terça-feira, 14 de junho de 2011

domingo, 12 de junho de 2011

Entediado? Talvez essa seja uma coisa boa


Para que serve o tédio? Nada, é claro. Se você acha que esse sentimento é o pior do mundo, há quem discorde. Peter Toohey, autor do novo livro “O Tédio: Uma História Animada” (tradução livre para “Boredom: A Lively History”), argumenta que pode haver alguns benefícios surpreendentes em experimentar o tédio. Se você não consegue imaginar quais, leia essa entrevista:
O que poderia ser um benefício do tédio?

Peter Toohey:
O tédio é primo da repulsa. Quando as pessoas estão entediadas, elas ficam meio desgostosas, dizem que “não aguentam mais” ou que “estão cheias”. Então, o que o tédio é projetado para fazer é protegê-lo contra determinadas situações que possam ser prejudiciais. Ele faz você mudar sua situação. É um aviso para agir. Uma das vantagens mais evidentes é que muitos ligam o tédio à criatividade. Você tem que chegar a miséria absoluta para algo sair de seu cérebro. Um monte de gente fala sobre o valor do devaneio, do sonhar acordado; isso pode ser o produto de situações entediantes ou meio chatas, e suas melhores ideias podem surgir daí.
Qual a sua definição de tédio?

PT:
Eu acho que é o que eu sugeri: uma sensação leve de desgosto. As pessoas ficam desgostosas com o tédio. Ele é causado por circunstâncias temporariamente inevitáveis ou previsíveis. Se imagine preso em uma sala de aula ouvindo uma longa palestra. Mas é temporário, e isso não vai lhe causar um grande dano. O oposto do tédio é estar completamente envolvido em uma atividade que lhe absorve.
Algumas pessoas pensam que o tédio é um problema moderno. Isso é verdade?

PT:
Eu não penso assim. Se o tédio é uma emoção, então ele está lá por um bom propósito evolutivo. Todos nós vamos senti-lo, alguns menos do que outros. Ele é um produto do esclarecimento, e aparece nessa palavra pela primeira vez no século 17. Não se falava muito sobre isso na Grécia ou em Roma, mas há exemplos. Há uma inscrição em uma cidade italiana onde a população local agradece a uma personalidade por salvá-la do tédio eterno, em latim. Isso no século 2.
Será que algumas pessoas são mais propensas ao tédio?

PT:
Dizem que sim. Isso está ligado ao nível de dopamina, um neurotransmissor (ligado tanto ao tédio quanto a excitação). Quando a dopamina é baixa em uma pessoa, um de seus sintomas é o tédio. Além disso, há um teste chamado “teste de propensão ao tédio”, usado por psicólogos o tempo todo, no qual as pessoas que têm baixa pontuação têm baixos níveis de dopamina.
Existem dicas para superar o tédio?

PT:
Não. Há a dica “mantenha-se ocupado”. Isso é bom, mas se você estiver realmente entediado, você não consegue se manter ocupado. Há uma relação estabelecida entre a monotonia e a plasticidade do cérebro: a monotonia é ruim para a neuroplasticidade. Mas como você incentiva a plasticidade do cérebro? Parece que a melhor maneira de fazer isso é o exercício aeróbico. Talvez uma quantidade justa de exercício na vida de uma pessoa pode torná-la um pouco a prova de tédio. É triste, né?
[MSN]

quinta-feira, 9 de junho de 2011

«Novo Capítulo»


Este domingo fechou-se um capítulo na história da democracia portuguesa com a saída de cena de José Sócrates e virou-se a página para um futuro - que se adivinha difícil - com Passos Coelho ao leme do Governo.
A vitória do PSD foi bastante mais clara do que se antecipava e a derrota do PS mais expressiva. Mérito para o líder social-democrata, quanto mais não seja por ter conseguido descolar após um início de (pré) campanha titubeante. Ao «silenciar» Nobre e Catroga, Passos Coelho conseguiu assumir o protagonismo que necessitava para vencer e esvaziou dois dos maiores «aliados» dos socialistas...isto apesar de uma campanha eleitoral extremamente fraca, por parte de todos.
Sócrates, obviamente, é o grande derrotado nas urnas. Após a improvável vitória de 2009, mais por demérito de Ferreira Leite, o líder socialista não conseguiu repetir o «número» e deixa o PS com o pior resultado eleitoral desde 1987 (22,24%), quando Cavaco conquistou a primeira maioria absoluta.
A verdade é que Sócrates mostrou-se gasto na campanha, em particular após debate com Passos Coelho, e só a máquina do PS conseguia disfarçar (mal) a derrota.
A eleição de hoje tem outro derrotado: Francisco Louçã. O retrocesso do Bloco para os níveis de 2005 numa conjuntura favorável aos partidos que se alimentam do voto de protesto pode indicar o princípio do fim do BE, um case-study para politólogos em que trotskistas, maoístas e outros istas andavam todos juntos numa união contra-natura.
Para Paulo Portas, o veterano dos líderes partidários nacionais, os resultados têm um sabor agridoce, com uma subida nos resultados mas com o PSD a conseguir números muito acima do desejado pelos democratas-cristãos. O peso negocial do CDS-PP fica aquém das expectativas de Portas...
Jerónimo de Sousa conduziu a CDU a mais um resultado consistente com o bónus de ultrapassar o BE.
Quem certamente suspirou de alívio foi Cavaco Silva, que poderia ter um cenário catastrófico na segunda-feira com PSD e CDS-PP a não conseguirem maioria absoluta e a necessitarem de um PS com quem se recusavam a colaborar...
Uma nota ainda para a abstenção, a mais elevada de sempre em legislativas, sinal de que o divórcio entre eleitores e eleitos não cessa de crescer. Para muitos portugueses, a paciência esgotou-se para enfrentar as eleições com a lógica do «mal menor». Não vão votar, pura e simplesmente.
Agora chegou a altura de ver o que Passos Coelho vale como líder de Governo. Primeiro, exige-se-lhe que escolha um Executivo com qualidade; segundo, que apresente um programa de governação coerente com o que prometeu; terceiro; que saiba travar os apetites por todo o tipo de cargos entre as hostes laranjas. Ah, e já agora, que mostre firmeza perante aquela figura ímpar que reina na Madeira. 

 Pedro Curvelo

terça-feira, 7 de junho de 2011

Notas de despedida‏

1. Enquanto professor e enquanto cidadão português estou particularmente satisfeito por ver partir, espero que para sempre, o político português que eu considero ter sido o pior primeiro-ministro, desde 1974. Já o disse, como muitos outros o disseram (e primeiro do que eu), e hoje repito: Sócrates não só governou desastradamente o país, culminando essa governação com a bancarrota, como fez com que o discurso e o ambiente políticos descessem a níveis inimagináveis. Para além disto, com Sócrates, a falta de autenticidade, de seriedade e de competência andaram sempre de mãos dadas com a mais gigantesca operação de marketing (leia-se encenação e falsificação da realidade) que o país alguma vez presenciou. Simultaneamente, criou e desenvolveu um mastodôntico polvo político que tudo quis dominar e quase tudo dominou. Esse polvo alimentou e foi alimentado por um enorme exército de voluntários zelotas que, nos diversos organismos do Estado, se transformaram em candidatos a pequenos déspotas dispostos a tudo. Os tentáculos da governação do Partido Socialista atingiram uma dimensão que eu não julgava possível, em democracia.

2. A Educação foi, para além das Finanças, o domínio onde todos os malefícios da política de Sócrates mais se fizeram sentir. Na realidade, foi na política educativa que se concentrou tudo o que havia e houve de pior na sua governação: arrogância sem limites, incompetência inimaginável, ignorância e aventureirismo. Em 30 anos de docência, nunca tinha assistido a nada de semelhante. Portugal vai demorar décadas a recuperar de tanta estolidez política.

3. O discurso de partida de Sócrates foi mais uma encenação indecente. Sem a noção do grotesco, o arrazoado de falsidades que proferiu incomodou, nauseou. No decurso daquela infindável representação, só uma coisa terá sido verdadeira: o alívio que manifestava por não ter de ser ele a reparar a medonha herança que lega ao país. Ele sabe o estado em que deixa Portugal, sabe o mal que lhe fez, sabe a miséria que vamos passar, por sua responsabilidade. Sabe isso melhor do que ninguém, e, por essa razão, sente alívio — quando devia sentir vergonha, mas Sócrates desconhece esse sentimento.

4. Ao fim de seis anos, Sócrates — o homem que diariamente inventava recordes — conseguiu o seu verdadeiro e derradeiro recorde: conseguiu que o país acumulasse por ele um nível de desprezo que não acumulou por nenhum outro político em 37 anos de democracia.
Sócrates vai embora. Espero que nunca mais volte. Espero que tenha o bom senso de emigrar definitivamente. Portugal será, seguramente, um país melhor sem ele.


In, "O Estado da Educação"