quinta-feira, 11 de março de 2010

Criações mais eficientes

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – Uma nova pesquisa poderá ajudar criadores de gado nelore a reduzir custos de produção. Para relacionar o ganho de peso e o quanto cada animal ingeriu de comida, a pesquisa utilizou uma característica ainda pouco explorada no Brasil, o consumo alimentar residual (CAR).
O CAR é a diferença do quanto o animal consumiu (consumo observado) subtraído do consumo estimado. A característica também leva em conta o ganho de peso obtido no período. O consumo estimado é obtido por meio de uma equação de regressão que envolve o ganho médio diário e o peso metabólico do animal.
Caso consuma além do esperado, o bovino terá um CAR positivo, significando que ingeriu mais do que precisava para o ganho de peso observado e que, portanto, será menos eficiente. Um CAR negativo indica que o bovino consumiu menos do que o esperado para o ganho de peso mensurado.
Os trabalhos foram realizados no Centro de Pesquisa em Pecuária de Corte do Instituto de Zootecnia, em Sertãozinho, interior de São Paulo, com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular. O Instituto de Zootecnia está ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Para os pesquisadores, o consumo alimentar residual pode ser incluído como um critério de seleção (único ou combinado com o peso corporal) de reprodutores, proporcionando um novo padrão de eficiência à criação bovina brasileira. Até o momento, os programas de melhoramento genético no Brasil costumavam privilegiar os animais maiores sem levar em consideração a eficiência da relação entre consumo e ganho de peso.
“O que nos motivou foi a questão: será que esses animais – escolhidos para serem reprodutores e matrizes – são tão eficientes em relação aos outros no sentido de ganhar mais peso com menor consumo?”, contou a pesquisadora Renata Helena Branco, da área de Nutrição e Produção de Bovinos de Corte do IZ.
Para poder responder a questão, o Centro de Pesquisa em Pecuária de Corte instalou 80 baias individuais, tornando-se, até o momento, uma das poucas instituições de pesquisa no país com capacidade para realizar o teste de CAR com esse numero de animais simultaneamente, segundo Renata.
“A utilização de baias individuais é fundamental para avaliar a quantidade de alimento fornecido e sobras, em um procedimento diário e contínuo, embora já estejam disponíveis no exterior equipamentos que realizam tal procedimento integrado em um sistema único sem a necessidade de baias individuais”, explicou.
O esforço valeu a pena. Entre os resultados obtidos estão diferenças nos extremos de consumo. O exemplar menos eficiente consumiu diariamente cerca de 1,6 quilo de matéria seca a mais comparado ao animal de melhor desempenho. “Se levarmos esse resultado para uma escala maior, em um rebanho, o impacto no custo de produção será enorme”, disse Renata.
Nelore

A pesquisadora do Instituto de Zootecnia conta que o CAR foi desenvolvido nos Estados Unidos no início da década de 1960, mas só começou a ser aplicado no início dos anos 2000 em pesquisas conduzidas na Austrália e no Canadá.
Nesses países, a característica tem sido estudada em outras raças, avaliando a relação do CAR com características da carcaça, da carne e produção de metano. “Um dos trabalhos, por exemplo, concluiu que animais com CAR negativo produzem menor quantidade de metano”, disse Renata.
No caso da pesquisa brasileira com a raça Nelore, não foram encontradas diferenças na deposição de gordura na carcaça dos animais de maior e de menor CAR.
A equipe brasileira pretende agora continuar a pesquisa para avaliar se existe diferença no comportamento de ingestão de alimentos, na precocidade sexual, assim como na qualidade da carcaça e da carne entre os dois grupos.
Além disso, o CAR foi incluído como critério de seleção de um dos rebanhos Nelore do Centro de Pesquisa, de modo que, em alguns anos, estarão disponíveis para comercialização filhos de reprodutores mais eficientes (CAR negativo).
A raça nelore representa 80% dos cerca de 200 milhões de cabeças de gado do plantel brasileiro. Esse grupo é formado por animais 100% nelore ou anelorados, frutos de cruzamento que incluem essa raça, de acordo com dados da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). O domínio da raça no Brasil se deve principalmente à sua robustez.
“As outras raças não são tão resistentes a pragas e doenças e o fato de a nelore ter o pelo branco a faz mais tolerante ao calor brasileiro”, disse Guilherme Alves Gonçalves Júnior, gerente de produto da ACNB

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