua evolução. Apenas mostramos que há diferenças no processo de desenvolvimento que ocorrem muito mais cedo do que se suspeitava e que essas mudanças são também relevantes para a diversidade cerebral”, disse Streelman.
O artigo Brain diversity develops at the boundaries (DOI: 10.1073/pnas. 0914697107), de J. Todd Streelman e outros, poderá ser lido na Pnas em www.pnas.org.

Oceano marciano

Agência FAPESP – A recente descoberta de gelo em Marte reforça a teoria de que o planeta teva um passado muito menos árido do que o atual. Agora, segundo uma nova pesquisa, o planeta teve água – muita água.

O estudo, feito por dois pesquisadores da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, indica que Marte teve, há cerca de 3,5 bilhões de anos, um ciclo hidrológico semelhante ao existente atualmente na Terra.

O ciclo, de acordo com estudo publicado na revista Nature Geoscience, incluía o acúmulo de água no subterrâneo e a formação de nuvens, chuvas, rios e um oceano que cobria mais de um terço da superfície marciana.

O oceano teria tido um volume de 124 milhões de quilômetros cúbicos de água. O volume é menos de dez vezes o existente atualmente na Terra, mas ainda assim suficiente para formar uma camada de água com 500 metros de profundidade por todo o planeta vermelho.

O estudo, feito por Gaetano Di Achille e Brian Hynek, é o primeiro a combinar a análise de características relacionadas à agua, incluindo depósitos de deltas e milhares de vales de rios, de modo a investigar a ocorrência de um oceano sustentado por uma hidrosfera global no passado marciano.

Mais da metade dos 52 deltas de depósitos de rios identificados no novo estudo – cada um dos quais com numerosos vales – marcavam os limites do eventual oceano, uma vez que tinham aproximadamente a mesma elevação.

Dos deltas, 29 estavam ligados ao oceano ou a diversos lagos adjacentes de grande volume. Os pesquisadores combinaram dados obtidos por diversas missões das agências espaciais norte-americana (Nasa) e europeia (ESA).

Outro artigo, publicado simultaneamente no Journal of Geophysical Research, feito por Hynek e Monica Hoke, também da Universidade do Colorado, descreve a identificação de 40 mil vales formados por rios em Marte. O número é cerca de quatro vezes maior do que havia sido identificado previamente.

Os vales eram fontes de sedimentos carregados pelas correntes e levados aos deltas adjacentes ao suposto oceano. “A abundância de vales implica uma quantidade muito expressiva de precipitação. Isso praticamente acaba com a dúvida de que Marte teve chuva em seu passado”, disse Hynek. E um oceano era necessário para sustentar essa precipitação.

“Uma das principais questões que gostaríamos de ver resolvida no futuro é para onde foi toda essa água”, disse Di Achille. Segundo ele, futuras missões ao planeta – como a Maven, da Nasa, com lançamento previsto para 2013 – devem ajudar a responder tais dúvidas e aumentar o conhecimento a respeito da história da água marciana e da possível existência de algum tipo de vida no passado do planeta.

O artigo Ancient ocean on Mars supported by global distribution of deltas and valleys (doi: 10.1038/ngeo891), de Gaetano Di Achille e Brian Hynek, pode ser lido na Nature em www.nature.com/ngeo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A verdadeira felicidade

Qualquer pessoa que tem um mínimo de inteligência, um pouquinho de percepção, um pontinho de experiência sabe que todos nós temos direito a felicidade, não sofrimento. Não nascemos para o fracasso. Somos candidatos naturais a uma vida feliz, plena de sonhos e realizações.
Num mix de pensamentos, reflexões pessoais e verdades científicas ao longo de uma série de conversas, o Dalai-Lama disse, com seu jeito simples de explicar coisas complicadas, que a felicidade não é um luxo, mas o propósito de nossa existência.
Tá certo! Como corolário, é essencial não confundir felicidade com prazer. O prazer é a festa dos sentidos e pode se parecer com a felicidade, mas carece de significado. A felicidade, em contraste, repousa sobre o significado. Ela é estável e persistente, enquanto o prazer é simplesmente um bônus da vida.
Ao ensejo, nesta época de Boas Festas, conforta-me a lembrança da história, enviada (via e-mail) por um velho amigo, sobre “o pescador e o banqueiro”. Pois bem. Após conhecer as habilidades do pescador, o banqueiro de investimento americano perguntou-lhe: “Por que não gasta mais tempo e tira mais pescado?”
O pescador disse que tinha o suficiente para satisfazer as necessidades imediatas da sua família.
Volveu o americano: “Mas que faz você com o resto do seu tempo?”
O pescador afirma: “Depois de pescar, descanso um pouco, brinco com os meus filhos na companhia da minha mulher, vou ao povoado à noite, onde tomo vinho e toco guitarra com meus amigos”.
O americano replicou: “Sou um especialista em gestão e poderia ajudá-lo. Você deveria investir mais do seu tempo na pesca e adquirir um barco maior. Em seguida sairia deste pequeno povoado rumo à capital, donde geriria a sua empresa em expansão”.
O pescador perguntou-lhe: “Mas quanto tempo demoraria isso? “
O americano respondeu: “Entre 15 a 20 anos”. “E depois?”, indagou o pescador.
Diz o americano: “Você ficará rico, terá milhões!”
“Milhões... e depois?” tornou o pescador.
Aí o americano assevera: “Poderá então retirar-se. Vai para um povoado da costa, onde pode dormir até tarde, pescar um pouco, brincar com os seus filhos na companhia da mulher, ir todas às noites ao povoado tomar vinho e tocar guitarra com os seus amigos”.
Sem tergiversar, responde o pescador: “Por acaso isso não é o que já tenho?”
Conclusão: Quantas vidas se desperdiçam buscando alcançar felicidade que já se tem, mas que muitas vezes não vemos.
Feliz Natal!


LINCOLN CARTAXO DE LIRA

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Onde é que o fado nasceu?

O fado descende diretamente do romanceiro, o canto narrativo tradicional, cuja origem remonta à Idade Média. É, pelo menos, a convicção do investigador José Alberto Sardinha, plasmada no livro "A origem do fado", resultado de 20 anos de investigação.
Em "A origem do fado", José Aberto Sardinha contraria tudo o que até hoje se escreveu sobre a matéria. Que a história da chamada canção de Lisboa sempre andou envolta em mistério e que o género terá sofrido influências do Brasil, de África e do Médio Oriente era o que até agora se sabia. Mas, na investigação de José Alberto Sardinha, todas estas teorias são postas de parte. Para o autor, o fado não é só de Lisboa porque, explica com ironia, "nunca existiu à entrada de Lisboa uma alfândega musical que determinasse que dali nem saía o fado nem entravam chulas e malhões. Para mim, o fado tem a sua génese no romanceiro tradicional".
O investigador defende ainda a ideia de que o fado não nasceu nas tabernas, mas, sim, na rua e nas feiras. "Há 35 anos que sou investigador da música de tradição oral no campo. E, como tal, o fado não ocupava as minhas preocupações. Também eu partia do preconceito que toda a gente tem de que o fado é uma canção de Lisboa e que, portanto, não tem nada a ver com o campo".
Apesar de tudo, sublinha, "nessas minhas investigações no terreno, ia gravando alguns fados bailados, que apareciam sempre. Claro que, na altura, levava isso sempre à conta de que seriam importações do campo em relação à cidade. Mas, o que é verdade é que sempre notei que havia um certo género poético musical muito semelhante ao fado, em termos melódicos e na própria entoação".
Rural versus urbano
O investigador explica que essas semelhanças entroncam no romanceiro tradicional. "O romanceiro tem a sua origem nas gestas em que se narravam histórias da guerra contra os mouros e que, a partir do século XVI, começou a contar histórias de amores e desamores de reis e de rainhas e que mais tarde, no século XVII, passou a contar histórias do dia a dia de gente simples. Todo esse reportório foi, durante séculos, cantado por músicos ambulantes, os jograis, e, posteriormente, pelos ceguinhos".
O ponto de viragem na investigação de José Alberto Sardinha aconteceu em 1988. "Um dia, depois de gravar uma velhota durante uma tarde inteira a cantar romanceiros, percebi que havia pontos de contacto com o fado. Voltei para casa, voltei a ouvir gravações antigas que fizera e pensei: "se substituirmos o conceito de semelhança pelo conceito de identidade, pode ser uma revolução. E, então, investiguei mais profundamente nos anos seguintes".
"Ao longo de 22 anos", conta José Alberto Sardinha, "comecei a direccionar a minha investigação na procura dos ceguinhos, na gravação do seu reportório, na gravação de romances e na busca da génese do fado. E é isso que dá origem a este volume, que é sutentado por quatro CDs. No fundo, o que defendo é que, do século XVI até princípios século XX, Lisboa comungava de um mesmo substracto cultural com as aldeias, vilas e cidades do resto do país. Isto é, havia uma realidade, uma prática e uma vivência musicais que eram comuns".
José Alberto Sardinha também avança outra teoria para a origem da palavra "fado". De acordo com o investigador, a palavra, ao nível popular, tem o sentido de vida. "Portanto", defende, "o fado chama-se fado porque conta histórias".


“ANA VITÓRIA in DN”

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Em,pre,sti,mo do Gobierno Maranõn‏

Acabei de ver que a AL aprovou a tomada de novo empréstimo.

E lamentavelmente, percebo que o povo ficou alheio ao fato, sem dizer nada.

Desculpem-me, mas é muita burrice nossa.

Vivemos reclamando que os políticos são corruptos, velhacos, safados, que nos pisam, esnobam, etc... e quando temos uma chance de apertar o nó em torno deles, não fazemos nada, não nos organizamos, não lutamos por nós mesmos.

O pior é que mesmo sabendo que estou coberto de razão, muitos aqui ainda torcerão o nariz e seguirão na cegueira coletiva.

Até vejo a cena depois que o empréstimo foi aprovado sem ressalvas e as camaras de video foram desligadas: os deputados se abraçando, sorrindo e indo para os restaurantes da orla marítima comemorar, bebemorar, pois boa parte dessa grana do empréstimo irá para os seus bolsos em troca de apoio a Maranhão.

Se em tempos normais já desce pelo ralo da corrupção cerca de 50% do dinheiro público, imaginem em tempo de campanha.

Aí fico pensando no nosso suor, no nosso trabalho, no pagamento de tanto imposto a nos apertar... e tudo para esses sujeitos que nos representam rirem da nossa cara.

Caramba! que pena que ainda não chegamos à época da razão.

Até quando nos deixaremos enganar, engabelar, pisotear, chibatar, encabrestar por esses que batem à nossa porta de 4 em 4 anos pedindo para continuar nos açoitando?

Somos burros?

"Aldoger Carvalho"

terça-feira, 1 de junho de 2010

Descoberta brilhante

Por Fabio Reynol, de Águas de Lindoia

Agência FAPESP – Graças a ela é possível observar em tempo real o que ocorre no núcleo de uma célula durante uma divisão celular, localizar proteínas específicas, saber quais genes estão envolvidos em determinadas funções e ainda identificar mutações celulares, entre outras funções.

Espécie de tinta brilhante para marcar estruturas de organismos vivos, facilitando o exame e o estudo, a proteína fluorescente verde (GFP, em inglês) foi desenvolvida graças ao trabalho de três cientistas, que atuaram independentemente.

Osamu Shimamura, Roger Yonshien Tsien e Martin Chalfie foram agraciados com o prêmio Nobel de Química de 2008 pelo desenvolvimento do marcador biológico. O norte-americano Chalfie, professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Columbia, contou como foi esse trabalho na conferência de abertura da 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, no sábado (29/5), em Águas de Lindoia.

A GFP de laboratório nasceu com as pesquisas de Shimamura no Laboratório de Biologia Marinha de Woods Hole. O pesquisador japonês, radicado em Seattle, na costa oeste dos Estados Unidos, dedicou-se a estudar a bioluminescência da Aequorea victoria, espécie de água-viva presente no norte do Pacífico.

Após tentativas infrutíferas de isolar a substância que fazia o animal brilhar, Shimamura jogou parte de seus experimentos na pia do laboratório, que estava cheia de água do mar. Para a sua surpresa, quando apagou as luzes do laboratório no fim do expediente, observou surpreso uma luz azul emitida por aquele material.

Shimamura imaginou que a reação fora provocada por uma certa quantidade de cálcio presente na água. Foi a pista de que precisava para isolar a GFP e descobrir que ela não dependia de outra proteína para brilhar. Sozinha, ela é capaz de emitir uma luz esverdeada, a qual lhe rendeu o nome.

Chalfie, por sua vez, estava empenhado em identificar genes envolvidos no sentido do tato. Para isso, dissecava nematoides. Ao ouvir falar da GFP, viu a possibilidade de empregar a proteína nesses estudos.

Os resultados superaram as expectativas. A GFP mostrou-se eficaz na identificação gênica. Pela primeira vez, era possível observar em tempo real atividades celulares específicas, como expressões gênicas, dentro de um organismo vivo.

E não somente isso. Por meio da aplicação do marcador biológico também foi possível observar o transporte de sinais nervosos, a divisão do núcleo de uma célula, localizar outras proteínas e observar mutações celulares, entre muitas outras aplicações.

“Há um infindável número de utilidades para a GFP,” disse Chalfie, destacando que mais de 3 mil artigos já foram publicados sobre utilizações da proteína. O nematoide transparente utilizado na pesquisa da equipe do cientista ganhou a capa da edição de número 269 da revista Science, publicada em 1994.

“As vantagens da GFP a tornam especial: é praticamente não-invasiva, é visível em organismos vivos e é uma molécula pequena”, explicou. Essa última característica permite que a proteína atue em praticamente qualquer estrutura celular ou molecular.

Os trabalhos da equipe de Chalfie foram aprimorados por Tsien, do Instituto de Medicina Howard Hughes da Universidade da Califórnia, que desenvolveu métodos que atribuíram novas cores à GFP. A paleta multicolorida da proteína fosforescente sofisticou as análises, permitindo que estruturas ou moléculas diferentes pudessem ser acompanhadas simultaneamente.

O avanço que a GFP representou para estudos de fisiologia e biologia molecular rendeu aos três o Nobel. Para Chalfie, essa experiência mostra que a pesquisa básica é fundamental para o progresso não só do conhecimento como também das ciências aplicadas. “A pesquisa básica é o motor da inovação e leva a novos insights”, disse.

Do mesmo modo, a biologia não pode se ater ao estudo dos animais modelo, segundo o cientista. "Todos os seres vivos devem ser estudados. Se não fosse aquela água-viva, nada disso teria acontecido,” ponderou.

A inovação científica e tecnológica também está relacionada à participação de estudantes nas pesquisas, de acordo com Chalfie, que destacou que os doutorandos, mestrandos e pós-doutorandos são os grandes inovadores nos laboratórios.

Para isso, o professor da Universidade de Columbia defende maior iniciativa por parte desses estudantes. Ao ser questionado sobre como seleciona profissionais para trabalhar em seu laboratório, Chalfie disse discordar do modelo em que o estudante envia um e-mail com currículo e cartas de apresentação.

“Gostaria que o candidato descrevesse o projeto que tem em mente e que gostaria de desenvolver no laboratório. Isso garantiria um grau de realização maior do profissional", disse.

“Caso o trabalho ganhe destaque, o estudante terá a certeza de que foi fruto de uma ideia dele e não de um projeto do pesquisador principal que ele executou”, afirmou.