sexta-feira, 26 de março de 2010

Dragão-de-komodo tem veneno

Agência FAPESP – O dragão-de-komodo, réptil carnívoro encontrado na Indonésia, já era assustador, mas agora ficou ainda mais. Segundo um novo estudo, a maior espécie de lagarto no mundo, com média de 2,5 metros de comprimento e 70 quilos, também dispõe de veneno para matar suas vítimas.
O Varanus komodoensis é conhecido por morder suas presas e depois soltá-las, deixando-as sangrar por conta dos ferimentos. Após entrar em choque, são mortas e devoradas.
Acreditava-se que as presas fossem vítimas de bactérias presentes na boca do réptil, mas pesquisa feita por um grupo internacional indica que o efeito se deve a um veneno. O estudo será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
“A ideia de que o komodo mata por meio de bactérias orais está errada. O dragão tem veneno. Durante a evolução, ele modificou suas glândulas salivares de modo a produzir agentes hipertensivos e anticoagulantes que, combinados com adaptações cranianas e dentárias específicas, permitiu que pudesse matar animais maiores por meio de hemorragias fulminantes”, disse Stephen Wroe, da Universidade de New South Wales, na Austrália, um dos autores do estudo.
Os cientistas usaram simulações feitas em computador para analisar a mordida do dragão e verificaram que são mais fracas do que as de crocodilos de tamanhos semelhantes. Entretanto, exames em ressonância magnética apontaram que o komodo conta também com complexas glândulas de veneno.
Depois de extirparem a glândula de veneno de um dragão doente em um zoológico, os cientistas usaram espectrometria de massa para obter um perfil químico do veneno. Descobriram que a toxina tem semelhanças com as do monstro-de-gila (Heloderma suspectum) e de diversas serpentes.
O veneno causa uma grande perda de pressão sanguínea na vítima ao dilatar os vasos sanguíneos e evitar a coagulação na área atingida, levando a presa a um estado de choque.
O grupo também examinou fósseis do extinto Varanus megalania, que chegava a 7 metros de comprimento, e concluíram que o parente maior do dragão-de-komodo foi um dos maiores animais venenosos a andar pela Terra.
Membro de uma família cujos ancestrais surgiram há mais de 100 milhões de anos, o dragão-de-komodo é o maior lagarto vivo e habita as ilhas de Komodo, Rinca, Flores, Gili Motang e Gili Dasami, na Indonésia. O enorme tamanho do animal é atribuído ao fenômeno do gigantismo, uma vez que nas ilhas não há outros carnívoros que façam parte de seu nicho ecológico.
A espécie é classificada como vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza e tem uma população estimada entre 4 mil e 5 mil exemplares soltos em seus hábitats.
A central role for venom in predation by Varanus komodoensis (Komodo Dragon) and the extinct giant Varanus (Megalania) prisca, de Bryan Fry e outros, poderá ser lido em www.pnas.org.

Dragão-de-komodo tem veneno

Agência FAPESP – O dragão-de-komodo, réptil carnívoro encontrado na Indonésia, já era assustador, mas agora ficou ainda mais. Segundo um novo estudo, a maior espécie de lagarto no mundo, com média de 2,5 metros de comprimento e 70 quilos, também dispõe de veneno para matar suas vítimas.
O Varanus komodoensis é conhecido por morder suas presas e depois soltá-las, deixando-as sangrar por conta dos ferimentos. Após entrar em choque, são mortas e devoradas.
Acreditava-se que as presas fossem vítimas de bactérias presentes na boca do réptil, mas pesquisa feita por um grupo internacional indica que o efeito se deve a um veneno. O estudo será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
“A ideia de que o komodo mata por meio de bactérias orais está errada. O dragão tem veneno. Durante a evolução, ele modificou suas glândulas salivares de modo a produzir agentes hipertensivos e anticoagulantes que, combinados com adaptações cranianas e dentárias específicas, permitiu que pudesse matar animais maiores por meio de hemorragias fulminantes”, disse Stephen Wroe, da Universidade de New South Wales, na Austrália, um dos autores do estudo.
Os cientistas usaram simulações feitas em computador para analisar a mordida do dragão e verificaram que são mais fracas do que as de crocodilos de tamanhos semelhantes. Entretanto, exames em ressonância magnética apontaram que o komodo conta também com complexas glândulas de veneno.
Depois de extirparem a glândula de veneno de um dragão doente em um zoológico, os cientistas usaram espectrometria de massa para obter um perfil químico do veneno. Descobriram que a toxina tem semelhanças com as do monstro-de-gila (Heloderma suspectum) e de diversas serpentes.
O veneno causa uma grande perda de pressão sanguínea na vítima ao dilatar os vasos sanguíneos e evitar a coagulação na área atingida, levando a presa a um estado de choque.
O grupo também examinou fósseis do extinto Varanus megalania, que chegava a 7 metros de comprimento, e concluíram que o parente maior do dragão-de-komodo foi um dos maiores animais venenosos a andar pela Terra.
Membro de uma família cujos ancestrais surgiram há mais de 100 milhões de anos, o dragão-de-komodo é o maior lagarto vivo e habita as ilhas de Komodo, Rinca, Flores, Gili Motang e Gili Dasami, na Indonésia. O enorme tamanho do animal é atribuído ao fenômeno do gigantismo, uma vez que nas ilhas não há outros carnívoros que façam parte de seu nicho ecológico.
A espécie é classificada como vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza e tem uma população estimada entre 4 mil e 5 mil exemplares soltos em seus hábitats.
A central role for venom in predation by Varanus komodoensis (Komodo Dragon) and the extinct giant Varanus (Megalania) prisca, de Bryan Fry e outros, poderá ser lido em www.pnas.org.

“Não riam de mim”

Quero viver no meu canto
Deixem-me sonhar assim.
Não acordem meu espanto
Mas podem rir-se de mim.
Eu aceito que me alertem,
É pobre a minha cultura,
Por favor não me despertem
Só para fazer censura.
Tenho a minha linguagem
Talvez um pouco selvagem
Mas é mesmo assim que eu falo,
Pois se gosto de escrever
Não tenho nada a esconder,
Nem me importo o quanto valho.


Versos autoria de: Rodela

quinta-feira, 25 de março de 2010

Pobre

Fiu, fiu, é o Arnaldo Guerra.
Vão chegar as encomendas,
Ainda o carro vem na Serra,
Já ele espera pelas tendas.
Como “graxa” é boa pessoa,
Nunca lhe faltou carinhos,
Pois tinha sempre uma “croa”
Para oferecer uns “neguinhos”.
Em qualquer tasca, se aberta,
Ele lá está pela certa,
Quem por certo não o viu?
Sentado na sua caixa,
Com a latita de graxa,
Sempre contente, fiu, fiu…


Versos autoria de: Rodela

quarta-feira, 24 de março de 2010

Internet e depressão

Agência FAPESP – Pessoas que passam muito tempo navegando pela internet têm maior risco de apresentar sintomas depressivos, de acordo com uma pesquisa feita no Reino Unido por cientistas da Universidade de Leeds.
O estudo, que foi publicado na edição de 10 de fevereiro da revista Psychopathology, procurou analisar o fenômeno de usuários que têm desenvolvido o uso compulsivo da internet, substituindo a interação social no mundo real pelo virtual, em redes sociais, chats ou em outros serviços eletrônicos.
Segundo os pesquisadores, os resultados do estudo apontam que esse tipo de dependência pode ter impactos sérios na saúde mental. “A internet ocupa hoje parte importante na vida moderna, mas seus benefícios são acompanhados por um lado negro”, disse Catriona Morrison, um dos autores do estudo.
“Enquanto a maioria usa a rede mundial para se informar, pagar contas, fazer compras e trocar e-mails, há uma pequena parcela dos usuários que acha difícil controlar o tempo gasto on-line. Isso ao ponto em que tal hábito passa a interferir em suas atividades diárias”, apontou a cientista.
Os “viciados em internet” passam, proporcionalmente em relação à maioria dos usuários, mais tempo em comunidades virtuais e em sites pornográficos e de jogos. Os pesquisadores verificaram que esse grupo tem incidência maior de depressão de moderada a grave.
“Nossa pesquisa indica que o uso excessivo da internet está associado com depressão, mas o que não sabemos é o que vem primeiro. As pessoas depressivas são atraídas pela internet ou é o uso da rede que causa depressão?”, questionou Catriona.
A pesquisa examinou 1.319 pessoas com idades entre 16 e 61 anos. Do total, 1,2% foi considerado como “viciado em internet”. Apesar de ser uma pequena parte do total, segundo os pesquisadores o número de internautas nessa categoria tem crescido.
Incidentes como a onda de suicídios entre adolescentes ocorrida na cidade de Bridgend, no País de Gales, em 2008, têm levado a questionamentos a respeito da influência das redes sociais em indivíduos vulneráveis à depressão.
No estudo, os pesquisadores observaram que o grupo dos “viciados em internet” era formado principalmente por usuários mais jovens, com média de idade de 21 anos.
“Está claro que para uma pequena parte dos usuários o uso excessivo da internet é um sinal de perigo para tendências depressivas. Precisamos considerar as diversas implicações dessa relação e estabelecer claramente os efeitos desse uso na saúde mental”, disse a pesquisadora.
O artigo The relationship between excessive internet use and depression: a questionnaire-based study of 1,319 young people and adults, de Catriona Morrison e outros, pode ser lido na Psychopathology (2010;43:121-126 – DOI:10.1159/000277001) em www.karger.com/psp.

sexta-feira, 19 de março de 2010

“Sabes quanto é que o Leiria recebeu para antecipar o jogo?”

Posted: 04 Feb 2010 10:05 AM PST
“At 11:24 PM, Tiago said… Tinha-mos sabes porquê? o jogo na luz é de perder, este ano ainda ninguem ganhou lá, e sabes quanto é que o Leiria recebeu para antecipar o jogo? como vez até ficámos a ganhar…” – in Uniaodeleiria.blogspot.com




O grande perigo dos blogs é precisamente este; o anonimato trás muitas vezes consigo a infâmia, a despudorada capacidade de dizer o que mais vier a cabeça sem que exista uma ponta de responsabilidade em que publica qualquer possível canalhice.
Eu sou suspeito, porque desde a primeira hora que assino tudo o que escrevo nos inúmeros blogs de que sou titular, bem assim como tudo o que escrevo nos inúmeros fóruns de debate, o que inclusivamente já me valeu muitas arrelias com cobardolas que escrevem o que lhe vai na tola.
Mas neste caso, o mais interessante é que seguindo a velha máxima, de onde existe fumo deve ter fogo, parece que existiu mesmo fogo, quero eu dizer; dinheiro por debaixo da mesa, mas das palavras, a se provr os actos vai uma grande distancia, tão grande que de Leiria a Lisboa, ou de Lisboa a Leiria o caminho é bem longo...


João Massapina

quinta-feira, 11 de março de 2010

Criações mais eficientes

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – Uma nova pesquisa poderá ajudar criadores de gado nelore a reduzir custos de produção. Para relacionar o ganho de peso e o quanto cada animal ingeriu de comida, a pesquisa utilizou uma característica ainda pouco explorada no Brasil, o consumo alimentar residual (CAR).
O CAR é a diferença do quanto o animal consumiu (consumo observado) subtraído do consumo estimado. A característica também leva em conta o ganho de peso obtido no período. O consumo estimado é obtido por meio de uma equação de regressão que envolve o ganho médio diário e o peso metabólico do animal.
Caso consuma além do esperado, o bovino terá um CAR positivo, significando que ingeriu mais do que precisava para o ganho de peso observado e que, portanto, será menos eficiente. Um CAR negativo indica que o bovino consumiu menos do que o esperado para o ganho de peso mensurado.
Os trabalhos foram realizados no Centro de Pesquisa em Pecuária de Corte do Instituto de Zootecnia, em Sertãozinho, interior de São Paulo, com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular. O Instituto de Zootecnia está ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Para os pesquisadores, o consumo alimentar residual pode ser incluído como um critério de seleção (único ou combinado com o peso corporal) de reprodutores, proporcionando um novo padrão de eficiência à criação bovina brasileira. Até o momento, os programas de melhoramento genético no Brasil costumavam privilegiar os animais maiores sem levar em consideração a eficiência da relação entre consumo e ganho de peso.
“O que nos motivou foi a questão: será que esses animais – escolhidos para serem reprodutores e matrizes – são tão eficientes em relação aos outros no sentido de ganhar mais peso com menor consumo?”, contou a pesquisadora Renata Helena Branco, da área de Nutrição e Produção de Bovinos de Corte do IZ.
Para poder responder a questão, o Centro de Pesquisa em Pecuária de Corte instalou 80 baias individuais, tornando-se, até o momento, uma das poucas instituições de pesquisa no país com capacidade para realizar o teste de CAR com esse numero de animais simultaneamente, segundo Renata.
“A utilização de baias individuais é fundamental para avaliar a quantidade de alimento fornecido e sobras, em um procedimento diário e contínuo, embora já estejam disponíveis no exterior equipamentos que realizam tal procedimento integrado em um sistema único sem a necessidade de baias individuais”, explicou.
O esforço valeu a pena. Entre os resultados obtidos estão diferenças nos extremos de consumo. O exemplar menos eficiente consumiu diariamente cerca de 1,6 quilo de matéria seca a mais comparado ao animal de melhor desempenho. “Se levarmos esse resultado para uma escala maior, em um rebanho, o impacto no custo de produção será enorme”, disse Renata.
Nelore

A pesquisadora do Instituto de Zootecnia conta que o CAR foi desenvolvido nos Estados Unidos no início da década de 1960, mas só começou a ser aplicado no início dos anos 2000 em pesquisas conduzidas na Austrália e no Canadá.
Nesses países, a característica tem sido estudada em outras raças, avaliando a relação do CAR com características da carcaça, da carne e produção de metano. “Um dos trabalhos, por exemplo, concluiu que animais com CAR negativo produzem menor quantidade de metano”, disse Renata.
No caso da pesquisa brasileira com a raça Nelore, não foram encontradas diferenças na deposição de gordura na carcaça dos animais de maior e de menor CAR.
A equipe brasileira pretende agora continuar a pesquisa para avaliar se existe diferença no comportamento de ingestão de alimentos, na precocidade sexual, assim como na qualidade da carcaça e da carne entre os dois grupos.
Além disso, o CAR foi incluído como critério de seleção de um dos rebanhos Nelore do Centro de Pesquisa, de modo que, em alguns anos, estarão disponíveis para comercialização filhos de reprodutores mais eficientes (CAR negativo).
A raça nelore representa 80% dos cerca de 200 milhões de cabeças de gado do plantel brasileiro. Esse grupo é formado por animais 100% nelore ou anelorados, frutos de cruzamento que incluem essa raça, de acordo com dados da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). O domínio da raça no Brasil se deve principalmente à sua robustez.
“As outras raças não são tão resistentes a pragas e doenças e o fato de a nelore ter o pelo branco a faz mais tolerante ao calor brasileiro”, disse Guilherme Alves Gonçalves Júnior, gerente de produto da ACNB

terça-feira, 9 de março de 2010

Dieta variada

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – Entre os anos de 1992 e 1999, o oceanógrafo Teodoro Vaske Júnior acompanhou navios de pesca ao longo da costa do Nordeste brasileiro. As embarcações utilizavam o espinhel oceânico, sistema de anzóis estendidos por uma corda de dezenas de quilômetros de extensão apoiada em boias.

Os espinhéis eram estendidos em alto-mar com iscas em seus anzóis para serem depois recolhidos com os peixes. Vaske notou que, entre os animais capturados, estavam exemplares de tubarão-azul (Prionace glauca).

O pesquisador solicitou então aos pescadores o estômago dos exemplares da espécie, órgão que costumava ser descartado por eles. O objetivo era analisar os conteúdos estomacais em laboratório.

Vaske repetiu a análise na região sul do Atlântico brasileiro entre março de 2007 e março de 2008. No total, foram examinados estômagos de 222 tubarões-azuis – 116 na costa nordestina e 106 capturados na porção sul do litoral brasileiro.

O levantamento inédito no Brasil foi publicado na revista Biota Neotropica, do Programa Biota-FAPESP, e, além de contribuir para aumentar o conhecimento sobre a espécie, trouxe informações sobre uma rica fauna marinha que habita águas profundas e é muito difícil de ser coletada.

“Dos estômagos dos tubarões saem verdadeiras maravilhas, como alguns animais só encontrados em grandes profundidades”, disse à Agência FAPESP o atualmente pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) no Campus Experimental do Litoral Paulista, em São Vicente (SP).

Dotado de mecanismos que garantem resistência ao frio e às altas pressões, o tubarão-azul é capaz de descer cerca de 600 metros de profundidade. No entanto, a espécie prefere a faixa entre 150 e 200 metros abaixo da superfície. “Coletar exemplares nesses níveis de profundidade seria caro e exigiria equipamentos especiais e o tubarão-azul faz esse trabalho ao se alimentar”, disse Vaske.

Entre os animais mais encontrados durante a pesquisa estão espécies de lulas do gênero Histioteuthis, que fazem migrações verticais ao longo da coluna d’água oceânica. Essas lulas foram encontradas em tubarões coletados tanto na porção nordeste como na sul do Atlântico brasileiro.

A grande diversidade da dieta do tubarão-azul foi comprovada com a ocorrência, nos estômagos dissecados, de mamíferos marinhos, cefalópodes (lulas e polvos), vários tipos de peixes e até aves.

“A descoberta de aves na dieta foi uma surpresa. Não esperávamos encontrar pombas, por exemplo, em tubarões pescados a 120 milhas da costa”, contou Vaske. Ele chegou a retirar uma pomba que havia sido recém-engolida em alto-mar, provavelmente um animal que se perdeu do continente e ao cair na água foi engolido pelo tubarão-azul. Entre as presas mais encontradas na porção sul estavam baleias Mysticeti.

Ao todo, o estudo registrou 51 diferentes espécies de animais retirados do interior dos tubarões sendo: 20 de peixes, 24 de cefalópodes, dois crustáceos e cinco espécies de outros grupos. “Os crustáceos foram poucos porque eles são de tamanho reduzido, o que não é vantajoso energeticamente para os tubarões-azuis”, explicou.

Presente nos três grandes oceanos, Atlântico, Índico e Pacífico, além do mar Mediterrâneo, Prionace glauca é a mais abundante espécie de tubarão oceânico do planeta. Isso se deve, principalmente, à sua numerosa prole, de acordo com Vaske.

Enquanto outras espécies costumam gerar até cinco filhotes, o tubarão-azul produz entre 40 e 60 filhotes por vez. Todavia, essa característica não livrou a espécie de ser ameaçada.

O pesquisador da Unesp conta que o consumo da barbatana em países do Sudeste Asiático elevou o preço da iguaria e incentivou a pesca predatória de várias espécies de tubarão. Pesqueiros especializados costumavam decepar a barbatana e devolver as carcaças dos animais ao mar, prática que foi posteriormente proibida no Brasil.

Hoje, o tubarão-azul é catalogado como espécie “quase ameaçada” na lista vermelha da União Internacional pela Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. É o quinto nível da tabela antes da extinção da espécie.

Jornada da reprodução

O mapeamento da alimentação do tubarão-azul na costa brasileira pode ajudar a entender melhor os hábitos das suas populações do Atlântico Sul bem como estabelecer a trajetória de sua jornada para a reprodução.

A espécie perfaz um ciclo no qual percorre em sentido horário todo o Atlântico Sul aproveitando-se de correntes marinhas. O artigo de Vaske relata que a cópula é feita nas águas do litoral sul do Brasil, entre os meses de dezembro e fevereiro.

Quatro meses depois, entre abril e junho, as fêmeas ovulam e fecundam já nas águas próximas ao Nordeste. Isso ocorre porque elas têm a capacidade de armazenar o sêmen obtido no acasalamento e só liberá-lo para a fecundação posteriormente, escolhendo datas e locais favoráveis.

Do Nordeste, os grupos atravessam o Atlântico e vão maturar os embriões no Golfo da Guiné, no oeste da África, entre os meses de junho e agosto. Por fim, os novos tubarões-azuis são paridos em águas da porção sul do continente africano e sul da América do Sul até o mês de dezembro, quando o ciclo recomeça.

Durante todo esse trajeto, o tubarão-azul percorre regiões de diferentes faunas marinhas. Por esse motivo, levantar os seus hábitos alimentares também é uma maneira de conhecer e monitorar a fauna oceânica.

Lixo oceânico

O trabalho de pesquisa não encontrou somente presas naturais do tubarão-azul. Catalogados como “material antropogênico” estavam produtos que não deveriam ter sido engolidos pelos tubarões, pois são fruto da poluição dos mares.

Fazem parte desse grupo itens como laranja, maçã, abacaxi, alho, cebola, batata, ossos de galinha e materiais perigosos ao peixe, como sacolas plásticas, papelão, madeira, fios, linhas de pesca e até canetas. Em 5% dos estômagos abertos havia pelo menos um anzol de pesca.

“Como são animais muito fortes, é comum tubarões pegarem iscas de espinhéis destinadas a atuns e as arrancarem com os anzóis”, disse Vaske. Em alguns estômagos, o pesquisador chegou a encontrar até dois anzóis.

O lixo jogado nos oceanos é um grande problema, de acordo com a Sea Education Association (SEA), dos Estados Unidos. Uma pesquisa feita pela instituição durante quase duas décadas mapeou boa parte da sujeira que boiava na região do mar do Caribe e no Atlântico Norte.

Com redes de coleta acopladas a barcos, os pesquisadores norte-americanos encontraram regiões com até 200 mil pedaços de detritos por quilômetro quadrado. A área de maior concentração de lixo no Atlântico Norte, de acordo com a pesquisa, está entre os paralelos 22º e 38º, para onde as correntes marinhas levam a sujeira.

Ao anunciar esses resultados no Ocean Sciences Meeting, realizado entre os dias 22 e 26 de fevereiro em Portland, Estados Unidos, a pesquisadora da SEA, Karen Lavender Law, afirmou que a extensão dos impactos ao ambiente marinho de tanto lixo ainda é desconhecida. No entanto, já se sabe que objetos de plástico têm sido engolidos por muitos animais e prejudicado especialmente as aves marinhas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vida útil duplicada

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – O satélite francês Corot foi lançado nos últimos dias de 2006 com o objetivo de detectar exoplanetas – isto é, planetas além do Sistema Solar – e estudar a sismologia das estrelas. A missão, programada para durar três anos, foi bem-sucedida e acaba de ser prorrogada até o fim de 2012.
O projeto, que descobriu o primeiro planeta rochoso fora do Sistema Solar e em seus primeiros mil dias de duração já havia observado mais de 100 mil estrelas, tem participação direta de astrônomos brasileiros. Os dados obtidos pelo satélite são integralmente enviados à Estação de Satélites Científicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), localizada em Alcântara (MA).
Até outubro de 2009, as pesquisas do Corot haviam gerado pelo menos 55 artigos científicos, incluindo a descoberta do primeiro exoplaneta rochoso – na revista Astronomy and Astrophysics – e a primeira medição de oscilações estelares já registrada – que ganhou a capa da revista Science.
De acordo com o presidente do Comitê Corot-Brasil, que coordena a participação nacional no projeto, Eduardo Janot Pacheco, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), os resultados obtidos em ambas as vertentes da missão tiveram alto impacto científico.
“Pudemos estudar a sismologia das estrelas com uma precisão inédita e, com isso, estamos aprendendo muito sobre o funcionamento das estrelas, em especial do Sol, que é nosso principal interesse. Na outra vertente, descobrimos o menor exoplaneta até hoje e o primeiro comprovadamente rochoso – o Corot 7B –, além de inúmeros gigantes gasosos”, disse à Agência FAPESP.
A descoberta de planetas rochosos, pequenos como a Terra, é importante porque são aqueles que poderiam abrigar vida, segundo Pacheco. Mas eles não podem ser descobertos pelo método de perturbação gravitacional, como os gigantes gasosos, porque são pequenos demais para causar esse efeito.
“A única maneira de detectar os exoplanetas rochosos é o método de trânsito, utilizado pelo Corot, que registra variações na intensidade da luz que os planetas causam quando passam diante de uma estrela. Mas essa variação é de apenas um décimo milionésimo da intensidade luminosa original. O satélite precisa ter precisão e sensibilidade extremas para detectar esses eclipses quase insignificantes”, explicou.
O Corot 7B está em órbita em torno da estrela Corot 7, que está a cerca de 500 anos-luz da Terra, na constelação de Unicórnio. A estrela é ligeiramente pouco menor, mais fria e mais jovem do que o Sol. “Pela primeira vez foi comprovado que de fato existem realmente outros planetas rochosos semelhantes à Terra”, disse.
O satélite tem uma órbita peculiar, girando perpendicularmente ao equador a cerca de 850 quilômetros da superfície da Terra. Com essa órbita polar, ele pode apontar para uma região do céu durante seis meses sem que haja eclipses, observando quase 10 mil estrelas de uma vez. Depois desse período, precisa girar 180 graus para não “olhar” para o Sol, poupando seus detectores de danos irreversíveis.
“Essa dinâmica nos dá uma longa base temporal de observação. Isso é importante em especial para os estudos de sismologia estelar, pois, mudando de direção apenas duas vezes por ano, o satélite pode adquirir dados robustos sobre a pulsação das estrelas. Essa pulsação depende dos movimentos do interior da estrela e, ao estudá-la, conseguimos compreender o que se passa dentro do astro”, disse Pacheco.
O Corot leva em seu interior um reservatório de gás que fornece energia para os movimentos extras. Mas, como os movimentos são feitos apenas duas vezes por ano, ainda há gás para manter o satélite até 2012. A limitação para a vida útil não é a energia nem a durabilidade dos equipamentos, mas a disponibilidade de recursos humanos.
“O satélite mobiliza cerca de 15 engenheiros e técnicos para sua manutenção, operação e movimentação. Além disso, há equipes mobilizadas em estações espaciais de vários países participantes do programa, como a de Alcântara, no Brasil. Certamente, dentro de mais três anos as agências nacionais envolvidas com o projeto precisarão desse pessoal para outros satélites e outras missões”, apontou Pacheco.
Os dados enviados para a Terra pelo Corot são analisados por cientistas do Brasil, França, Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Holanda e Itália. Pacheco destaca que a participação no projeto é altamente vantajosa para o Brasil, que contribui com cerca de 2% do orçamento e tem acesso a 100% da pesquisa.
“É a primeira vez que o Brasil tem acesso completo às pesquisas de um satélite. Os softwares embarcados no Corot, de alta confiabilidade e alto valor agregado, foram totalmente desenvolvidos por engenheiros brasileiros, trazendo um know-how inestimável. A participação também abre portas para aumentar as parcerias com agências europeias, envolvendo formação de recursos humanos na área de pesquisa”, disse.