sexta-feira, 18 de março de 2011

Verdade sobre a mentira: a prática leva à perfeição

Aprendendo a mentir
Nossos cérebros são muito melhores em dizer a verdade do que em mentir.
Mas, se você mentir o bastante, pode superar essa tendência natural para a veracidade e tornar o próprio ato de mentir mais fácil.
E o ditado parece estar correto: a prática leva à perfeição, porque quem mente mais e encontra poucos escrúpulos em fazê-lo pode nem mesmo ser pego nos detectores de mentira.
Resposta verdadeira dominante
Estudos que usaram neuroimagens mostraram que o cérebro das pessoas apresenta uma atividade muito mais intensa quando elas estão mentindo do que quando estão falando a verdade.
A maior alteração foi verificada no córtex pré-frontal, o que sugere que mentir exige um controle cognitivo extra para inibir o ato muito mais natural de dizer a verdade.
E, quando a pessoa mente, o cérebro apresenta uma atividade com ciclos muito mais longos.
Os cientistas chamam essa natureza típica de resposta verdadeira dominante.
Na tentativa de descobrir se essa tendência natural para a verdade pode ser alterada, Bruno Verschuere e seus colegas da Universidade Ghent, na Bélgica, estudaram três grupos de estudantes.
Treinando mentir
Cada estudante teve que fazer um relatório escrito sobre suas atividades diárias, na forma de um questionário. No questionário, os pesquisadores intercalaram questões sobre um outro tópico.
Antes da atividade, foi pedido a um grupo de estudantes que sempre dissesse a verdade nessas questões secundárias; o segundo grupo deveria mentir; e o terceiro grupo deveria variar entre mentir e dizer a verdade.
Nas perguntas sobre as atividades diárias, todos deveriam dar respostas verdadeiras.
A seguir, cada um foi perguntado sobre essas atividades, devendo dizer se suas respostas eram verdadeiras ou se eles haviam mentido.
Mentir se aprende
Os pesquisadores descobriram que aqueles que deviam mentir mais nas questões secundárias se tornaram mais adeptos da prática, mentindo também nas questões sobre as atividades diárias.
A diferença normal no tempo de reação que existe entre dizer uma verdade e uma mentira desapareceu totalmente.
"Em pessoas que mentem muito na vida real [como mentirosos patológicos], esta resposta verdadeira dominante pode não ser tão forte como nós teorizamos," diz Ewout Meijer, coautor da pesquisa.
Detectores de mentira
Os resultados da pesquisa levantam a possibilidade de que pelo menos algumas técnicas usadas em detectores de mentiras podem ser relativamente ineficientes quando usados em mentirosos contumazes.
Isto é mais grave, segundo os pesquisadores, quando se leva em conta que os detectores de mentiras são usados em pessoas suspeitas de crimes, um grupo que apresenta uma taxa de características psicopatas bem mais alto do que a média da população.
Segundo os cientistas, a saída pode ser melhorar os detectores de mentira, intercalando questões simples que induzam a pessoa a dar respostas verdadeiras. Isso interromperá sua mania de mentir e pode reforçar a tendência natural de dizer a verdade.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Semente extraterrestre da vida


A vida na Terra teve origem fora dela? Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos descobriu evidência da emissão, por meteorito primitivo, de nitrogênio, elemento químico fundamental encontrado em todos os organismos terrestres.
Sandra Pizzarello, da Universidade do Estado do Arizona, e colegas analisaram um meteorito que contém carbono e foi encontrado na Antártica. O estudo será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Para determinar a composição molecular de compostos insolúveis encontrados no meteorito, o grupo coletou amostras que foram tratadas com água em altas temperatura e pressão.
A massa dos componentes resultantes foi analisada e os cientistas verificaram que emitia amônia (NH4) – um precursor importante para moléculas biológicas complexas, como aminoácidos e DNA – na água em torno.
Os pesquisadores analisaram os átomos de nitrogênio na amônia e determinaram que os isótopos atômicos não se encaixavam com os encontrados atualmente na Terra, descartando a possibilidade de que a amônia pudesse ter resultado de contaminação durante o experimento.
Estudos têm tentado sem sucesso identificar a origem da amônia responsável por desencadear a formação das primeiras biomoléculas na Terra.
A nova pesquisa sugere que meteoritos, que carregam com eles registros da química nos primórdios do Sistema Solar, podem ter semeado a Terra com os precursores moleculares da vida.
O artigo Abundant ammonia in primitive asteroids and the case for a possible exobiology (doi:10.1073/pnas.101496110), de Sandra Pizzarello e outros, poderá ser lido na PNAS em:

quinta-feira, 3 de março de 2011

Filtro inovador para purificar água em situações de emergência

Desastres naturais como cheias, tsunamis e terramotos resultam muitas vezes na propagação de doenças que derivam da escassez de água potável. Para minimizar este problema, investigadores da Universidade McGill, no Canadá, desenvolveram um filtro de papel, de baixo custo e portátil, revestido com nanopartículas de prata para ser utilizado nestes contextos de emergência.

De acordo com
Derek Gray, investigador do Departamento de Química da universidade canadiana que liderou o estudo, foi a primeira vez que se recorreu ao metal, já utilizado para combater bactérias, para limpar a água de uma forma sistemática.

Um artigo publicado no "Journal of Environmental Science & Technology" indica que a equipa de cientistas revestiu folhas de papel absorvente poroso com uma camada de 5,5 milímetros de nanopartículas de prata.

De seguida, depositaram bactérias vivas e, através de um microscópio electrónico, verificaram que, para além das nanopartículas de prática ficarem retidas no papel, o filtro é capaz de matar quase todas as bactérias e tornar a água potável, de acordo com os padrões estabelecidos pela Agência de Protecção Ambiental Americana (EPA). 


Este filtro para a purificação da água não foi concebido para ser utilizado no quotidiano, mas como uma forma de prestar assistência rápida e em pequena escala em situações de emergência. Apesar de ter funcionado no laboratório,  Derek Gray alertou para a necessidade de serem feitos testes em campo.

terça-feira, 1 de março de 2011

O AMOR COMO MEIO, NÃO COMO FIM

É hora de substituir o ideal romântico do amor que basta em si mesmo (por isso não dura) por uma relação que traga crescimento individual.
Há algo de errado na forma como temos vivido nossas relações amorosas. Isso é fácil de ser constatado, pois temos sofrido muito por amor. Se o que anda bem tem que nos fazer felizes, o sofrimento só pode significar que estamos numa rota equivocada. Desde crianças, aprendemos que o amor não deve ser objeto de reflexão e de entendimento racional; que deve ser apenas vivenciado, como uma mágica fascinante que nos faz sentir completos e aconchegados quando estamos ao lado daquela pessoa que se tornou única e especial. Aprendemos que a mágica do amor não pode ser perturbada pela razão, que devemos evitar esse tipo de contaminação para podermos usufruir integralmente as delícias dessa emoção – só que não tem dado certo. Vamos tentar, então, o caminho inverso: vamos pensar sobre o tema com sinceridade e coragem. Conclusões novas, quem sabe, nos tragam melhores resultados.
Vamos nos deter em apenas uma das idéias que governam nossa visão do amor. Imaginamos sempre que um bom vínculo afetivo significa o fim de todos os nossos problemas. Nosso ideal romntico é assim: duas pessoas se encontram, se encantam uma com a outra, compõem um forte elo, de grande dependência, sentem-se preenchidas e completas e sonham em largar tudo o que fazem para se refugiar em algum oásis e viver inteiramente uma para a outra usufruindo o aconchego de ter achado sua metade da laranja. Nada parece lhes faltar. Tudo o que antes valorizavam – dinheiro, aparência física, trabalho, posição social etc. – parece não ter mais a menor importncia. Tudo o que não diz respeito ao amor se transforma em banalidade, algo supérfluo que agora pode ser descartado sem o menor problema.
Sabemos que quem quis levar essas fantasias para a vida prática se deu mal. Com o passar do tempo, percebe-se que uma vida reclusa, sem novos estímulos, somente voltada para a relação amorosa, muito depressa se torna tediosa e desinteressante. Podemos sonhar com o paraíso perdido ou com a volta ao útero, mas não podemos fugir ao fato de que estamos habituados a viver com certos riscos, certos desafios. Sabemos que eles nos deixam em alerta e intrigados; que nos fazem muito bem.
De certa forma, a realização do ideal romntico corresponde à negação da vida. Visto por esse ngulo, o amor é a antivida, pois em nome dele abandonamos tudo aquilo que até então era a nossa vida. No primeiro momento até podemos achar que estamos fazendo uma boa troca, mas rapidamente nos aborrecemos com o vazio deixado por essa renúncia à vida. A partir daí, começa a irritação com o ser amado, agora entendido como o causador do tédio, como uma pessoa pouco criativa e desinteressante. O resultado todos conhecemos: o casal rompe e cada um volta à sua vida anterior, levando consigo a impressão de ter falido em seus ideais de vida.
Os doentes acham que a saúde é tudo. Os pobres imaginam que o dinheiro lhes traria toda a felicidade sonhada. Os carentes – isto é, todos nós – acham que o amor é a mágica que dá significado à vida. O que nos falta aparece sempre idealizado, como o elixir da longa vida e da eterna felicidade.
Diariamente, porém, a realidade nos mostra que as coisas não são assim, e acho importante aprendermos com ela. Nossas concepções têm de se basear em fatos, nossos projetos têm que estar de acordo com aquilo que costuma dar certo no mundo real. Fantasias e sonhos, ao contrário, têm origem em processos psíquicos ligados à lembranças e frustrações do passado. É importante percebermos que o que poderia ser uma ótima solução aos seis meses de idade, como voltar ao útero materno, será ineficaz e intolerável aos 30 anos. A bicicleta que eu não tive aos 7 anos, por exemplo, não irá resolver nenhum dos meus problemas atuais. É preciso parar de sonhar com soluções que já não nos satisfazem a adaptar nossos sonhos à realidade da condição de vida adulta.
Se é verdade, então, que o amor nos enche de alegria, vitalidade e coragem – e isso ninguém contesta –, por que não direcionar essa nova energia para ativar ainda mais os projetos nos quais estamos empenhados? Quando amamos e nos sentimos amados por alguém que admiramos e valorizamos, nossa auto-estima cresce, nos sentimos dignos e fortes. Tornamo-nos ousados e capazes de tentar coisas novas, tanto em relação ao mundo exterior como na compreensão da nossa subjetividade. Em vez de ser um fim em si mesmo, o amor deveria funcionar como um meio para o aprimoramento individual, nos curando das frustrações do passado e nos impulsionando para o futuro. Casais que conseguem vivê-lo dessa maneira crescem e evoluem, e sob essa condição seu amor se renova e se revitaliza.
Flávio Gikovate

Flávio Gikovate
Flávio Gikovate