segunda-feira, 5 de julho de 2010

Convidado trapalhão

Se você participou de festa de formatura no interior, lá pelos idos dos anos setenta, vai se lembrar. Era muito comum um parente convidado para ser paraninfo nesse tipo de solenidade, com direito a retribuir, como presente, o anel de formatura e ter que dançar a tradicional valsa.
Assim, nessa toada, é que fui convidado pela minha tia a ir a Cajazeiras (já morando em João Pessoa) para participar desse evento. Sendo informado, logo que cheguei, tintim por tintim de toda a cerimônia em volta da grande festa de conclusão do seu curso de nível médio (pedagogia), realizar-se à noite.
Neste meio tempo, procurei visitar os velhos amigos pela cidade. Conversa vai, conversa vem, ou seja, molhando as palavras, e, por incrível que pareça e nada que se pareça é incrível, não é que me esqueci do meu compromisso para tal festa.
Haja todo mundo a me procurar. Depois de muita, mas muita busca fui localizado. Ora, foi um deus-nos-acuda. “Tenho vontade de matá-lo!”, vociferou minha tia concluinte. Pelo jeito, os bons modos, foram “pro brejo”. Fosse hoje, sugeria contratar um “personal trainer” para controlar a sua língua.
“Oxente! O que foi que aconteceu? Mas que diabo fiz, cacilda? Ué, mas já está na hora?” – manifestei. Na época, jovem, dos problemas do mundo (atraso de compromisso), este deveria estar certamente no final da fila.
Diante daquela cantilena – sermão moralista. “Tudo bem, tudo bem, vamos à festa”, disse. “Tudo bem uma pinóia, você vai pra casa, agora!”, retrucou-me. Depois de tomar a saideira, sem olhar para os lados, zarpei dali levitando escoltado por um batalhão de familiares raiventos.
Lembro bem, e parece ter sido ontem. Após o banho e trocarem (isso mesmo!) a minha roupa, dirigimos ao local da solenidade, onde todos já se encontravam por um bom tempo. O suor me escorria em bicos pelo rosto. Permaneci ali ofegante, desejando que o tempo passasse rápido. Apesar de abrir um sorriso de orelha a orelha, apertando os olhos, deu para observar na plateia uns dizendo, em sussurros e de pé-de-ouvido, “esse rapaz está estranho!”.
Sim, foi uma comédia. A rigor, uma tragédia. Porque raio eu aceitei esse convite, lastimava a todo o momento. Mas, o pior estava para acontecer: quando fomos chamados pelo cerimonial, sob flashes e holofotes, para fazer a entrega do diploma, como também, passar às mãos o anel, cadê o danado? Tudo que era bolso do paletó havia sido revirado, e nada.
Pense no fuzuê! Quase tive uma espécie de amnésia repentina – “blecaute mental”. Bufando e lançando-me um olhar de raiva, misto de escárnio e revolta, principalmente da arrependida tia, acabei por fim localizando o infeliz.
Certa vez José Saramago escreveu que não existe dia festivo, nós é que o tornamos festivo por fazê-lo diferente. Que pese os entreveros, acho que fiz a diferença nessa bendita festa.

LINCOLN CARTAXO DE LIRA

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