quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Insetos em detalhes

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – O Laboratório de Estudos de Hymenoptera Parasitoides, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), começará a identificar e descrever com detalhes espécies da ordem Hymenoptera, que inclui principalmente vespas parasitoides. Desde outubro, o laboratório vem realizando pesquisas com um microscópio eletrônico de varredura, adquirido com recursos da FAPESP.
Inaugurado em março de 2009, o laboratório – sediado no Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE) da UFSCar – abriga o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) dos Hymenoptera Parasitoides da Região Sudeste (Hympar/Sudeste), um dos INCTs que no Estado de São Paulo são apoiados pela FAPESP, por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Projeto Temático, e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
De acordo com a coordenadora do instituto, Angélica Maria Penteado Martins Dias, o microscópio eletrônico de varredura (MEV) Quanta 250 adquirido é o primeiro desse modelo a ser instalado no Brasil na área biológica.
“Além de operar em alto vácuo, esse equipamento permite observação de material sob baixo vácuo e pressão ambiental, o que expande as possibilidades de trabalho na área das ciências biológicas”, disse à Agência FAPESP.
Ao permitir informações detalhadas, o microscópio garantirá maior qualidade nas pesquisas. Segundo a professora do DEBE, esse modelo de MEV dispensa a metalização das amostras, o que mantém as suas características originais.
“O importante é que podemos obter imagens e preservar o material. Às vezes, trata-se de descrição de espécimes que são únicos e que, depois de utilizados, devem ser mantidos como testemunhos”, disse Angélica, destacando que no modo de pressão ambiental é possível trabalhar até mesmo com amostras vivas.
As imagens podem ser ampliadas em até 100 mil vezes. “O que nos interessa é caracterizar a estrutura superficial da espécie analisada. O MEV apresenta detalhes, nuances da estrutura e da escultura, fundamentais para o estudo e que um microscópio biológico de luz é incapaz de obter”, explicou.
O INCT Hympar-Sudeste envolve o trabalho conjunto de 11 instituições de pesquisa. Além do inventário e monitoramento das espécies de Hymenoptera parasitoides dos ecossistemas de mata, cerrado e agroecossistemas, o projeto envolve atividades de ensino e extensão junto à comunidade.
“É uma preocupação nossa poder transferir esses conhecimentos na forma de cursos e contato com a comunidade. Neste ano, trabalhamos com a população em feiras e amostras em praças, além de receber visitantes em nossos laboratórios”, disse Angélica.
A fase atual do projeto desenvolvido pelos grupos de pesquisa ligados ao Instituto é a de aquisição de amostras. “Temos cerca de 100 armadilhas do tipo Malaise [usada para coleta de insetos] montadas em toda a região Sudeste, concentradas em pontos estratégicos, principalmente no Estado de São Paulo”, contou.
Grupo bioindicador
Segundo a coordenadora do INCT, espécies de Hymenoptera são usadas como bioindicadores, dando uma ideia do grau de preservação dos ambientes. O outro ponto importante é o emprego na agricultura. Muitos parasitoides atacam e controlam pragas importantes para o setor agrícola, sendo utilizados em programas de controle biológico. A alternativa é considerada vantajosa financeiramente, alem de contribuir para a preservação do ambiente.
“Trata-se de um grupo que tem biologia toda especial porque explora recursos de outras espécies, levando-as à morte. Como parasitoides, constituem inimigos naturais de muitas pragas. Além disso, refletem em um ambiente natural as condições de outros níveis tróficos à medida que regulam populações de outras espécies”, explicou Angélica.
Em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo de Sete Lagoas (MG), o Instituto Biológico de São Paulo (SP) e o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (ES), o grupo do INCT Hympar-Sudeste desenvolve análises e experimentos com pragas e seus parasitoides em culturas de milho, café, coco, mamão, goiaba .
“No estudo de certas pragas agrícolas hospedeiras de Hymenoptera parasitoides é importante a identificação do material envolvido. Para nós, é uma chance de ampliar o conhecimento da biologia, distribuição geográfica e taxonomia, tanto da praga como de seu inimigo natural”, disse.
O grupo atualmente faz o inventário de 32 Unidades de Conservação na região Sudeste do Brasil, a maioria localizada no Estado de São Paulo. “Optamos por trabalhar em áreas de parques e estações ecológicas porque nossa intenção é preparar relatórios para os diretores dessas unidades de conservação, auxiliando na confecção dos respectivos planos diretores. Esses dados se constituem em subsídios importantes para o conhecimento da biodiversidade brasileira”, disse a professora da UFSCar.
A docente destaca também a importância dos recursos investidos para ampliar a troca de informações com grupos de pesquisa internacionais, manter bolsistas, equipar os diversos laboratórios envolvidos, “além de ampliar os acervos de coleções biológicas da UFSCar, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, do Instituto Biológico de São Paulo e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Polo Regional do Centro Leste, em Ribeirão Preto”, disse Angélica. Segundo ela, sem esses investimentos seria impossível desenvolver um projeto desse porte.
“Com mais um ano de trabalho poderemos disponibilizar mais dados consistentes em termos de inventários. Já temos resultados bastante significativos incluídos em trabalhos enviados à publicação, dissertações, teses e monografias de estudantes envolvidos com o INCT Hympar-Sudeste”, disse.


Mais informações: www.hympar.ufscar.br

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