quinta-feira, 9 de junho de 2011

«Novo Capítulo»


Este domingo fechou-se um capítulo na história da democracia portuguesa com a saída de cena de José Sócrates e virou-se a página para um futuro - que se adivinha difícil - com Passos Coelho ao leme do Governo.
A vitória do PSD foi bastante mais clara do que se antecipava e a derrota do PS mais expressiva. Mérito para o líder social-democrata, quanto mais não seja por ter conseguido descolar após um início de (pré) campanha titubeante. Ao «silenciar» Nobre e Catroga, Passos Coelho conseguiu assumir o protagonismo que necessitava para vencer e esvaziou dois dos maiores «aliados» dos socialistas...isto apesar de uma campanha eleitoral extremamente fraca, por parte de todos.
Sócrates, obviamente, é o grande derrotado nas urnas. Após a improvável vitória de 2009, mais por demérito de Ferreira Leite, o líder socialista não conseguiu repetir o «número» e deixa o PS com o pior resultado eleitoral desde 1987 (22,24%), quando Cavaco conquistou a primeira maioria absoluta.
A verdade é que Sócrates mostrou-se gasto na campanha, em particular após debate com Passos Coelho, e só a máquina do PS conseguia disfarçar (mal) a derrota.
A eleição de hoje tem outro derrotado: Francisco Louçã. O retrocesso do Bloco para os níveis de 2005 numa conjuntura favorável aos partidos que se alimentam do voto de protesto pode indicar o princípio do fim do BE, um case-study para politólogos em que trotskistas, maoístas e outros istas andavam todos juntos numa união contra-natura.
Para Paulo Portas, o veterano dos líderes partidários nacionais, os resultados têm um sabor agridoce, com uma subida nos resultados mas com o PSD a conseguir números muito acima do desejado pelos democratas-cristãos. O peso negocial do CDS-PP fica aquém das expectativas de Portas...
Jerónimo de Sousa conduziu a CDU a mais um resultado consistente com o bónus de ultrapassar o BE.
Quem certamente suspirou de alívio foi Cavaco Silva, que poderia ter um cenário catastrófico na segunda-feira com PSD e CDS-PP a não conseguirem maioria absoluta e a necessitarem de um PS com quem se recusavam a colaborar...
Uma nota ainda para a abstenção, a mais elevada de sempre em legislativas, sinal de que o divórcio entre eleitores e eleitos não cessa de crescer. Para muitos portugueses, a paciência esgotou-se para enfrentar as eleições com a lógica do «mal menor». Não vão votar, pura e simplesmente.
Agora chegou a altura de ver o que Passos Coelho vale como líder de Governo. Primeiro, exige-se-lhe que escolha um Executivo com qualidade; segundo, que apresente um programa de governação coerente com o que prometeu; terceiro; que saiba travar os apetites por todo o tipo de cargos entre as hostes laranjas. Ah, e já agora, que mostre firmeza perante aquela figura ímpar que reina na Madeira. 

 Pedro Curvelo

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